|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Invasão econômica chilena é combustível para tensão bilateral
Para analistas peruanos, espionagem impulsiona temores gerados pela entrada maciça de capital chileno no Peru
Segmentos nacionalistas lembram que perdas de territórios para o Chile no séc. 19 foram antecedidas de investimentos do vizinho
DA REPORTAGEM LOCAL
O escândalo de espionagem
entre Peru e Chile reforça temores de uma invasão chilena
ao país entre os peruanos, hoje
já sensibilizados pela presença
ostensiva de investimentos
chilenos e pelos crescentes gastos militares do vizinho.
Para analistas peruanos consultados pela Folha, esse cenário explica a reação dura do
presidente do Peru, Alan García, que classificou o episódio
como típico de "republiqueta"
e cobrou explicações ao Chile.
Com isso, o direitista García,
cuja gestão é aprovada por só
um quarto da população, busca
tomar a bandeira nacionalista
do opositor Ollanta Humalla,
oficial aposentado do Exército
e seu rival na eleição de 2006.
"O clima pré-eleitoral no
país [a eleição presidencial é
em 2011] e a suscetibilidade peruana à presença chilena na
economia e ao armamentismo
do vizinho explicam a reação
desproporcional de García",
opina o historiador Carlos
Contreras, da PUC do Peru.
O Peru é o terceiro principal
destino dos investimentos chilenos no exterior. Foram US$
7,2 bilhões desde 1990, dos
quais US$ 678 milhões no primeiro semestre de 2009. São
recursos alocados sobretudo
no setor de serviços (59%),
com destaque ao comércio varejista, e de energia (28%).
"O capital chileno está muito
presente em atividades cotidianas no Peru, como lojas de departamentos, supermercados,
e isso gera entre a população
uma sensação de invasão econômica", diz Contreras.
Diante desse avanço, diz o
sociólogo Aldo Panfichi, da
PUC do Peru, setores nacionalistas aproveitam para lembrar
que as invasões chilenas na
Guerra do Pacífico (1879-1884), em que o Peru perdeu
parte do território para o vizinho, foram antecedidas por investimentos maciços do Chile
em regiões sob litígio à época.
Para Panfichi, o episódio de
espionagem deu margem para
García promover uma ofensiva
político-diplomática contra o
Chile, que, imerso na reta final
da sucessão presidencial, permanece na defensiva. "O Chile
está desconcertado, dando respostas evasivas."
Gastos militares
Motivo de inquietação no Peru, as compras de armas chilenas atingiram cerca de US$ 2,1
bilhões de 2003 a 2007, e o país
passou a 12º no ranking mundial e primeiro no latino-americano de receptores de armamentos, aponta estudo do Observatório Político Sul-Americano. Ao lado da Venezuela, o
Chile foi o país que mais incrementou a importação de armas
na região desde 2005.
Os gastos são impulsionados
por lei que destina às Forças
Armadas 10% do dinheiro das
vendas do cobre, principal produto de exportação chileno.
Contrastam com a campanha
de García para promover o desarmamento na região e deterioram ainda mais a relação.
"As relações entraram em
um outro caminho, se politizaram, e vai ser difícil que García
retroceda", diz Panfichi.
A Folha procurou ouvir os
ministérios da Defesa e das Relações Exteriores do Chile, que
não se manifestaram.
(TG)
Texto Anterior: Lima prega pacto de não agressão e força de paz sul-americanos Próximo Texto: Frase Índice
|