São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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"Povo hondurenho quer eleições", diz americano na OEA

Discurso alimenta a hipótese de que EUA aceitem resultado de pleito de novembro mesmo sem a volta de Zelaya ao cargo

Para W. Lewis Amselem, suspensão de decreto que cerceava liberdades civis é "positiva" e "precondição para voto livre" no país


DE WASHINGTON

Na mesma reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos) em que o Brasil acusou o regime golpista hondurenho de submeter os ocupantes da embaixada em Tegucigalpa à tortura, o representante interino dos EUA na entidade defendeu os candidatos à Presidência de Honduras, disse que o povo hondurenho quer que o pleito aconteça e que a suspensão pelo presidente interino Roberto Micheletti do decreto que restringia as liberdades civis e de imprensa era um sinal "positivo".
"O povo hondurenho claramente quer -e mais do que merece- uma democracia funcional e a oportunidade de expressar seu desejo em eleições livres e justas sobre quem o vai governar depois de janeiro de 2010", disse W. Lewis Amselem. "Isso ficou claro na carta enviada ao secretário-geral [da OEA, José Miguel Insulza] pelos principais candidatos presidenciais hondurenhos."
Candidatos, ele ressaltou, "que foram escolhidos democraticamente pelas respectivas organizações políticas muito antes dos eventos que levaram ao golpe de 28 de junho". Para o americano, "esses candidatos não participaram do golpe e mereceram sua posição graças à confiança dos eleitores hondurenhos".
Parte da diplomacia americana defende que os EUA reconheçam o resultado das eleições presidenciais hondurenhas, em 29 de novembro, com ou sem a volta do presidente deposto Manuel Zelaya ao poder. Argumentam que, se a suspensão do decreto antiliberdades civis for levada a cabo, pode-se criar condições para que o pleito ocorra com um mínimo de transparência. A maior parte dos países da região, Brasil incluído, rejeita essa ideia.
Ontem ainda, como parte da pressão dos que defendem a realização das eleições, membros do Tribunal Eleitoral hondurenho foram recebidos no Congresso dos EUA. A audiência foi organizada pelos representantes (deputados) republicanos ultraconservadores Ileana Ros-Lehtinen e Mario Díaz-Balart, da Flórida, e boicotada pelos democratas.
"O tribunal está fazendo o melhor que pode para assegurar as condições para que haja eleições livres e justas", disse o presidente da corte, José Saúl Escobar, simpático aos golpistas. "Viemos explicar que é preciso defender o processo eleitoral, porque assim afirma a Carta Democrática."
Ainda na OEA, Amselem chamou de "positiva" a suspensão de parte das medidas de exceção. "Reconhecemos que o regime finalmente rescindiu os decretos suspendendo liberdades civis e fechando organizações de mídia, uma precondição crucial para um voto livre e justo." Mas criticou os golpistas pela não evolução das negociações para o fim da crise.
"Achamos que na última rodada de discussões o regime "de facto" não se mostrou tão flexível e disposto a fazer acordo como o presidente Zelaya. Urgimos o governo "de facto" a levar as negociações tão a sério quanto [Zelaya] e as enxergar como ele aparentemente as enxerga, como uma maneira de sair do atual impasse."
Remanescente da gestão de George W. Bush (2001-2009), W. Lewis Amselem foi indicado para ser vice-representante na entidade em 2008, abaixo de Hector Morales, que já deixou o posto. A embaixadora obamista, Carmen Lomellín, foi indicada em setembro e aguarda confirmação do Senado.
No fim da reunião de ontem, pediu a palavra para uma última participação, em que respondeu aos colegas da Nicarágua e da Venezuela, que acabavam de criticar o bloqueio econômico imposto pelos EUA a Cuba há cinco décadas. Em tom irônico, disse que pediria a Barack Obama para que fechasse toda a mídia de oposição nos EUA imediatamente. "Espero que isso faça com que os venezuelanos se sintam em casa", escarneceu. (SÉRGIO DÁVILA)

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