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ANÁLISE
Brasil vê escolha como sinal de prestígio regional
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Além de a volta do presidente
Manuel Zelaya a Honduras ter
sido considerada uma manobra
simples, bem planejada e eficaz, a escolha da embaixada
brasileira foi saudada por Planalto e Itamaraty como demonstração da liderança e do
poder moderador que o Brasil
vem ocupando no continente.
Havia outros destinos mais
óbvios, como a embaixada mexicana, por exemplo, já que o
México é um país mais próximo
em vários sentidos da América
Central e tem forte peso em
Honduras. Mas o Brasil não só
é mais equidistante politicamente entre Washington e Caracas, como é também o país
em ascensão naquela área.
Pelas versões de Brasília, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva não tinha a menor ideia,
pelo menos até domingo, de
que Zelaya estava de malas
prontas para voltar e disposto a
bater à porta da embaixada. Ele
só soube a bordo do avião, a caminho de Nova York. E respaldou a decisão de recebê-lo.
O primeiro contato com a
embaixada foi feito entre uma
deputada zelaysta e o encarregado de Negócios do Brasil,
Francisco Catunda Resende,
que é a máxima autoridade brasileira remanescente no país
-o embaixador Brian Michael
Fraser Neele foi chamado de
volta depois do golpe que derrubou Zelaya, em 28 de junho.
Meio aturdido, conforme relatos do Itamaraty, Resende telefonou para o subsecretário
para a América do Sul, embaixador Ênio Cordeiro, que acionou a hierarquia até chegar ao
chanceler Celso Amorim, que
já estava em Nova York, e a Lula, em pleno voo.
Assessores e diplomatas não
descartam a possibilidade de
Zelaya ter combinado toda a
operação com o seu principal
aliado e quase mentor Hugo
Chávez, da Venezuela.
Mas optar pela embaixada
venezuelana poderia radicalizar ainda mais o confronto entre os dois lados. O Brasil, apesar de ter sido firmemente contra o golpe e a favor do presidente eleito desde o início, é
considerado "mais neutro".
Agora, o temor é sobre o que
vai acontecer daqui para a frente. Ao chegar, Zelaya convocou
manifestações a seu favor diante da embaixada brasileira e, se
puser os pés fora do prédio, há
duas opções: ou ser carregado
nos ombros do povo, ou parar
na cadeia. Ele está com prisão
preventiva decretada.
Com eleições presidenciais
marcadas para 29 de novembro, o que os governos da região
já discutiam era como reagir e
receber o futuro governo eleito.
A volta de Zelaya e a escolha da
embaixada brasileira mudam
tudo. Recrudesce a pressão para que ele recupere o poder, e o
Brasil está no meio do furacão.
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