São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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Empresários são arma contra o desemprego

DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O chanceler (premiê) Gerhard Schröder (SPD) e seu maior oponente na disputa eleitoral, Edmund Stoiber (CDU/CSU), têm cartas na manga no que se refere ao mais grave problema alemão atual, o desemprego: duas figuras de ponta do mundo empresarial.
Há alguns meses, quando ainda estava bem atrás nas pesquisas de intenção de voto, Schröder convidou seu amigo pessoal Peter Hartz, diretor de pessoal da Volkswagen, para comandar uma comissão de especialistas que proporia um plano de combate ao desemprego. Este foi divulgado em agosto e deverá começar a ser implantado em breve se o chanceler for reeleito no pleito de hoje.
Stoiber, por sua vez, que enfrenta forte rejeição no leste do país, região mais duramente atingida pelo desemprego (17,7% em média -contra 7,8% no restante da Alemanha), tem em sua equipe o ex-governador do rico Estado de Baden-Wurttemberg Wolfgang Späth. Como executivo de ótima reputação, ele foi responsável pela transição da empresa de alta tecnologia ótica (lentes etc.) Zeiss, situada em Jena (leste), para a economia de mercado.
"O Plano Hartz desempenha um papel político importante, pois torna Schröder mais crível no que concerne ao combate ao desemprego, o calcanhar-de-aquiles de sua administração. Trata-se de propostas que ultrapassam as paixões partidárias e que podem convencer tanto as indústrias quanto os sindicatos a participar de uma tentativa de retomada de crescimento econômico, reduzindo o desemprego", afirmou à Folha Manfred Nitsch, especialista em economia política da Universidade Livre de Berlim.
"Späth é muito bem-visto em várias cidades do leste do país porque conseguiu colocar a Zeiss, uma das mais tradicionais e reputadas empresas da Alemanha, em condições de participar ativamente da economia de mercado sem que o número de seus empregados fosse muito reduzido", apontou Anne-Marie Le Gloannec, do Centro Marc Bloch, um instituto de pesquisas franco-alemão situado em Berlim.
Contudo, como sempre nesse tipo de situação, não faltam críticas aos coringas dos dois candidatos. "O Plano Hartz inclui algumas propostas úteis, mas não prevê mudanças significativas no restritivo mercado de trabalho nem reduções das contribuições sociais das empresas, sem o que elas continuarão sobrecarregadas", explicou Juergen Michels, analista do Citigroup.
"A recuperação da Zeiss custou caro. E Späth foi obrigado a renunciar ao governo de Baden-Wurttemberg por conta de denúncias de ter aceito vôos gratuitos de algumas empresas. Ademais, ele já é bastante idoso, e fala-se muito que ele nem assumiria o Ministério da Economia e do Trabalho, o que, é lógico, Stoiber desmente", afirmou Nitsch.
Uma coisa é certa: a sociedade alemã é avessa a mudanças drásticas e não aceitará reformas que ponham em risco os ganhos sociais conquistados progressivamente desde o século 19. (MSM)


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