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China se adianta ao FMI e empresta US$ 5 bi ao Congo
Em troca, Pequim deverá ter acesso privilegiado a recursos minerais do país africano
Transação inquieta as mineradoras e instituições financeiras internacionais; dinheiro será usado em obras de infra-estrutura
WILLIAM WALLIS E REBECCA BREAM
DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES
Mineradoras, o Fundo Monetário Internacional e outras
instituições doadoras se apressam a buscar maiores informações sobre um contrato negociado entre a China e a República Democrática do Congo.
O acordo amarraria recursos
minerais em troca de US$ 5 bilhões em empréstimos e obras
de infra-estrutura. Um acordo
preliminar foi assinado nesta
semana, justamente quando
uma missão do FMI desembarcava em Kinshasa para rever os
avanços em direção à retomada
do apoio ao Congo.
O FMI, o Banco Mundial e o
Banco de Desenvolvimento
Africano parecem ter sido pegos de surpresa pela escala e o
timing dos planos chineses.
Estes chegam numa etapa
delicada das negociações do
Congo com vista ao perdão da
dívida acumulada no governo
do falecido ditador Mobutu Sese Seko, que totaliza US$ 8 bilhões, o equivalente a 800% das
exportações do país.
Cobre e cobalto
Empresas de mineração ocidentais, que aguardavam os resultados de uma revisão governamental de cerca de 60 contratos fechados durante a guerra civil recente, também buscam maiores esclarecimentos
do governo de Kinshasa.
A região congolesa de Katanga possui alguns dos melhores
depósitos mundiais de cobre e
cobalto. Outras áreas do país
possuem fontes ricas de minerais diversos, incluindo diamantes, ouro, ferro e urânio.
Após anos de guerras, ditadura e tumultos, porém, a infra-estrutura do Congo ou está em
ruínas ou é inexistente, e as
operações de extração estão
produzindo apenas uma fração
de seu potencial.
Representantes do FMI e do
Banco Mundial reconheceram
as dimensões das necessidades
infra-estruturais do Congo.
Mas querem verificar se os empréstimos chineses se enquadram no compromisso assumido por Kinshasa de não contrair novas dívidas em termos
de qualquer tipo que não sejam
de concessão [no jargão do
FMI, com juros de 1% ao ano e
30 anos para pagar].
O compromisso está dentro
do contexto da iniciativa lançada pelas instituições financeiras para a redução da dívida do
grupo dos chamados Países Pobres Altamente Endividados.
No melhor cenário possível,
o FMI relançaria um programa
de crédito -o último parou em
2006 em função da má implementação-, e o Congo poderia
beneficiar-se do perdão de 80%
de sua dívida externa a partir de
meados de 2008.
"Se os termos do contrato [da
China] não corresponderem ao
regime de concessão, isso seria
motivo de preocupação", disse
um representante do FMI.
Hoje a maior parte da atividade mineradora no Congo está sendo realizada por empresas menores, de espírito mais
empreendedor.
Os grandes grupos ocidentais
de mineração estão ansiosos
por conseguir acesso a esses recursos, para substituir seus depósitos decrescentes, mas até
agora evitaram, em grande medida, investir no Congo, desencorajados pela agitação política, a corrupção e a infra-estrutura precária.
Alex Gorbansky, diretor administrativo do Frontier Strategy Group, uma consultoria de
risco político, disse que o acordo provisório entre a China e
Kinshasa, no valor de US$5 bilhões, colocaria pressão tanto
sobre as grandes mineradoras
interessadas em entrar no país
quanto sobre as pequenas que
já operam nele. "O acordo dará
à China uma vantagem nítida
no cinturão do cobre congolês."
Gorbansky afirmou que
grandes grupos de mineração
ocidentais, como o Anglo American e o Rio Tinto, estão dedicando mais e mais tempo e dinheiro para avaliar as oportunidades no Congo. Mas a iniciativa da China talvez signifique
que eles demoraram demais.
Tradução de CLARA ALLAIN
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