São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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Governo Chávez usa recursos oficiais em manifestação

Programas sociais levam jovens à capital; "O povo está fazendo uso dos dólares do petróleo", diz estudante chavista

Protesto de estudantes opositores não vinga, mas líderes convocam pela primeira vez ao voto "não" em referendo do dia 2

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Faltando apenas 11 dias para o referendo sobre a reforma constitucional proposta pelo presidente Hugo Chávez, estudantes pró-governo e oposicionistas voltaram ontem às ruas de Caracas em manifestações sem incidentes graves.
O evento mais volumoso foi o governista, que reuniu vários milhares de pessoas na praça Venezuela, região central da capital venezuelana. Como tem sido a praxe em manifestações pró-Chávez, a marcha contou com o apoio da máquina do Estado para trazer estudantes de várias partes do país, além da distribuição de água e de camisetas vermelhas.
"Este governo cometeu muitos erros, mas nos trouxe mudanças enormes, sobretudo na educação. É um direito que todos temos, mas antes éramos excluídos", disse o agricultor Carlos Tovar, 26, porta-voz dos estudantes do Estado de Apure (sudoeste) da Missão Ribas, que dá bolsas mensais de R$ 223 (câmbio oficial) para quem cursa o ensino médio.
Questionado sobre quais seriam os erros, Tovar disse que [Chávez] "deu muita corda para a oposição, mas isso acabou, não podemos mais tolerar mentiras". Segundo ele, vieram 437 estudantes de sua cidade, todos em ônibus fornecidos pelo governo, via Missão Ribas.
"A reforma é necessária para aprofundar o socialismo humanista e assegurar o mínimo para a população", disse à Folha o estudante bolivariano Robert Sierra, do alto do palco montado para o evento.
"Nós concebemos Hugo Chávez não apenas como presidente da República. Ele é o líder indiscutível da revolução bolivariana e o máximo chefe das tropas revolucionárias. Se o povo não quiser Chávez, ele será retirado", respondeu, sobre a inclusão da possibilidade de reeleição presidencial ilimitada na reforma.
Nomeado por Chávez para a recém-criada Comissão Estudantil Presidencial, Sierra, 20, estuda direito na exclusiva Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), um dos principais redutos oposicionistas. Ele tem sofrido agressões verbais na universidade e uma vez foi atacado na lanchonete com copos e bolinhas de papel.
Questionado sobre o uso de dinheiro público na manifestação, Sierra disse: "O povo está fazendo uso dos dólares do petróleo. Antes, o dinheiro era de uma elite que pagava a passagens dos gerentes [da estatal PDVSA] para Miami, para conhecer o Mickey Mouse. Hoje, paga a mobilização desse povo e o alimenta para apoiar a revolução bolivariana".

Oposição
A concentração oposicionista, por outro lado, reuniu apenas algumas centenas de pessoas na praça Brión, a apenas duas estações de metrô da manifestação governista.
A novidade, do lado da oposição, é que os estudantes finalmente anunciaram que votarão no referendo em favor do "não". Os líderes estavam divididos entre comparecer às urnas e apenas fazer concentrações de rua. "Vai ser um claro chamado pelo voto, mas também será claro o chamado para se manter nas ruas. Na Venezuela há uma reforma constitucional ilegítima que, se for aprovada, violará os direitos constitucionais de todos os venezuelanos", disse à Folha Yon Goicoechea, um dos principais líderes estudantis de oposição.
A reforma constitucional proposta por Chávez modifica 69 dos 350 artigos da Constituição e assegura mais poderes ao presidente da República.


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