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ELEIÇÃO NOS EUA
A maioria dos simpatizantes do presidente ignora que não foram achadas armas proibidas no Iraque
Pesquisa revela alienação do eleitor de Bush
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Boa parte dos eleitores do presidente americano, George W.
Bush, está totalmente desinformada sobre o fato de não terem sido encontradas armas de destruição em massa no Iraque ou conexões entre o ex-ditador Saddam
Hussein e a rede Al Qaeda.
Há também um alto grau de
alienação entre esses eleitores sobre a imagem negativa que Bush
adquiriu no exterior e a respeito
de suas posições unilaterais em
questões internacionais.
Ao mesmo tempo em que afirmam que não apoiariam uma invasão do Iraque hoje por motivos
infundados, a esmagadora maioria dos eleitores de Bush ainda
acha que valeu a pena ter invadido o país.
Dezoito meses depois do início
da guerra, tanto os partidários de
Bush quanto os de seu adversário,
o democrata John Kerry, acham
que, em seus discursos, o presidente ainda continua defendendo
os mesmos motivos infundados
que o levaram à invasão.
A diferença é que os eleitores de
Bush ainda acreditam no que o
presidente está dizendo.
Esses resultados fazem parte de
pesquisa divulgada ontem em
Washington pelo Programa Internacional sobre Comportamento Político, da Universidade de
Maryland, e financiada pela Fundação Rockefeller.
A pesquisa ouviu 968 eleitores
em todo o país entre 12 e 18 de outubro. Como em outros levantamentos, Bush e Kerry aparecem
empatados no resultado geral das
intenções de voto, com 47% cada.
Entre os eleitores de Bush, 80%
acreditam que o presidente só diz
a verdade. O percentual despenca
para 4% quando são os simpatizantes de Kerry que julgam a honestidade do presidente.
O professor Steven Kull, responsável pelo levantamento, afirma que a "credibilidade" de Bush
ajuda a explicar o fato de 85% dos
eleitores do presidente continuarem acreditando que ele agiu corretamente ao invadir o Iraque.
Kull salienta que a principal característica dos apoiadores de
Bush é uma "resistência a informações", fato que os teria deixado
alienados de todas as provas e discussões que contrariaram os motivos para a guerra.
"A raiz dessa resistência às informações entre os eleitores de
Bush está, muito provavelmente,
na experiência traumática do 11
de Setembro e na pronta liderança que o presidente mostrou logo
após os atentados", diz Kull.
"Isso criou uma forte conexão
desses eleitores com Bush e uma
imagem idealizada de um presidente que dificilmente poderia estar errado em seu julgamento para ir à guerra", completa.
Na visão do eleitor do presidente, segundo Kull, as notícias de
problemas no Iraque e as imagens
de familiares de soldados mortos
trazem uma percepção de "custos
em alta e benefícios em baixa" depois da invasão.
"Mas, para eles, a percepção de
que Bush é o protetor do país é
ainda mais forte e duradoura."
Essa mesma conexão de Bush
com seus eleitores seria a razão
pela qual a grande maioria acha
que o presidente é favorável, por
exemplo, a ingressar no Tribunal
Penal Internacional, a assinar o
Protocolo de Kyoto contra o
aquecimento global ou a participar de programas internacionais
contra minas terrestres.
Na verdade, Bush é contra a
participação dos EUA nos três
pontos. Só que seus eleitores simplesmente não sabe disso.
A maioria (51%) também acredita que os EUA têm o apoio majoritário da população islâmica na
guerra contra o terror. Ao mesmo
tempo, só 31% dizem acreditar
que boa parte do resto do mundo
se oponha à guerra.
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