São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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Verdes se resumem a Joschka Fischer

RODRIGO UCHOA
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Uma música bávara ao fundo e Joschka Fischer fazendo careta, ironizando Edmund Stoiber e os conservadores. Depois, com uma música mais "moderna", ele repete slogans do partido. Esse é apenas um exemplo da propaganda que os Verdes vêm vinculando para explorar o apelo eleitoral do maior expoente do partido, o ministro das Relações Exteriores.
"Ministro por fora, Verde por dentro", mostram os letreiros dos cartazes espalhados pelo país.
"Ele é sem dúvida o esteio de nossa campanha", afirma Reinhard Bütikofer, secretário-geral dos Verdes. Bütikofer diz que usar o ministro como base da campanha é sim um modo de capitalizar com a popularidade de Fischer, tido como o político mais carismático da Alemanha, mas também de mostrar que o partido é viável em suas propostas, pois já faz parte do governo desde 1998.
O dirigente explica que o humor é essencial para continuar cativando o eleitorado do partido, composto em mais de 60% de pessoas de até 30 anos -60% desses eleitores são mulheres.
Fischer, o modelo de "humor e jovialidade", é hoje um senhor de 54 anos, Ele está desde 1983 na vida política, quando foi eleito pela primeira vez deputado.
Fischer foi o primeiro verde a assumir um cargo executivo relevante, quando aceitou a Secretaria do Meio Ambiente de Hesse, um Estado do centro-sul do país.
Filho de um açougueiro de origem húngara, Joschka Fischer abandonou a escola ainda antes de completar o segundo grau, com 19 anos.
Teve um início de carreira radical. Há pouco tempo, teve de pedir desculpas públicas por ter batido em um policial durante uma manifestação de rua em 1973. Depois disso, quando já na vida pública, derivou para a facção dos "realo", como se denominam os "realistas" dos Verdes.
"Estamos confiantes de que superaremos os votos dos liberais e de que o governo "rubro-verde" continuará", diz Bütikofer.
Porém as coisas não são tão azuis como pode tentar fazer crer o dirigente dos Verdes. Uma onda de criticismo entre os tradicionais eleitores teve início depois que tropas alemãs foram usadas na campanha de Kosovo.
"Foi um choque para mim e me fez repensar o próximo voto", afirma Irina Speisser, 24, uma universitária berlinense que se define como eleitora dos Verdes "desde sempre". "Mas eu gosto de Fischer", completa.
Para um partido pacifista, foi difícil convencer os eleitores de que o princípio quase dogmático de não-intervenção militar deveria ser superado.
Mais difícil está sendo explicar como seria uma eventual participação numa campanha contra o Iraque, se os EUA iniciarem o ataque. "O ataque seria legítimo se o Conselho de Segurança das Nações Unidas decidisse que essa seria a única maneira de para a produção de armas de destruição em massa por parte do regime de Saddam Hussein. Entretanto não haveria a presença de tropas alemãs", afirma Bütikofer.


O jornalista Rodrigo Uchoa viajou a convite do governo alemão


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