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Após 85 dias, Zelaya regressa a Honduras
Presidente deposto consegue entrar clandestinamente no país e se refugia na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa
Governo golpista decreta toque de recolher e pede a Brasil que entregue político à Justiça para que ele possa
ser submetido a processo
Orlando Sierra/France Presse
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Apoiadores de Manuel Zelaya manifestam sua satisfação com o regresso do presidente deposto de Honduras em frente à Embaixada do Brasil em Tegucigalpa
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Oitenta e cinco dias depois de
ter sido preso e expulso de
Honduras, o presidente deposto Manuel Zelaya voltou clandestinamente ontem a Tegucigalpa, onde se refugiou na embaixada brasileira. Com a notícia, alguns milhares de simpatizantes saíram às ruas da capital, onde entraram em confronto com a polícia. Mais tarde, o
governo interino decretou toque de recolher e exortou o
Brasil a entregar Zelaya às "autoridades competentes".
"Viajei durante 15 horas, superando muitos obstáculos
porque havia bloqueios, muita
perseguição. Graças ao presidente Lula, temos proteção na
Embaixada do Brasil", disse Zelaya, que antes tentara por duas
vezes, sem sucesso, regressar a
Honduras, em entrevista ao canal espanhol da CNN.
Segundo a Folha apurou, a
chegada de Zelaya ocorreu sem
aviso prévio. Pela manhã, a sua
mulher, Xiomara Castro, chegou à representação brasileira
acompanhada de uma deputada. Ao único diplomata brasileiro em Honduras explicou
que seu marido estava do lado
de fora e queria se refugiar ali.
A entrada do presidente deposto só foi autorizada após consulta ao Itamaraty.
Ao entrar no prédio da embaixada, Zelaya disse querer ficar sob a proteção do Brasil enquanto tenta criar um "diálogo
nacional de reconciliação".
O presidente deposto preferiu ficar na embaixada em vez
de ir à residência oficial. Ele foi
alojado no escritório do embaixador, que conta com um banheiro privado.
A chegada de Zelaya a Tegucigalpa foi noticiada primeiro
pelo canal venezuelano Telesur, controlado pelo governo
Hugo Chávez, o principal aliado do presidente deposto. A informação inicial de que ele estava na representação da ONU
levou manifestantes e policiais
ao local, provocando pequenos
confrontos.
Minutos depois do anúncio,
o próprio Chávez apareceu na
Telesur conversando com Zelaya por telefone. Demonstrando conhecimento prévio dos
planos do aliado, disse que ele
viajou "durante dois dias por
terra, cruzando montanhas,
rios, arriscando a sua vida".
Informado de que Zelaya não
se refugiara no escritório da
ONU, Micheletti chegou a dizer, em entrevista, que o deposto não estava em Honduras,
mas "tranquilo numa suíte de
um hotel na Nicarágua [país
onde vivia desde a deposição]".
Com a nova informação, logo
confirmada, de que Zelaya estava na embaixada brasileira, o
governo golpista decretou toque de recolher das 16h locais
de ontem até as 7h de hoje com
o objetivo de "conservar a calma" e ordenou o fechamento, a
partir de hoje, dos quatro aeroportos internacionais do país.
Ao mesmo tempo, alguns milhares de simpatizantes se reuniram nas imediações da embaixada brasileira. Zelaya os
saudou, pedindo "calma".
A embaixada brasileira está
instalada numa acanhada casa
residencial adaptada de dois
pisos no bairro Colônia Palmira, onde também funciona o setor consular. Normalmente,
conta com apenas dois diplomatas, mas atualmente não há
embaixador, já que Brasília não
reconhece o governo golpista.
Ao contrário da fortificada
embaixada americana, a poucas quadras dali, a segurança da
representação brasileira é bastante precária: dispõe apenas
de um segurança particular.
Em declarações ao site em
espanhol da BBC, Zelaya disse
que quer "iniciar um processo
de aproximação" e que estaria
disposto a se reunir com Micheletti. Ele pediu às Forças
Armadas que "apontem seu rifle contra os inimigos do povo,
e não contra o povo".
No final da tarde, Micheletti
fez um pronunciamento dizendo que a presença de Zelaya
"não muda a nossa realidade" e
exortou o Brasil a entregá-lo às
"autoridades competentes" para que seja submetido "a um
devido processo".
O governo interino, que tem
o apoio de todos os Poderes,
nega que tenha dado um golpe
de Estado e acusa Zelaya de ter
atuado ilegalmente ao tentar
promover uma reforma constitucional para introduzir a reeleição presidencial. Ele foi deposto em 28 de junho, dia em
que planejava fazer uma votação sobre a convocação de uma
Assembleia Constituinte.
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