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"Povo hondurenho quer eleições", diz americano na OEA
Discurso alimenta a hipótese de que EUA aceitem resultado de pleito de novembro mesmo sem a volta de Zelaya ao cargo
Para W. Lewis Amselem,
suspensão de decreto que
cerceava liberdades civis é
"positiva" e "precondição
para voto livre" no país
DE WASHINGTON
Na mesma reunião da OEA
(Organização dos Estados
Americanos) em que o Brasil
acusou o regime golpista hondurenho de submeter os ocupantes da embaixada em Tegucigalpa à tortura, o representante interino dos EUA na entidade defendeu os candidatos à
Presidência de Honduras, disse
que o povo hondurenho quer
que o pleito aconteça e que a
suspensão pelo presidente interino Roberto Micheletti do
decreto que restringia as liberdades civis e de imprensa era
um sinal "positivo".
"O povo hondurenho claramente quer -e mais do que
merece- uma democracia funcional e a oportunidade de expressar seu desejo em eleições
livres e justas sobre quem o vai
governar depois de janeiro de
2010", disse W. Lewis Amselem. "Isso ficou claro na carta
enviada ao secretário-geral [da
OEA, José Miguel Insulza] pelos principais candidatos presidenciais hondurenhos."
Candidatos, ele ressaltou,
"que foram escolhidos democraticamente pelas respectivas
organizações políticas muito
antes dos eventos que levaram
ao golpe de 28 de junho". Para o
americano, "esses candidatos
não participaram do golpe e
mereceram sua posição graças
à confiança dos eleitores hondurenhos".
Parte da diplomacia americana defende que os EUA reconheçam o resultado das eleições presidenciais hondurenhas, em 29 de novembro, com
ou sem a volta do presidente
deposto Manuel Zelaya ao poder. Argumentam que, se a suspensão do decreto antiliberdades civis for levada a cabo, pode-se criar condições para que
o pleito ocorra com um mínimo
de transparência. A maior parte dos países da região, Brasil
incluído, rejeita essa ideia.
Ontem ainda, como parte da
pressão dos que defendem a
realização das eleições, membros do Tribunal Eleitoral hondurenho foram recebidos no
Congresso dos EUA. A audiência foi organizada pelos representantes (deputados) republicanos ultraconservadores Ileana Ros-Lehtinen e Mario Díaz-Balart, da Flórida, e boicotada
pelos democratas.
"O tribunal está fazendo o
melhor que pode para assegurar as condições para que haja
eleições livres e justas", disse o
presidente da corte, José Saúl
Escobar, simpático aos golpistas. "Viemos explicar que é preciso defender o processo eleitoral, porque assim afirma a Carta Democrática."
Ainda na OEA, Amselem
chamou de "positiva" a suspensão de parte das medidas de exceção. "Reconhecemos que o
regime finalmente rescindiu os
decretos suspendendo liberdades civis e fechando organizações de mídia, uma precondição crucial para um voto livre e
justo." Mas criticou os golpistas
pela não evolução das negociações para o fim da crise.
"Achamos que na última rodada de discussões o regime "de
facto" não se mostrou tão flexível e disposto a fazer acordo como o presidente Zelaya. Urgimos o governo "de facto" a levar
as negociações tão a sério quanto [Zelaya] e as enxergar como
ele aparentemente as enxerga,
como uma maneira de sair do
atual impasse."
Remanescente da gestão de
George W. Bush (2001-2009),
W. Lewis Amselem foi indicado
para ser vice-representante na
entidade em 2008, abaixo de
Hector Morales, que já deixou o
posto. A embaixadora obamista, Carmen Lomellín, foi indicada em setembro e aguarda
confirmação do Senado.
No fim da reunião de ontem,
pediu a palavra para uma última participação, em que respondeu aos colegas da Nicarágua e da Venezuela, que acabavam de criticar o bloqueio econômico imposto pelos EUA a
Cuba há cinco décadas. Em tom
irônico, disse que pediria a Barack Obama para que fechasse
toda a mídia de oposição nos
EUA imediatamente. "Espero
que isso faça com que os venezuelanos se sintam em casa",
escarneceu.
(SÉRGIO DÁVILA)
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