São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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Longo processo de apuração depende de burros

DO ENVIADO A CABUL

A grande discrepância dos números entre candidatos e a consequente relutância das autoridades eleitorais de falar em números se explicam pelo bizantino processo de apuração afegão.
Uma vez encerrada a votação, cada seção eleitoral abriu suas urnas e esparramou no chão as cédulas (do tamanho de duas folhas de papel A4) para a contagem.
Encerrada a contagem, os mesários escrevem o resultado à mão em duas fichas. Uma é colada na parede do lado de fora da sala de votação, e outra é jogada dentro da urna com todos os votos daquela seção.
Lacrada, a urna segue para a Central de Apuração de Cabul. Se houver queixas específicas de candidatos sobre seções, o que pode ocorrer nas próximas duas semanas, as urnas estarão à disposição para checagem.
Imagine isso com 95 mil caixas espalhadas por um país com desertos, vales e muitas, muitas montanhas. Não é casual que 3.000 burros tenham sido alugados para levar e trazer urnas a cantos remotos do nordeste afegão.
Assim, os resultados do país todo serão somados em Cabul, com a primeira parcial sendo divulgada na terça que vem, a parcial final no dia 3 de setembro e o resultado consolidado, após checagem de queixas, no dia 17 do mês que vem.
O processo todo pode ser acompanhado por fiscais dos candidatos e observadores domésticos ou internacionais. Naturalmente, não há gente para 6.199 pontos de votação em locais com graus de segurança sempre variando de aceitáveis a impraticáveis.
À Folha, candidatos reclamaram de dificuldade de acesso e suposta fraude. "Fiscais meus não puderam nem entrar na sala de votação na região sul", afirmou Abdullah Abdullah. "Na seção onde eu fui votar com 12 pessoas da minha família, tive apenas três votos. Como pode isso?", disse o minoritário Sarwar Ahmedzai.
Descontando um descontentamento familiar em massa, sua queixa faz sentido. Em outra escola, essa na rua de sua casa no distrito cabulita de Kart-e-Char, Amhedzai não aparece como votado em uma das seções e ganha dois votos em outra. "Minha família mora nesse bairro, oras", diz. (IG)


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