São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

A maioria dos simpatizantes do presidente ignora que não foram achadas armas proibidas no Iraque

Pesquisa revela alienação do eleitor de Bush

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Boa parte dos eleitores do presidente americano, George W. Bush, está totalmente desinformada sobre o fato de não terem sido encontradas armas de destruição em massa no Iraque ou conexões entre o ex-ditador Saddam Hussein e a rede Al Qaeda.
Há também um alto grau de alienação entre esses eleitores sobre a imagem negativa que Bush adquiriu no exterior e a respeito de suas posições unilaterais em questões internacionais.
Ao mesmo tempo em que afirmam que não apoiariam uma invasão do Iraque hoje por motivos infundados, a esmagadora maioria dos eleitores de Bush ainda acha que valeu a pena ter invadido o país.
Dezoito meses depois do início da guerra, tanto os partidários de Bush quanto os de seu adversário, o democrata John Kerry, acham que, em seus discursos, o presidente ainda continua defendendo os mesmos motivos infundados que o levaram à invasão.
A diferença é que os eleitores de Bush ainda acreditam no que o presidente está dizendo.
Esses resultados fazem parte de pesquisa divulgada ontem em Washington pelo Programa Internacional sobre Comportamento Político, da Universidade de Maryland, e financiada pela Fundação Rockefeller.
A pesquisa ouviu 968 eleitores em todo o país entre 12 e 18 de outubro. Como em outros levantamentos, Bush e Kerry aparecem empatados no resultado geral das intenções de voto, com 47% cada.
Entre os eleitores de Bush, 80% acreditam que o presidente só diz a verdade. O percentual despenca para 4% quando são os simpatizantes de Kerry que julgam a honestidade do presidente.
O professor Steven Kull, responsável pelo levantamento, afirma que a "credibilidade" de Bush ajuda a explicar o fato de 85% dos eleitores do presidente continuarem acreditando que ele agiu corretamente ao invadir o Iraque.
Kull salienta que a principal característica dos apoiadores de Bush é uma "resistência a informações", fato que os teria deixado alienados de todas as provas e discussões que contrariaram os motivos para a guerra.
"A raiz dessa resistência às informações entre os eleitores de Bush está, muito provavelmente, na experiência traumática do 11 de Setembro e na pronta liderança que o presidente mostrou logo após os atentados", diz Kull.
"Isso criou uma forte conexão desses eleitores com Bush e uma imagem idealizada de um presidente que dificilmente poderia estar errado em seu julgamento para ir à guerra", completa.
Na visão do eleitor do presidente, segundo Kull, as notícias de problemas no Iraque e as imagens de familiares de soldados mortos trazem uma percepção de "custos em alta e benefícios em baixa" depois da invasão.
"Mas, para eles, a percepção de que Bush é o protetor do país é ainda mais forte e duradoura."
Essa mesma conexão de Bush com seus eleitores seria a razão pela qual a grande maioria acha que o presidente é favorável, por exemplo, a ingressar no Tribunal Penal Internacional, a assinar o Protocolo de Kyoto contra o aquecimento global ou a participar de programas internacionais contra minas terrestres.
Na verdade, Bush é contra a participação dos EUA nos três pontos. Só que seus eleitores simplesmente não sabe disso.
A maioria (51%) também acredita que os EUA têm o apoio majoritário da população islâmica na guerra contra o terror. Ao mesmo tempo, só 31% dizem acreditar que boa parte do resto do mundo se oponha à guerra.


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