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Foco
Campanha inédita contra mutilação genital de meninas une egípcios
MICHAEL SLACKMAN
DO "NEW YORK TIMES"
EM KAFR AL MANSHI ABOU HAMAR
Os homens nessa comunidade rural pobre estavam furiosos. Uma garota de 13 anos
tinha sido levada a um consultório médico para ser submetida à excisão do clitóris, cirurgia vista no Egito como necessária para preservar a castidade e a honra das mulheres. A
menina morreu, mas não foi
esse o motivo do ultraje. Após
sua morte, o governo fechou a
clínica que fizera a cirurgia, e
isso irritou a população.
"Eles não vão nos impedir!",
gritou Saad Yehia, dono de
uma casa de chá na rua principal da cidade.
A circuncisão, como a chamam seus defensores, ou mutilação genital feminina, como
a descrevem os adversários da
prática, virou tema de discussões acirradas no Egito neste
ano. Uma campanha nacional
para acabar com a prática tornou-se um dos movimentos
sociais mais fortes vistos no
país há décadas, unindo setores numa aliança incomum
entre forças governamentais,
lideranças religiosas oficiais e
ativistas populares.
O Ministério da Saúde egípcio ordenou o fim da prática
em 1996, mas permitiu exceções em casos de emergência
-uma brecha descrita por críticos como tão ampla que, na
prática, tornou a proibição
inútil. Mas agora o governo
procura implementar um veto
abrangente.
O ministro da Saúde lançou
um decreto proibindo trabalhadores do setor da saúde
-ou qualquer outra pessoa-
de realizar o procedimento.
Além disso, o Ministério dos
Assuntos Religiosos lançou
um folheto explicando por que
o islã não exige a prática.
Mas transformações sociais
amplas demoram a se processar no Egito. Trata-se de um
país conservador, religioso e,
para muitos, guiado em grande medida pelas tradições.
Prática antiga
Há séculos as meninas egípcias, geralmente entre os 7 e 13
anos de idade, vêm sendo submetidas ao procedimento. Em
2005, uma pesquisa mostrou
que 96% das milhares de mulheres casadas, divorciadas e
viúvas entrevistadas disseram
ter passado pela excisão.
Mas agora as forças que se
opõem à mutilação genital no
Egito estão lutando como
nunca. Pela primeira vez, estão-se noticiando ativamente
cirurgias fracassadas. O médico Nasr el Sayyid, assistente
do ministro da Saúde, disse
que o número de cirurgias já
vem caindo nas áreas urbanas.
Ainda assim, os defensores
da causa precisam persuadir
um público ainda cético de
que os homens vão aceitar se
casar com mulheres que não
tenham sido submetidas ao
procedimento e que a circuncisão não é necessária para
preservar a honra da família.
Tradução de CLARA ALLAIN
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