São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA DE INTELIGÊNCIA

Chefe da inteligência herdará conflitos

Dennis Blair terá de coordenar 16 agências com divergências internas e disputas entre si; Obama deve indicá-lo no início do ano

Almirante da reserva foi preterido durante o governo Bush por ser considerado independente e não afim à política externa republicana


DO "NEW YORK TIMES"

A nomeação prevista por Barack Obama de Dennis C. Blair para diretor de inteligência nacional colocará o almirante da reserva na posição de ter de coordenar 16 agências de inteligência, muitas das quais com divergências entre elas, e enxugar um órgão criticado por muitos no Congresso por ser burocraticamente inchado.
Como mestre da espionagem nacional, se sua nomeação for confirmada, Blair será em alguns dias a primeira pessoa a saudar Obama pela manhã, levando-lhe um dossiê das ameaças que o país enfrenta. Assessores da transição disseram que Blair vai ajudar Obama a selecionar o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), o que pode lhe conferir uma posição de hegemonia nas disputas internas que ainda criam dificuldades na comunidade de espionagem.
A escolha desse nome vem representando uma dor de cabeça especial, na medida em que o presidente eleito procura uma pessoa que seja profundamente versada em questões de terrorismo e contraproliferação, mas que não esteja estreitamente vinculada a políticas controversas do governo Bush, como métodos de interrogatório e o grampeamento de civis.
Assessores de Obama disseram que o anúncio oficial da escolha de Blair como diretor de inteligência, um cargo criado na esteira dos ataques de 11 de setembro de 2001, não é previsto para antes de janeiro, depois de o presidente eleito retornar de suas férias no Havaí. O mais provável é que Obama anuncie seu escolhido para chefiar a CIA no mesmo momento.
Dennis Blair tem fama de digerir rapidamente informações complexas e muitas vezes conflitantes, mas seu passado na Marinha suscitou questionamentos de alguns parlamentares quanto à "militarização" da inteligência num momento em que o Pentágono ainda controla uma parte significativa do orçamento de inteligência.
O atual diretor, Mike McConnell, também é almirante da reserva. O chefe da CIA, Hayden, é general aposentado da Força Aérea.
Blair obteve seu mestrado na Universidade Oxford, onde estudou com bolsa de estudos Rhodes, e fala russo.
Enquanto dirigiu o Comando dos EUA no Pacífico, entre 1999 e 2002, ele foi elogiado pelas operações de contraterrorismo que comandou contra o grupo Abu Sayyaf, das Filipinas, onde Seals da Marinha e agente da CIA trabalharam com o Exército filipino para capturar ou matar membros da rede em partes isoladas do país.
Mas ele entrou em choque com parlamentares e funcionários do Departamento de Estado em torno de seus esforços para estreitar os laços com os militares da Indonésia, que via como força moderadora importante nesse país muçulmano.
Alguns funcionários em Washington fizeram objeções ao fato de o Pentágono tratar com Forças Armadas que têm um longo histórico de abusos dos direitos humanos.

Estrela
Em 2001, Blair era uma das estrelas mais brilhantes do firmamento militar: almirante com currículo de platina, visto por muitos como nome certeiro para tornar-se o próximo chefe do Estado-Maior Conjunto.
Mas o então secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, o considerou demasiado independente e que estava fora de compasso com partes da agenda de política externa do presidente Bush, especialmente no tocante à ameaça militar da China. Ademais, era amigo de longa data do ex-presidente Bill Clinton.
Blair foi preterido para o cargo e acabou passando para a reserva. Na vida civil, Blair comandou o Instituto de Análises de Defesa, um grupo sem fins lucrativos no norte da Virgínia que faz trabalhos para o Pentágono.


Tradução de CLARA ALLAIN


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