São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRAGÉDIA NO CARIBE

Número de corpos ultrapassa 700; acesso precário à região atingida dificulta ajuda humanitária

Crianças são maioria entre mortos no Haiti

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

As inundações provocadas pelo furacão Jeanne na região de Gonaives no último final de semana já haviam causado até ontem à tarde a morte de pelo menos 700 haitianos, informou a ONU. Segundo a missão militar argentina, responsável pela área, a maioria dos mortos são crianças.
A expectativa é que o total de mortes cresça, pois cerca de 20% da cidade, terceira maior do país, continuava submersa ontem.
Estima-se que o número ainda deva aumentar devido à estimativa de cerca de mil desaparecidos e ao fato de que muitos corpos ainda devem estar embaixo d'água.
A preocupação da Minustah (Missão da ONU de Estabilização no Haiti) agora é atender à população da cidade de 200 mil habitantes. Há falta de água e alimentos, além do risco de epidemias com a decomposição dos corpos e o acúmulo de água parada.
Também é alto o número de desabrigados -segundo a Minustah, 4.000 casas foram destruídas.
O acesso por terra a Gonaives, precário antes mesmo da inundação, deve atrasar a chegada de ajuda. Comboio de três caminhões com alimentos e medicamentos que saiu de Porto Príncipe escoltado por soldados brasileiros levou dois dias para percorrer os 170 km entre as duas cidades.
Hoje, está prevista a chegada de mais um comboio com 12 caminhões e cerca de 40 toneladas de alimento.
Outra missão, formada por uma rede de ONGs, partiria hoje de Porto Príncipe com ajuda dirigida à população carcerária e aos jornalistas -falta até caneta.
A comunidade internacional também está se mobilizando. O Brasil envia hoje um carregamento de medicamentos dentro de um vôo militar já previsto. França, Argentina, Venezuela, EUA e outros países também anunciaram envio de recursos e artigos de primeira necessidade.
A missão argentina, que mantém cerca de 450 militares na região, montou postos em várias regiões da cidade para a distribuição de ajuda à população.
"A primeira necessidade é de água e comida. Em segundo lugar, colchões e sapatos, porque as pessoas andam descalças pelas ruas alagadas, e muitos dos feridos que temos atendido se machucaram na região do pé porque a água estava pela cintura", disse à Folha por telefone o tenente-coronel argentino Reuter.
Metade do acampamento argentino foi inundado e destruído. Ontem, engenheiros da ONU foram a Gonaives para os trabalhos de reconstrução da base. "Estamos trabalhando com os meios que nos sobraram", disse Reuter.

Crianças
Há dois meses na cidade, o militar argentino disse que o mais chocante foram os corpos de crianças. "Num lugar, havia muitas crianças de até 10 anos flutuando sobre as ruas". A missão estima que mais de 50% dos mortos sejam até essa idade.
"A situação aqui é tão grave que justifica qualquer tipo de ajuda", disse Reuter.
Ontem, os sobreviventes da tragédia vagueavam pelas ruas em busca de alimentos. Vários deixaram Gonaives rumo a Porto Príncipe e outras cidades do país.
Aos poucos, a comunicação vem sendo restabelecida no país, o mais pobre das Américas. Ontem, a falta de acesso à ilha La Tortue, no norte do país, gerou o boato que seus 180 quilômetros quadrados e 26 mil habitantes haviam desaparecido -informação desmentida no início da tarde.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Líbano: Ataque contra Embaixada da Itália é abortado
Próximo Texto: Temporada de furacões pode ser apenas acaso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.