São Paulo, quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Na aviação civil, os tempos mudaram, e o tempo mudou

JORGE EDUARDO LEAL MEDEIROS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O transporte aéreo já foi de elite, cresceu, democratizou- -se, e, hoje, ele se massifica.
Associar serviços de bordo oferecidos pela saudosa Varig -como feijoada servida à francesa na classe econômica em 1969- às baixas tarifas atuais é esquecer que não existem jantares de graça.
Os grandes aumentos anuais de demanda, como 18% no ano passado e cerca de 25% neste ano, confirmam esta popularização do transporte aéreo. Mas é uma lástima que os responsáveis por ele -governo e empresas- não lhes deem a atenção, que se traduziria por planejamento estruturado.
Tivesse isto ocorrido, os atrasos e congestionamentos, mais ainda nesta época do ano, não estariam ficando corriqueiros, e poderiam até mesmo esvaziar eventuais ameaças de greve.
Aos passageiros e usuários em geral, infelizmente sobra pouco mais do que seguir o conselho da antiga ministra.
Por outro lado, observamos o impacto maior decorrente de radicais mudanças climáticas.
Primeiro, um vulcão islandês mexe com todo o tráfego aéreo europeu, com sobras para todos. E agora, uma nevasca mais forte repete a dose na Europa. Se estamos a lidar com decorrências de aquecimento global ou de ciclos naturais da terra, é uma causa científica. O que temos a fazer é reduzir impactos.
Nevascas deste tipo são normais no Canadá, e em alguns países europeus, notadamente os do norte. Nos demais, há que se investir em equipamentos que minimizem os transtornos causados, só lembrando que, quanto maior a certeza de evitá-los, maior será o custo.
E em ambientes de alta competição, que lá fora incluem aeroportos, investimentos são vistos com muita cautela Mas por outro lado, há ações de baixo custo que podem reduzir estes impactos.
Uma das principais é uma comunicação ágil com os usuários, tanto por parte das empresas, dos aeroportos como do governo/agência.
Uma empresa, ao vender uma passagem, tem toda a condição de estabelecer um canal de comunicação digital com o comprador, a ser sempre utilizado para mensagens como "seu voo está atrasado 12 horas; não venha para o aeroporto até ser avisado"; ou ainda "tudo bem; seu voo está confirmado".
Um aeroporto, em parceria com a empresa, pode fazer o mesmo para informar os passageiros já aceitos para um voo: "seu portão de embarque mudou".
Já pensou ainda no quanto isto poderia reduzir a poluição sonora dentro dos próprios terminais? Um pouco de bom senso e vontade de ajudar o passageiro, e, portanto, a si mesmo no longo prazo, podem fazer maravilhas. Esperemos que Anac continue a nos defender, e evite atitudes como a de sua parceira no tocante às nossas contas de luz.

JORGE EDUARDO LEAL MEDEIROS, 63, é engenheiro aeronáutico e professor da Escola Politécnica-USP. Foi diretor da Vasp, Varig, Atech, e Translor/Ryder


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