São Paulo, terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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Camboja nega asilo a muçulmanos chineses

ONU e organizações de direitos humanos protestam contra deportação de 20 uigures de volta à China

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O governo do Camboja devolveu no fim de semana 20 muçulmanos uigures que fugiram da China no mês passado e pediam asilo político.
O grupo de uigures, minoria étnica de língua turca do extremo oeste chinês, foi deportado na madrugada de sábado para domingo apesar do protesto de agências das Nações Unidas, organizações pró-direitos humanos e do governo americano, que acusam o Camboja de não respeitar procedimentos internacionais aplicados a quem requisita asilo político.
A China diz que os deportados são suspeitos de crimes nos violentos distúrbios étnicos de julho passado no oeste do país, entre uigures e chineses da etnia majoritária han, quando morreram 190 pessoas.
O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou ontem, em comunicado, que a atitude do Camboja "respeitou as regras de imigração" e que os uigures foram recebidos "de acordo com as práticas usuais", mas não disse onde eles estão nem se serão processados.
Alguns dos deportados disseram a membros do Alto Comissariado da ONU para Refugiados no Camboja que eram perseguidos na China e que não podiam praticar sua religião. Afirmaram temer por suas vidas se voltassem à China.
Um dos deportados, um uigur de 29 anos da cidade de Kashgar, disse que tinha fotos e vídeos da repressão policial contra um protesto de uigures em 5 de julho. O protesto policial foi respondido com ataques de uigures a civis chineses (da maioria han) que estavam nas ruas e até dentro de carros.
"Se eu for devolvido para a China, tenho certeza que serei condenado à prisão perpétua ou à pena de morte", disse ele, segundo ficha escrita pelo alto comissariado, admitindo que deu fotos e vídeos a jornalistas estrangeiros.
Os uigures foragidos, entre eles duas crianças, saíram de Xinjiang, a Província onde mora a minoria étnica, escaparam pela fronteira com o Vietnã e depois para o Camboja, ajudados por uma rede de missionários cristãos.
O governo cambojano considerou que os uigures violaram as leis de imigração e que não tinham visto.

Investimentos chineses
A devolução ocorreu dois dias depois da chegada à capital cambojana, Phnom Penh, do vice-presidente chinês, Xi Jinping. Ele assinará 14 acordos econômicos com o Camboja, que envolvem construção de infraestrutura e empréstimos. A China já investiu US$ 1 bilhão no país.
A Anistia Internacional atacou a deportação, dizendo que o Camboja é signatário de uma convenção internacional que proíbe a devolução de candidatos a asilo político a países onde possam sofrer perseguição.
"Desde setembro de 2001, a Anistia Internacional tem documentado casos de uigures que pedem asilo e que são retornados à força para a China, onde acabam sofrendo tortura, detenção e até são condenados à morte", disse Sam Zarifi, diretor da organização, em uma carta aberta.
Cerca de 700 uigures foram detidos pela polícia chinesa nos dias seguintes aos violentos distúrbios de julho -o estopim dos protestos foi o assassinato de jovens uigures no sul da China. Dezessete pessoas foram condenadas à morte. O Poder Judiciário chinês é um braço do Partido Comunista. A maioria dos casos criminais na China não tem advogado de defesa.
Não se sabe também da situação legal de mil tibetanos presos em março do ano passado, durante distúrbios violentos em Lhasa pedindo mais autonomia para o Tibete.


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