São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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No Uruguai, socialista faz aceno ao centro, e conservador vai ao ataque

Campanha presidencial acaba com discurso brando de Mujica e farpas de Lacalle

Miguel Rojo/France Presse
O ex-presidente e candidato opositor uruguaio Luis Alberto Lacalle num comício em Montevidéu

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Às vésperas das eleições que definirão o novo presidente do Uruguai, os dois candidatos com mais chances de vencer o pleito deste domingo, segundo pesquisas de opinião, adotaram discursos antagônicos.
Líder nas sondagens, com cerca de 45% da preferência do eleitorado, o socialista José "Pepe" Mujica, da coalizão de esquerda Frente Ampla, mostrou-se conciliador e anunciou ontem, em Montevidéu, que pretende estabelecer pactos de governo com todos os partidos, incluindo os que estão à direita de sua legenda.
As declarações de Mujica soam como um aceno preventivo ao Congresso, cuja renovação pode não garantir maioria para um eventual futuro governo da Frente Ampla.
Do lado do candidato conservador Luis Alberto Lacalle (Partido Nacional), que tem em torno de 30% dos votos, de acordo com pesquisas de opinião, a estratégia foi elevar o tom das críticas ao estilo pessoal de Mujica e disseminar dúvidas acerca de sua capacidade para governar.
Lacalle, 67, que foi presidente do Uruguai entre 1990 e 1995, afirmou que seu partido é "história", enquanto o de Mujica, que chegou ao poder pela primeira vez em 2005 com o atual presidente, Tabaré Vázquez, é "piada". O candidato opositor iniciou ontem sua agenda de campanha pela capital uruguaia, percorrendo em seguida o interior do país.
Vice na chapa de Lacalle, Jorge Larrañaga afirmou de forma irônica que, se for eleito, Mujica governará "debaixo de uma parreira, com dois vira-latas que o avisarão quando os ministros chegarem".
Ex guerrilheiro tupamaro, Mujica, 74, tem origem camponesa, exprime-se em tom coloquial e se veste despojadamente. Durante a campanha, Mujica disse que, se perder a eleição, não pretende retornar ao Senado, mas sim ir "plantar acelga".
Por um lado, o socialista ressaltou que não fará mudanças substantivas nas diretrizes macroeconômicas do governo Vázquez; por outro, Mujica deixou claro seu desapego a bens materiais. Em recente reunião com empresários, afirmou que não é partidário do "pobrismo", mas optou por ter poucas posses porque, assim, sente-se "mais rico em liberdade".
A oposição tenta convencer o eleitorado de que, com esse estilo, Mujica, uma vez instalado no poder, fará um profundo giro à esquerda e poderá desestabilizar o país.
A Frente Ampla responde com críticas ao desempenho de Lacalle na Presidência e questionamentos ao resultado das privatizações que ele implementou no período.
O argumento é que um eventual retorno de Lacalle ao poder implicaria retrocesso dos avanços econômicos e sociais atribuídos ao governo Vázquez.
Mujica citou projetos bem avaliados do atual presidente, que conta com índice de aprovação popular de cerca de 60%, ao propor um pacto multipartidário compreendendo as políticas para educação, preservação ambiental, energia e segurança pública hoje vigentes.
O candidato socialista afirmou que, caso Vázquez tivesse contado com esse tipo de alianças, "o pequeno milagre do Projeto Ceibal teria sido um plano conjunto dos partidos, e seus méritos não seriam apenas do governo, mas de todos".
O projeto Ceibal distribuiu laptops aos alunos e professores do ciclo fundamental das escolas públicas e é uma das razões que explicam a atual popularidade de Vázquez.
À noite, num comício no centro de Montevidéu, que foi antecipado por um show e reuniu milhares de partidários, Mujica fez o discurso de encerramento de sua campanha.


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