São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Damasco mantém os soldados no Líbano

Sob pressão da ONU e dos EUA, Síria remove 3.000 militares de Beirute

GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO

Em meio a uma crescente pressão internacional para encerrar a ocupação do território libanês, a Síria anunciou ontem a redistribuição de até 3.000 militares de um total de 20 mil que mantém no Líbano. Os soldados devem ser removidos dos arredores de Beirute para a região do vale do Bekaa, perto da fronteira entre os dois países -uma tradicional zona de influência de Damasco.
A medida visa esvaziar as recentes ações externas que têm como objetivo principal a retirada das tropas sírias do território libanês e o fim do controle político que Damasco exerce sobre Beirute.
Desde maio, quando o Congresso dos EUA aprovou um texto impondo sanções econômicas brandas à Síria até o país sair do Líbano e encerrar o seu apoio ao grupo islâmico libanês Hizbollah -considerado terrorista pelos americanos-, o regime vem sendo pressionado continuamente a acabar com a ocupação.
A pressão se intensificou neste mês. No dia 2, o Conselho de Segurança da ONU aprovou resolução apresentada por EUA e França exigindo que as forças estrangeiras -no caso a Síria- se retirassem do Líbano.
Horas mais tarde, veio o contra-ataque: o Parlamento libanês ignorou a votação no CS e prorrogou o mandato do presidente pró-Síria, o cristão maronita Emile Lahoud, por mais três anos. As eleições seriam neste ano.
Os americanos então decidiram agir com mais dureza. William Burns, enviado dos EUA ao Oriente Médio, esteve no dia 11 em Damasco para se reunir com o ditador sírio, Bashar al Assad. Burns saiu da reunião afirmando que a "Síria deve encerrar a sua interferência nos assuntos internos do Líbano".
A Síria nega ter cedido a pressões, afirmando que a ação de ontem foi acordada com o Líbano, segundo o ministro da Informação sírio, Ahmad al Hassan.
O presidente Lahoud, na verdade um preposto de Damasco no Líbano, agradeceu a Síria "por manter a unidade e a integridade territorial do Líbano".
O Departamento de Estado dos EUA afirmou que a redistribuição das tropas sírias não cumpre a resolução da ONU.
O professor Rachid Khalidi, diretor do Instituto de Oriente Médio da Universidade Columbia, disse à Folha que a Síria não sairá do Líbano enquanto "não chegar a um acordo de paz com Israel que defina o destino das colinas do Golã [ocupadas na guerra árabe-israelense de 1967]". Na avaliação do professor, a Síria usaria o Líbano como trunfo em uma negociação com Israel.
No fim da guerra civil libanesa, às vésperas da Guerra do Golfo, a posição síria para se manter no Líbano era mais forte porque os sírios apoiaram os EUA na empreitada militar e Israel ainda ocupava o sul do Líbano -país este que tentava se estabilizar após 15 anos de destruição, sendo necessária uma ajuda externa.
Hoje não há mais israelenses no sul do Líbano -nas mãos do Hizbollah-, o país está reconstruído e a Síria não apoiou os EUA na derrubada de Saddam Hussein.
O certo, por enquanto, de acordo com Khalidi, de Columbia, é que nas ruas de Beirute o apoio à presença síria é cada vez mais fraco, inclusive entre os islâmicos.


Com agências internacionais


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