São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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VENEZUELA

Adversários de Chávez dizem que a greve geral foi um sucesso, enquanto os governistas declaram que a adesão foi mínima

Chavistas e opositores cantam vitória

MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Governo e oposição cantaram vitória depois da greve geral de 12 horas convocada por empresários e sindicalistas para forçar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a renunciar ou a antecipar as eleições presidenciais.
Grande parte do comércio na capital, Caracas, não funcionou. Mas a adesão nacional ao movimento foi parcial e sensivelmente menor do que a verificada nas greves anteriores contra Chávez, em dezembro e abril passados.
"A Venezuela parou. Só não percebeu o presidente Chávez, que está surdo, cego e mudo", disse Carlos Ortega, presidente da CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela) e um dos principais adversários de Chávez. "A greve fracassou", disse o vice-presidente, José Vicente Rangel. "As oposições pularam de cabeça numa piscina sem água."
Segundo a CTV, entre 80% e 85% das empresas fecharam as portas. Já para a ministra do Trabalho, Maria Cristina Iglezias, indústrias responsáveis por 80% do PIB abriram normalmente.
Em Caracas, postos de combustíveis, transportes públicos e comércio informal funcionaram. Centros de compras, supermercados e pequenas indústrias não abriram. Jornais não circularam e vôos foram suspensos por falta de passageiros. A Bolsa não funcionou, mas os bancos abriram.
Os serviços de segurança anunciaram a prisão de um carro com armamentos pesados perto do palácio presidencial. Durante o dia, cinco mil soldados da Guarda Nacional protegeram as zonas comerciais e os prédios do governo.
Ao final da greve, as oposições realizaram um "panelaço nacional" e uma manifestação em frente à PDVSA (Petróleos de Venezuela), a estatal petrolífera do país. Grupos partidários de Chávez fizeram uma manifestação perto da presidência para celebrar o "fracasso" da greve.
Não está claro se a adesão parcial à paralisação irá afetar a dinâmica do conflito entre governo e oposição. As forças anti-Chávez estão unidas na Coordenação Democrática (CD), que congrega partidos políticos e organizações da oposição. O impasse começou com uma greve em dezembro de 2001 e produziu, em abril, um fracassado golpe contra Chávez.
A CD desistiu de transformar a greve de doze horas em paralisação indefinida, apesar de o líder sindical Ortega ter defendido essa idéia nos últimos dias. A CD decidiu apressar o recolhimento das cerca de 1,5 milhão de assinaturas que, segundo ela, permitirá antecipar as eleições presidenciais.
"Apresentaremos as assinaturas até 30 de novembro. Se as eleições não forem convocadas em um mês a partir dessa data, o povo saberá agir", disse Carlos Fernandes, presidente da Fedecamaras, principal entidade empresarial.
O governo diz que um referendo -e não eleições- só poderia ocorrer a partir da metade do mandato presidencial, em agosto de 2003. "Se a Constituição permitisse, eu seria o primeiro a apoiar eleições agora", costuma dizer Chávez. "Não tenho o que temer. Venceria qualquer um de meus opositores nas urnas."
O presidente passou o dia no palácio de Miraflores, sem dar declarações. Anteontem, disse que escapou de atentado. Para a oposição, Chávez "fabricou" a informação para desmobilizar a greve e justificar a prisão de opositores.
Chávez foi eleito em 1998 e reeleito em 2000, junto com a aprovação da Constituição, que renovou o mandato. Seu governo termina em 2006, mas ele teria direito à reeleição por mais seis anos.



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