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TRAGÉDIA NO CARIBE
Número de corpos ultrapassa 700; acesso precário à região atingida dificulta ajuda humanitária
Crianças são maioria entre mortos no Haiti
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
As inundações provocadas pelo
furacão Jeanne na região de Gonaives no último final de semana
já haviam causado até ontem à
tarde a morte de pelo menos 700
haitianos, informou a ONU. Segundo a missão militar argentina,
responsável pela área, a maioria
dos mortos são crianças.
A expectativa é que o total de
mortes cresça, pois cerca de 20%
da cidade, terceira maior do país,
continuava submersa ontem.
Estima-se que o número ainda
deva aumentar devido à estimativa de cerca de mil desaparecidos e
ao fato de que muitos corpos ainda devem estar embaixo d'água.
A preocupação da Minustah
(Missão da ONU de Estabilização
no Haiti) agora é atender à população da cidade de 200 mil habitantes. Há falta de água e alimentos, além do risco de epidemias
com a decomposição dos corpos e
o acúmulo de água parada.
Também é alto o número de desabrigados -segundo a Minustah, 4.000 casas foram destruídas.
O acesso por terra a Gonaives,
precário antes mesmo da inundação, deve atrasar a chegada de ajuda. Comboio de três caminhões
com alimentos e medicamentos
que saiu de Porto Príncipe escoltado por soldados brasileiros levou dois dias para percorrer os
170 km entre as duas cidades.
Hoje, está prevista a chegada de
mais um comboio com 12 caminhões e cerca de 40 toneladas de
alimento.
Outra missão, formada por uma
rede de ONGs, partiria hoje de
Porto Príncipe com ajuda dirigida
à população carcerária e aos jornalistas -falta até caneta.
A comunidade internacional
também está se mobilizando. O
Brasil envia hoje um carregamento de medicamentos dentro de
um vôo militar já previsto. França, Argentina, Venezuela, EUA e
outros países também anunciaram envio de recursos e artigos de
primeira necessidade.
A missão argentina, que mantém cerca de 450 militares na região, montou postos em várias regiões da cidade para a distribuição de ajuda à população.
"A primeira necessidade é de
água e comida. Em segundo lugar, colchões e sapatos, porque as
pessoas andam descalças pelas
ruas alagadas, e muitos dos feridos que temos atendido se machucaram na região do pé porque
a água estava pela cintura", disse à
Folha por telefone o tenente-coronel argentino Reuter.
Metade do acampamento argentino foi inundado e destruído.
Ontem, engenheiros da ONU foram a Gonaives para os trabalhos
de reconstrução da base. "Estamos trabalhando com os meios
que nos sobraram", disse Reuter.
Crianças
Há dois meses na cidade, o militar argentino disse que o mais
chocante foram os corpos de
crianças. "Num lugar, havia muitas crianças de até 10 anos flutuando sobre as ruas". A missão
estima que mais de 50% dos mortos sejam até essa idade.
"A situação aqui é tão grave que
justifica qualquer tipo de ajuda",
disse Reuter.
Ontem, os sobreviventes da tragédia vagueavam pelas ruas em
busca de alimentos. Vários deixaram Gonaives rumo a Porto Príncipe e outras cidades do país.
Aos poucos, a comunicação
vem sendo restabelecida no país,
o mais pobre das Américas. Ontem, a falta de acesso à ilha La
Tortue, no norte do país, gerou o
boato que seus 180 quilômetros
quadrados e 26 mil habitantes haviam desaparecido -informação
desmentida no início da tarde.
Com agências internacionais
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