|
Próximo Texto | Índice
Governo Chávez usa recursos oficiais em manifestação
Programas sociais levam jovens à capital; "O povo está fazendo uso dos dólares do petróleo", diz estudante chavista
Protesto de estudantes opositores não vinga, mas líderes convocam pela primeira vez ao voto "não" em referendo do dia 2
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Faltando apenas 11 dias para
o referendo sobre a reforma
constitucional proposta pelo
presidente Hugo Chávez, estudantes pró-governo e oposicionistas voltaram ontem às ruas
de Caracas em manifestações
sem incidentes graves.
O evento mais volumoso foi o
governista, que reuniu vários
milhares de pessoas na praça
Venezuela, região central da capital venezuelana. Como tem
sido a praxe em manifestações
pró-Chávez, a marcha contou
com o apoio da máquina do Estado para trazer estudantes de
várias partes do país, além da
distribuição de água e de camisetas vermelhas.
"Este governo cometeu muitos erros, mas nos trouxe mudanças enormes, sobretudo na
educação. É um direito que todos temos, mas antes éramos
excluídos", disse o agricultor
Carlos Tovar, 26, porta-voz dos
estudantes do Estado de Apure
(sudoeste) da Missão Ribas,
que dá bolsas mensais de R$
223 (câmbio oficial) para quem
cursa o ensino médio.
Questionado sobre quais seriam os erros, Tovar disse que
[Chávez] "deu muita corda para a oposição, mas isso acabou,
não podemos mais tolerar
mentiras". Segundo ele, vieram
437 estudantes de sua cidade,
todos em ônibus fornecidos pelo governo, via Missão Ribas.
"A reforma é necessária para
aprofundar o socialismo humanista e assegurar o mínimo para a população", disse à Folha o
estudante bolivariano Robert
Sierra, do alto do palco montado para o evento.
"Nós concebemos Hugo
Chávez não apenas como presidente da República. Ele é o líder indiscutível da revolução
bolivariana e o máximo chefe
das tropas revolucionárias. Se o
povo não quiser Chávez, ele será retirado", respondeu, sobre
a inclusão da possibilidade de
reeleição presidencial ilimitada na reforma.
Nomeado por Chávez para a
recém-criada Comissão Estudantil Presidencial, Sierra, 20,
estuda direito na exclusiva
Universidade Católica Andrés
Bello (Ucab), um dos principais
redutos oposicionistas. Ele tem
sofrido agressões verbais na
universidade e uma vez foi atacado na lanchonete com copos
e bolinhas de papel.
Questionado sobre o uso de
dinheiro público na manifestação, Sierra disse: "O povo está
fazendo uso dos dólares do petróleo. Antes, o dinheiro era de
uma elite que pagava a passagens dos gerentes [da estatal
PDVSA] para Miami, para conhecer o Mickey Mouse. Hoje,
paga a mobilização desse povo
e o alimenta para apoiar a revolução bolivariana".
Oposição
A concentração oposicionista, por outro lado, reuniu apenas algumas centenas de pessoas na praça Brión, a apenas
duas estações de metrô da manifestação governista.
A novidade, do lado da oposição, é que os estudantes finalmente anunciaram que votarão
no referendo em favor do
"não". Os líderes estavam divididos entre comparecer às urnas e apenas fazer concentrações de rua. "Vai ser um claro
chamado pelo voto, mas também será claro o chamado para
se manter nas ruas. Na Venezuela há uma reforma constitucional ilegítima que, se for
aprovada, violará os direitos
constitucionais de todos os venezuelanos", disse à Folha Yon
Goicoechea, um dos principais
líderes estudantis de oposição.
A reforma constitucional
proposta por Chávez modifica
69 dos 350 artigos da Constituição e assegura mais poderes
ao presidente da República.
Próximo Texto: [!] Foco: Com bandeira, bolsistas brasileiros engrossam marcha pró-reforma Índice
|