São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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Agências têm de trabalhar com o Irã, diz novo diretor de inteligência

DE WASHINGTON

Futuro "czar da inteligência" dos Estados Unidos, Dennis Blair disse ontem que as agências americanas devem procurar maneiras de trabalhar com o Irã em assuntos de interesse mútuo. Tais agências podem "ajudar os fazedores de política a identificar e entender outros líderes e forças políticas" no Irã, além dos que pregam uma visão antiamericana, afirmou em sua audiência de confirmação do cargo na Comissão de Inteligência do Senado.
Almirante reformado, Blair é o escolhido por Obama para ser o diretor de Inteligência Nacional, que em tese supervisiona as 16 agências de inteligência norte-americanas -entre elas a CIA-, que empregam 100 mil pessoas e têm um orçamento conjunto de US$ 50 bilhões. Criado pelo ex-presidente George W. Bush em seu segundo mandato, o cargo ainda "não pegou" -os chefes dos departamentos relutam em se submeter à autoridade do diretor.
Quanto às ordens executivas assinadas ontem por Obama, Dennis Blair mostrou que está de acordo de maneira geral e prometeu executá-las com rigor. "Não é o suficiente apenas estabelecer um padrão e o anunciar", disse. A prisão de Guantánamo se tornou "um símbolo danoso para o mundo, de recrutamento para terroristas e prejudicial à nossa segurança".
Sobre a prática de tortura, disse que "não é moral, legal ou efetiva". "Qualquer programa de detenção e interrogatório tem de estar de acordo com as Convenções de Genebra, as Convenções sobre Tortura e a Constituição [dos EUA]", afirmou. "É preciso haver padrões claros para tratamento humano que se aplique a todas as agências do governo norte-americano, incluindo a comunidade de inteligência."

Tortura ou não?
Blair recusou-se a classificar o "waterboarding" (simulação de afogamento) como tortura, no entanto, algo que o indicado por Obama para secretário da Justiça, Eric Holder, havia feito em sua audiência de confirmação. "Estou hesitante em determinar um padrão aqui que pode colocar em risco alguns dos dedicados oficiais de inteligência que checaram para saber se o que estavam fazendo era legal e então fizeram o que foram ordenados a fazer", afirmou.
A pedido da Casa Branca de Bush, conselheiros legais fizeram memorandos que afirmavam que a prática da simulação de afogamento não era tortura, portanto, não era ilegal. Muitos funcionários das agências de inteligência, principalmente a CIA, dizem hoje temer ser processados por terem agido de acordo com o que imaginavam ser legal à época.
Obama já se manifestou contra investigar casos do passado com o objetivo de punir os responsáveis, embora tenha dito ontem que quer que todos os casos dos prisioneiros de Guantánamo sejam revisados para saber se houve confissão obtida sob tortura. Seja como for, de agora em diante, disse Blair, "não haverá "waterboarding" sob meu comando. Não haverá tortura sob meu comando".
O almirante da reserva não especificou como fará para mudar essa cultura nas agências ou mesmo para garantir que a prática seja coibida. (SD)


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