|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VENEZUELA
Adversários de Chávez dizem que a greve geral foi um sucesso, enquanto os governistas declaram que a adesão foi mínima
Chavistas e opositores cantam vitória
MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Governo e oposição cantaram
vitória depois da greve geral de 12
horas convocada por empresários
e sindicalistas para forçar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a renunciar ou a antecipar as
eleições presidenciais.
Grande parte do comércio na
capital, Caracas, não funcionou.
Mas a adesão nacional ao movimento foi parcial e sensivelmente
menor do que a verificada nas
greves anteriores contra Chávez,
em dezembro e abril passados.
"A Venezuela parou. Só não
percebeu o presidente Chávez,
que está surdo, cego e mudo", disse Carlos Ortega, presidente da
CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela) e um dos
principais adversários de Chávez.
"A greve fracassou", disse o vice-presidente, José Vicente Rangel.
"As oposições pularam de cabeça
numa piscina sem água."
Segundo a CTV, entre 80% e
85% das empresas fecharam as
portas. Já para a ministra do Trabalho, Maria Cristina Iglezias, indústrias responsáveis por 80% do
PIB abriram normalmente.
Em Caracas, postos de combustíveis, transportes públicos e comércio informal funcionaram.
Centros de compras, supermercados e pequenas indústrias não
abriram. Jornais não circularam e
vôos foram suspensos por falta de
passageiros. A Bolsa não funcionou, mas os bancos abriram.
Os serviços de segurança anunciaram a prisão de um carro com
armamentos pesados perto do
palácio presidencial. Durante o
dia, cinco mil soldados da Guarda
Nacional protegeram as zonas comerciais e os prédios do governo.
Ao final da greve, as oposições
realizaram um "panelaço nacional" e uma manifestação em frente à PDVSA (Petróleos de Venezuela), a estatal petrolífera do
país. Grupos partidários de Chávez fizeram uma manifestação
perto da presidência para celebrar
o "fracasso" da greve.
Não está claro se a adesão parcial à paralisação irá afetar a dinâmica do conflito entre governo e
oposição. As forças anti-Chávez
estão unidas na Coordenação Democrática (CD), que congrega
partidos políticos e organizações
da oposição. O impasse começou
com uma greve em dezembro de
2001 e produziu, em abril, um fracassado golpe contra Chávez.
A CD desistiu de transformar a
greve de doze horas em paralisação indefinida, apesar de o líder
sindical Ortega ter defendido essa
idéia nos últimos dias. A CD decidiu apressar o recolhimento das
cerca de 1,5 milhão de assinaturas
que, segundo ela, permitirá antecipar as eleições presidenciais.
"Apresentaremos as assinaturas
até 30 de novembro. Se as eleições
não forem convocadas em um
mês a partir dessa data, o povo saberá agir", disse Carlos Fernandes, presidente da Fedecamaras,
principal entidade empresarial.
O governo diz que um referendo -e não eleições- só poderia
ocorrer a partir da metade do
mandato presidencial, em agosto
de 2003. "Se a Constituição permitisse, eu seria o primeiro a
apoiar eleições agora", costuma
dizer Chávez. "Não tenho o que
temer. Venceria qualquer um de
meus opositores nas urnas."
O presidente passou o dia no
palácio de Miraflores, sem dar declarações. Anteontem, disse que
escapou de atentado. Para a oposição, Chávez "fabricou" a informação para desmobilizar a greve
e justificar a prisão de opositores.
Chávez foi eleito em 1998 e reeleito em 2000, junto com a aprovação da Constituição, que renovou o mandato. Seu governo termina em 2006, mas ele teria direito à reeleição por mais seis anos.
Texto Anterior: Terror: EUA alertam setores de petróleo e gás Próximo Texto: Polarização marca cena política em Caracas Índice
|