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São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

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ARGENTINA

Após atingir pico em julho, aval ao atual governo chega a 51,8%; imagem pessoal do presidente continua alta

Aprovação à gestão Kirchner cai 21,2 pontos

Pablo Cuarterolo/France Presse
Em Buenos Aires, encapuzados participam de ato para lembrar a queda do governo De la Rúa; bomba na passeata feriu 25 pessoas


CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

A avaliação positiva do governo argentino sofreu uma queda de mais de 20 pontos percentuais de julho a dezembro de 2003, chegando agora ao seu nível mais baixo desde o início do mandato do presidente Néstor Kirchner, em maio deste ano.
No entanto, assim como no Brasil, a aprovação do presidente, apesar de ter sofrido leve queda no mesmo período, continua alta: 77%. Esse percentual é superior ao registrado pelos presidentes que o antecederam desde Carlos Menem (1989-99). Os resultados constam de pesquisa das consultorias Ipsos e Mora y Araujo, divulgada ontem, que ouviu 1.200 argentinos entre os dias 27 de novembro e 1º de dezembro.
A pesquisa confirma tendência de baixa na aprovação do governo, após ter alcançado um pico em julho, com 73%. Desde então, foi registrada uma taxa de aprovação de 67,1% em setembro e de 51,8% neste último levantamento -o índice de reprovação não foi divulgado.
A imagem positiva do presidente sofreu uma queda de seis pontos percentuais em relação a julho, chegando a 77% em dezembro. A margem de erro da pesquisa é de 2,8 pontos percentuais.

Descolamento
O levantamento confirma ainda uma tendência de descolamento entre a avaliação que a população faz do governo e do presidente, que também se verifica no Brasil.
Pesquisa Datafolha divulgada em 2 de novembro apontou uma diferença de 18 pontos percentuais entre a avaliação pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -considerada ótima ou boa por 60% dos entrevistados- e a avaliação do governo -apontado como ótima por 42%. Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, a aprovação do governo brasileiro continua nos 42%, mas não foi avaliada a imagem do presidente.
No caso argentino, o hiato entre a avaliação positiva do presidente e a do governo é ainda maior: 26 pontos percentuais.
Segundo o pesquisador Manuel Mora y Araujo, responsável pelo levantamento, a explicação para esse descolamento é o "choque da realidade". "A forte imagem do presidente e de seu governo no começo tinha um componente muito forte de expectativa, de esperança", disse.
"Com o passar dos meses, as pessoas começam a valorizar também a realidade, que está melhor em alguns casos, mas não é tão boa. A meu ver, o juízo sobre a realidade castiga um pouco mais o governo, enquanto as expectativas seguem colocadas sobre a figura do presidente", avaliou.

Piqueteiros
Segundo Mora y Araujo, a política oficial em relação ao movimento piqueteiro é um dos temas em que a população tem manifestado desacordo com o governo.
"Essa é uma parte da realidade, a parte mais dura, e o governo não consegue impedir o problema. Há uma demanda para que a ação do governo seja mais dura", afirmou.
Mora y Araujo lembrou ainda que a medição anterior, em julho, coincidiu com a investida do governo Kirchner contra diversas instituições desacreditadas pela população, como as Forças Armadas e policiais. "Mas os resultados não se concretizaram tão rapidamente", disse.
É o caso das leis de anistia Ponto Final e Obediência Devida, cujas anulações o governo começou a impulsionar no meio do ano, mas que ainda esperam uma decisão da Suprema Corte.

Economia
A pesquisa avaliou ainda o nível de expectativa da população em relação ao desempenho da economia do país em 2004. Afirmaram crer que a situação econômica estará melhor dentro de um ano 41% dos entrevistados, enquanto 44% acreditam que ficará igual. Para 11%, a situação do país estará pior em um ano.



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