São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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Convite a Rumsfeld revolta campus na Califórnia

Alunos e professores de Stanford protestam após indicação de ex-secretário da Defesa de Bush como pesquisador

Republicano, um arquiteto da Guerra do Iraque, será consultor sobre ideologia em instituição conservadora ligada à universidade

JONATHAN D. GLATER
DO "NEW YORK TIMES"

A indicação do ex-secretário da Defesa norte-americano Donald Rumsfeld como pesquisador associado ("fellow") da Hoover Institution causou protestos entre professores e alunos da Universidade de Stanford, na Califórnia, e ameaça acirrar as tensões entre a instituição de pesquisa, de inclinação conservadora, e o espírito liberal que domina o campus.
Cerca de 2.100 professores, funcionários, alunos e ex-alunos assinaram uma petição on-line em protesto contra a indicação de Rumsfeld, cujas funções envolveriam servir como consultor para um grupo de trabalho sobre ideologia e terrorismo. Muitos deles dizem que o posto não deveria ser oferecido a ele devido ao papel que exerceu na guerra no Iraque.
"Consideramos a indicação incompatível com os valores éticos de veracidade, tolerância, pesquisa imparcial, respeito pelas leis nacionais e internacionais e apreço pelas opiniões, propriedades e vidas de terceiros para com os quais Stanford tem um compromisso inalienável", diz a petição.
"É inaceitável termos a presença de alguém que represente os valores identificados com Rumsfeld em um ambiente acadêmico", disse Philip Zimbardo, professor emérito de psicologia e responsável por uma famosa experiência psicológica em Stanford, em 1971, na qual constatou que alunos que interpretavam o papel de guardas de prisão tornavam-se sádicos em relação a alunos que interpretavam prisioneiros.
Em seu mais novo livro, ele critica Rumsfeld, o presidente George W. Bush e o vice-presidente Dick Cheney pela adoção de políticas que, a seu ver, contribuíram para os maus-tratos e a tortura de detentos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque.

"Especialista"
John Raisian, diretor da Hoover, defendeu a indicação alegando que Rumsfeld é especialista nos temas que o grupo de trabalho estudará. "Eu o indiquei porque ele tem três décadas de experiência e de serviços notáveis ao país, especialmente nos últimos anos, no que concerne à questão da ideologia e do terrorismo", disse.
Indicações de curto prazo como essa -a de Rumsfeld vale por um ano- pela instituição ou por um departamento acadêmico não requerem o mesmo processo extenso que a concessão de uma cátedra. Jeffrey Wachtel, assistente-sênior do reitor de Stanford, disse que a universidade "não julga seus departamentos" quanto a quem eles convidam e que, pela liberdade de expressão, reluta em coibir "fellows".
A Hoover sempre teve uma relação estreita com governos republicanos como o de Bush.
Como outras escolas de pós-graduação, ela opera de maneira independente da universidade, dotada de verbas e mecanismos de arrecadação próprios, mas é parte de Stanford. Rumsfeld não lecionará e provavelmente fará de três a cinco visitas ao campus para aconselhar o grupo de estudo, cujos membros incluem o ex-secretário de Estado George Shultz e e o estudioso de Oriente Médio Fouad Adami.
Alguns alunos dizem que, embora discordem das políticas de Rumsfeld, estão curiosos quanto ao que ele teria a dizer. Já os que se opõem à indicação ainda planejam os protestos que farão após o início das aulas, na próxima semana.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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