São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Bagdá ameaça não cooperar com Nações Unidas; Pentágono já enviou a Bush plano de ataque militar

Iraque diz rejeitar nova resolução da ONU

DA REDAÇÃO

O Iraque declarou ontem que não aceitará uma nova resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU (Organização das Nações Unidas) que contrarie um suposto acordo que teria sido fechado entre o país e o secretário-geral da entidade, Kofi Annan.
O anúncio, divulgado pela rádio estatal de Bagdá, não deu detalhes sobre que acordo teria sido alcançado entre o Iraque e Annan. A ONU não se manifestou e, pelo que se sabe até o momento, não houve acordo entre Kofi Annan e o regime de Saddam Hussein.
Na última segunda-feira, Bagdá, sob ameaça de um ataque dos EUA, enviou uma carta a Annan na qual dizia aceitar incondicionalmente o retorno das inspeções de armamentos da ONU ao país.
As inspeções foram impostas pelo CS da ONU após a derrota do Iraque na Guerra do Golfo (1991) com o objetivo de fiscalizar e eliminar os arsenais de armas de destruição em massa do país.
Em 98, os inspetores foram expulsos do Iraque, acusados de espionar para os EUA. Nos últimos meses, os EUA têm ameaçado atacar o Iraque, sob o argumento de que Saddam não cumpre as resoluções que determinam o desarmamento do país.
A mudança de atitude iraquiana, permitindo o retorno das inspeções, teria sido tomada após o regime de Saddam ter percebido que os EUA estavam conseguindo convencer importantes líderes, inclusive de países árabes como a Arábia Saudita e o Egito, da necessidade de agir militarmente devido ao bloqueio das inspeções.
A Arábia Saudita, vizinha ao Iraque, sinalizou que poderia liberar o uso de suas bases militares por forças americanas se a ONU aprovasse uma ação militar.
Os EUA, no entanto, não aceitaram o recuo iraquiano e exigem que o CS da ONU aprove uma resolução autorizando um ataque ao Iraque caso o país não coopere totalmente com as novas inspeções, que devem começar em algumas semanas.
"O Iraque anuncia que não cooperará com uma nova resolução que seja diferente do que foi acordado com o secretário-geral", anunciou declaração divulgada após reunião de cúpula do regime iraquiano, da qual o próprio Saddam teria participado.
O CS da ONU deve se reunir nos próximos dias para analisar a situação, mas o presidente George W. Bush já alertou que os EUA estão dispostos a agir se a ONU não atuar com firmeza.
Para aprovar uma nova resolução, os EUA necessitam do apoio de nove dos 15 países que integram o Conselho de Segurança. EUA, Reino Unido, França, Rússia e China são membros permanentes e têm direito a veto. O Reino Unido apóia os EUA, mas a Rússia não considera necessário aprovar uma nova resolução e defende o retorno rápido dos inspetores. França e China são reticentes a apoiar uma resolução que autorize um ataque militar.

Bush já tem plano de ataque
Segundo o "The New York Times", o Pentágono (comando militar dos EUA) entregou a Bush, no início de setembro, um plano detalhado de ataque ao Iraque.
O jornal não teve acesso a detalhes, mas diz que o ataque começaria com uma campanha de bombardeios aéreos seguida da entrada em ação de milhares de marines e soldados a partir do vizinho Kuait e, talvez, de outros países da região.
Os meses mais frios de janeiro e fevereiro seriam os mais adequados a uma ação militar, que teria como objetivo derrubar Saddam. Ontem, o general Tommy Franks, que deverá ser responsável por uma eventual ação militar, visitou tropas americanas no Kuait, onde os EUA realizarão exercícios militares nos próximos dias.
Segundo o jornal britânico "The Times", os EUA analisam a veracidade de um documento obtido pelo país no qual Saddam autorizaria seus comandantes militares a utilizar armas químicas contra forças invasoras dos EUA.
Se os EUA concluírem que o suposto documento é verídico, poderiam apresentá-lo à ONU como prova de que Saddam possui armas químicas e pretende usá-las caso se sinta ameaçado. A Rússia admite apoiar uma ação militar se for provado que o Iraque possui armas do tipo. Em discurso na ONU, o chanceler iraquiano, Naji Sabri, negou que o Iraque possua armas de destruição em massa.
Na próxima terça-feira, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, promete divulgar documento que conteria provas contra o regime de Saddam Hussein.


Com agência internacionais

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