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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Após patrocinar candidatura de general democrata, ex-presidente defende papel mais ativo para ONU

Clinton pede mudança de rumo no Iraque

DA REDAÇÃO

O ex-presidente norte-americano Bill Clinton (democrata) disse ontem que os EUA não devem tentar dominar o Iraque e defendeu que a ONU tenha uma papel maior na estabilização do país.
"Nós devemos ter um papel e devemos colocar muito dinheiro ali [no Iraque], mas não deveríamos dominar", disse, em visita aos Emirados Árabes Unidos. "O que nós precisamos é que a ONU supervisione a situação da segurança e que a Otan [aliança militar ocidental] seja usada como instrumento", afirmou o ex-presidente. "Assim, pareceria menos uma ocupação", acrescentou.
Com essa declaração, Clinton rompe o relativo silêncio que vinha mantendo acerca da ocupação do Iraque, cujos custos financeiros e humanos para os EUA ameaçam tornar-se o calcanhar-de-aquiles da administração republicana de George W. Bush na campanha pela reeleição em 2004.
A posição de Clinton de dar maior importância para a ONU no processo de estabilização se aproxima mais do que dizem países como a França e a Alemanha do que da linha oficial dos EUA, de manter o controle político e militar sobre o país.
Os EUA vêm perdendo soldados quase que diariamente em emboscadas preparadas por iraquianos descontentes com a ocupação americana. Outra preocupação da Casa Branca é com os custos da guerra. Cada semana de permanência dos cerca de 130 mil soldados norte-americanos na região sai por cerca de US$ 1 bilhão. Bush acaba de pedir ao Congresso mais US$ 87 bilhões para cobrir os gastos do pós-guerra.
A pressão é tanta que Bush voltou atrás em sua posição inicial e decidiu pedir ao Conselho de Segurança da ONU que aprove a criação de uma força multinacional para o Iraque. Com isso, espera conseguir alguns milhares de soldados de várias nacionalidades para auxiliar os militares norte-americanos e alguma ajuda financeira para a reconstrução do país.
Para aprovar a resolução, França e Alemanha exigem que Washington ceda mais poder para a ONU. As discussões sobre o Iraque dominarão a Assembléia Geral da ONU, que reunirá, em Nova York, nesta semana alguns dos principais líderes mundiais.
É muito provável que as declarações de Clinton tenham um componente eleitoral. Clinton e sua mulher, a senadora democrata por Nova York, Hillary, são apontados como patronos da candidatura do general Wesley K. Clark às prévias presidenciais do Partido Democrata (na oposição).
Clark, que é general do Exército dos EUA e foi comandante da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), apesar de ter lançado sua candidatura há apenas uma semana, já aparece em primeiro lugar entre os dez postulantes democratas. Segundo pesquisa da revista "Newsweek" divulgada no fim de semana, ele tem 14%, contra 12% de Howard Dean e de Joe Lieberman.
Mais importante talvez seja um outro dado da sondagem: num embate com Bush, o presidente fica com 47% das preferências e Clark com 43%. A diferença de apenas 4 pontos torna-se ainda menor quando se considera que, além das graves dificuldades no Iraque, Bush não parece contar com um cenário econômico muito favorável. Embora muitos analistas apostem numa recuperação, afirmam que ela deverá ser lenta e que não será acompanhada pela criação de muitos empregos.
Embora Bush, que já gozou de índices altíssimos de popularidade depois do 11 de Setembro, da guerra no Afeganistão e mesmo após a vitória no Iraque, ainda seja o favorito no pleito do ano que vem, os democratas já não consideram derrotá-lo uma missão quase impossível.
É nesse contexto que o lançamento da candidatura de Clark e as declarações de Clinton ganham importância. Se o Partido Democrata pretende mesmo voltar à Casa Branca, precisa antes de mais nada apresentar uma candidatura sólida. Em termos de viabilidade eleitoral, Clark tem algumas vantagens sobre seus concorrentes: não é tido por excessivamente liberal nem visto como um representante de minoria étnica.
Mais importante, porém, pode ser o fato de que Clark, por ser um militar graduado e poder ostentar a experiência de já ter comandado a Otan, não teria muitos problemas para enfrentar Bush no campo em que ele é mais forte: a imagem de ser alguém capaz de combater o terrorismo.


Com agências internacionais.


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