São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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Foco

Campanha inédita contra mutilação genital de meninas une egípcios

MICHAEL SLACKMAN
DO "NEW YORK TIMES"
EM KAFR AL MANSHI ABOU HAMAR


Os homens nessa comunidade rural pobre estavam furiosos. Uma garota de 13 anos tinha sido levada a um consultório médico para ser submetida à excisão do clitóris, cirurgia vista no Egito como necessária para preservar a castidade e a honra das mulheres. A menina morreu, mas não foi esse o motivo do ultraje. Após sua morte, o governo fechou a clínica que fizera a cirurgia, e isso irritou a população.
"Eles não vão nos impedir!", gritou Saad Yehia, dono de uma casa de chá na rua principal da cidade.
A circuncisão, como a chamam seus defensores, ou mutilação genital feminina, como a descrevem os adversários da prática, virou tema de discussões acirradas no Egito neste ano. Uma campanha nacional para acabar com a prática tornou-se um dos movimentos sociais mais fortes vistos no país há décadas, unindo setores numa aliança incomum entre forças governamentais, lideranças religiosas oficiais e ativistas populares.
O Ministério da Saúde egípcio ordenou o fim da prática em 1996, mas permitiu exceções em casos de emergência -uma brecha descrita por críticos como tão ampla que, na prática, tornou a proibição inútil. Mas agora o governo procura implementar um veto abrangente.
O ministro da Saúde lançou um decreto proibindo trabalhadores do setor da saúde -ou qualquer outra pessoa- de realizar o procedimento. Além disso, o Ministério dos Assuntos Religiosos lançou um folheto explicando por que o islã não exige a prática.
Mas transformações sociais amplas demoram a se processar no Egito. Trata-se de um país conservador, religioso e, para muitos, guiado em grande medida pelas tradições.

Prática antiga
Há séculos as meninas egípcias, geralmente entre os 7 e 13 anos de idade, vêm sendo submetidas ao procedimento. Em 2005, uma pesquisa mostrou que 96% das milhares de mulheres casadas, divorciadas e viúvas entrevistadas disseram ter passado pela excisão.
Mas agora as forças que se opõem à mutilação genital no Egito estão lutando como nunca. Pela primeira vez, estão-se noticiando ativamente cirurgias fracassadas. O médico Nasr el Sayyid, assistente do ministro da Saúde, disse que o número de cirurgias já vem caindo nas áreas urbanas.
Ainda assim, os defensores da causa precisam persuadir um público ainda cético de que os homens vão aceitar se casar com mulheres que não tenham sido submetidas ao procedimento e que a circuncisão não é necessária para preservar a honra da família.


Tradução de CLARA ALLAIN


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