São Paulo, domingo, 22 de novembro de 2009

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Invasão econômica chilena é combustível para tensão bilateral

Para analistas peruanos, espionagem impulsiona temores gerados pela entrada maciça de capital chileno no Peru

Segmentos nacionalistas lembram que perdas de territórios para o Chile no séc. 19 foram antecedidas de investimentos do vizinho

DA REPORTAGEM LOCAL

O escândalo de espionagem entre Peru e Chile reforça temores de uma invasão chilena ao país entre os peruanos, hoje já sensibilizados pela presença ostensiva de investimentos chilenos e pelos crescentes gastos militares do vizinho.
Para analistas peruanos consultados pela Folha, esse cenário explica a reação dura do presidente do Peru, Alan García, que classificou o episódio como típico de "republiqueta" e cobrou explicações ao Chile.
Com isso, o direitista García, cuja gestão é aprovada por só um quarto da população, busca tomar a bandeira nacionalista do opositor Ollanta Humalla, oficial aposentado do Exército e seu rival na eleição de 2006.
"O clima pré-eleitoral no país [a eleição presidencial é em 2011] e a suscetibilidade peruana à presença chilena na economia e ao armamentismo do vizinho explicam a reação desproporcional de García", opina o historiador Carlos Contreras, da PUC do Peru.
O Peru é o terceiro principal destino dos investimentos chilenos no exterior. Foram US$ 7,2 bilhões desde 1990, dos quais US$ 678 milhões no primeiro semestre de 2009. São recursos alocados sobretudo no setor de serviços (59%), com destaque ao comércio varejista, e de energia (28%).
"O capital chileno está muito presente em atividades cotidianas no Peru, como lojas de departamentos, supermercados, e isso gera entre a população uma sensação de invasão econômica", diz Contreras.
Diante desse avanço, diz o sociólogo Aldo Panfichi, da PUC do Peru, setores nacionalistas aproveitam para lembrar que as invasões chilenas na Guerra do Pacífico (1879-1884), em que o Peru perdeu parte do território para o vizinho, foram antecedidas por investimentos maciços do Chile em regiões sob litígio à época.
Para Panfichi, o episódio de espionagem deu margem para García promover uma ofensiva político-diplomática contra o Chile, que, imerso na reta final da sucessão presidencial, permanece na defensiva. "O Chile está desconcertado, dando respostas evasivas."

Gastos militares
Motivo de inquietação no Peru, as compras de armas chilenas atingiram cerca de US$ 2,1 bilhões de 2003 a 2007, e o país passou a 12º no ranking mundial e primeiro no latino-americano de receptores de armamentos, aponta estudo do Observatório Político Sul-Americano. Ao lado da Venezuela, o Chile foi o país que mais incrementou a importação de armas na região desde 2005.
Os gastos são impulsionados por lei que destina às Forças Armadas 10% do dinheiro das vendas do cobre, principal produto de exportação chileno. Contrastam com a campanha de García para promover o desarmamento na região e deterioram ainda mais a relação.
"As relações entraram em um outro caminho, se politizaram, e vai ser difícil que García retroceda", diz Panfichi.
A Folha procurou ouvir os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores do Chile, que não se manifestaram. (TG)


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