São Paulo, terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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Funeral de aiatolá vira ato antirregime no Irã

Oposição sai em massa às ruas da cidade sagrada de Qom para prestar homenagem a Montazeri, crítico da reeleição de Ahmadinejad

Simpatizantes do governo reagiram com violência e chegaram a interromper serviço fúnebre; carro de líder opositor foi atacado


Efe
Multidão de iranianos acompanha na cidade de Qomo funeral do aiatolá Hossein Ali Montazeri, morto anteontem aos 87 anos

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Milhares de pessoas acompanharam ontem o funeral do grão-aiatolá Hossein Ali Montazeri, numa maciça demonstração de influência do clérigo tido como o padrinho religioso da oposição iraniana.
Realizado na cidade de Qom, no norte do país, em vários momentos o cortejo fúnebre se transformou em mais um protesto contra o governo.
Segundo testemunhos divulgados na internet, driblando a censura oficial, o funeral foi acompanhado de palavras de ordem contra o regime, que provocaram a reação da polícia e de milícias pró-governo.
As cenas de violência lembraram os confrontos ocorridos seis meses atrás, quando a oposição foi reprimida nas ruas do país por contestar a legitimidade da reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Desde então, os protestos e a repressão vêm se repetindo em datas festivas como o aniversário da Revolução Islâmica de 1979 e o Dia do Estudante.
Diante da proibição à entrada de jornalistas estrangeiros em Qom, os relatos sobre as manifestações de ontem foram limitados aos sites iranianos e aos comentários, vídeos e fotos enviados por pessoas que compareceram ao funeral. Não é possível precisar o número de presentes, mas as imagens disponíveis mostraram um mar de gente em torno do féretro.
Simpatizantes do governo responderam com violência, não evitada pela polícia. Segundo o site de notícias iraniano Ayande, chegaram a interromper o serviço fúnebre, rasgando cartazes e agredindo manifestantes na mesquita Azam, uma das principais de Qom, cidade considerada sagrada para muçulmanos xiitas.

Trajetória
Montazeri, morto de ataque cardíaco no domingo aos 87 anos, foi um dos arquitetos da Revolução Islâmica de 1979, que derrubou o xá Reza Pahlevi e instaurou a teocracia no Irã, e chegou a ser cotado para substituir o líder supremo Ruhollah Khomeini. Com os anos, contudo, tornou-se um dos mais eloquentes críticos do regime. Sua insatisfação cresceu com a reeleição de Ahmadinejad, que chamou de fraudulenta.
A mobilização pela morte de Montazeri aumenta a pressão interna sobre o regime de Teerã, ao amplificar o apoio popular às posições críticas personificadas pelo clérigo xiita.
Assim que sua morte foi anunciada, líderes da oposição, incluindo os ex-candidatos à Presidência Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi, decretaram luto nacional e convocaram seus seguidores a viajar a Qom para o funeral.
O governo esboçou a intenção de impor um bloqueio à cidade com tropas de choque para evitar o alto comparecimento. Mas voltou atrás, aparentemente concluindo que não valia a pena arriscar um grande confronto com a oposição no funeral de uma personalidade tão respeitada.
Transportado no topo de um caminhão, o corpo de Montazeri arrastou uma multidão pelas ruas de Qom até ser sepultado ao lado de um dos filhos do clérigo, morto na guerra Irã-Iraque. Slogans políticos acompanharam o cortejo: "Montazeri não está morto, o governo está morto", foi um deles.
Numa rara aparição pública, Mousavi acompanhou a cerimônia e foi hostilizado por simpatizantes do governo. Segundo o site reformista Kaleme, o carro de Mousavi teve vidros quebrados por simpatizantes de Ahmadinejad quando deixava a cidade, e um dos assessores do ex-candidato ficou ferido.

Com agências internacionais



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