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Camboja nega asilo a muçulmanos chineses
ONU e organizações de direitos humanos protestam contra deportação de 20 uigures de volta à China
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O governo do Camboja devolveu no fim de semana 20
muçulmanos uigures que fugiram da China no mês passado e
pediam asilo político.
O grupo de uigures, minoria
étnica de língua turca do extremo oeste chinês, foi deportado
na madrugada de sábado para
domingo apesar do protesto de
agências das Nações Unidas,
organizações pró-direitos humanos e do governo americano, que acusam o Camboja de
não respeitar procedimentos
internacionais aplicados a
quem requisita asilo político.
A China diz que os deportados são suspeitos de crimes nos
violentos distúrbios étnicos de
julho passado no oeste do país,
entre uigures e chineses da etnia majoritária han, quando
morreram 190 pessoas.
O Ministério das Relações
Exteriores da China afirmou
ontem, em comunicado, que a
atitude do Camboja "respeitou
as regras de imigração" e que os
uigures foram recebidos "de
acordo com as práticas usuais",
mas não disse onde eles estão
nem se serão processados.
Alguns dos deportados disseram a membros do Alto Comissariado da ONU para Refugiados no Camboja que eram perseguidos na China e que não
podiam praticar sua religião.
Afirmaram temer por suas vidas se voltassem à China.
Um dos deportados, um uigur de 29 anos da cidade de
Kashgar, disse que tinha fotos e
vídeos da repressão policial
contra um protesto de uigures
em 5 de julho. O protesto policial foi respondido com ataques
de uigures a civis chineses (da
maioria han) que estavam nas
ruas e até dentro de carros.
"Se eu for devolvido para a
China, tenho certeza que serei
condenado à prisão perpétua
ou à pena de morte", disse ele,
segundo ficha escrita pelo alto
comissariado, admitindo que
deu fotos e vídeos a jornalistas
estrangeiros.
Os uigures foragidos, entre
eles duas crianças, saíram de
Xinjiang, a Província onde mora a minoria étnica, escaparam
pela fronteira com o Vietnã e
depois para o Camboja, ajudados por uma rede de missionários cristãos.
O governo cambojano considerou que os uigures violaram
as leis de imigração e que não
tinham visto.
Investimentos chineses
A devolução ocorreu dois
dias depois da chegada à capital
cambojana, Phnom Penh, do
vice-presidente chinês, Xi Jinping. Ele assinará 14 acordos
econômicos com o Camboja,
que envolvem construção de
infraestrutura e empréstimos.
A China já investiu US$ 1 bilhão
no país.
A Anistia Internacional atacou a deportação, dizendo que
o Camboja é signatário de uma
convenção internacional que
proíbe a devolução de candidatos a asilo político a países onde
possam sofrer perseguição.
"Desde setembro de 2001, a
Anistia Internacional tem documentado casos de uigures
que pedem asilo e que são retornados à força para a China,
onde acabam sofrendo tortura,
detenção e até são condenados
à morte", disse Sam Zarifi, diretor da organização, em uma
carta aberta.
Cerca de 700 uigures foram
detidos pela polícia chinesa nos
dias seguintes aos violentos
distúrbios de julho -o estopim
dos protestos foi o assassinato
de jovens uigures no sul da China. Dezessete pessoas foram
condenadas à morte. O Poder
Judiciário chinês é um braço do
Partido Comunista. A maioria
dos casos criminais na China
não tem advogado de defesa.
Não se sabe também da situação legal de mil tibetanos
presos em março do ano passado, durante distúrbios violentos em Lhasa pedindo mais autonomia para o Tibete.
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