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China rebate EUA, e conflito sobre Google vira ameaça à relação
Pequim nega ferir liberdade na internet; controvérsia sobre site se soma a outras divergências bilaterais
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A China atacou ontem o discurso da secretária de Estado
americana, Hillary Clinton,
que criticava a censura na internet chinesa e seu pedido que
a espionagem contra o Google
seja apurada.
"Os EUA insinuaram que a
China restringe a liberdade na
internet. Isso não condiz com
os fatos e prejudica as relações
entre China e EUA", publicou
ontem o site da Chancelaria
chinesa. "Solicitamos aos EUA
respeitar a verdade e que parem de usar a chamada liberdade na internet para fazer acusações sem fundamento contra a
China", afirmou o texto.
Com a desculpa de uma campanha antipornografia, a China
bloqueou sites como Youtube,
Facebook, Twitter, Google.docs e Blogspot. Na terça-feira da semana passada, o Google acusou a China de invadir e-mails de ativistas de direitos
humanos e de fazer ciberespionagem no Gmail.
Não é a primeira vez que a
China é acusada de tentar se infiltrar em redes informáticos
nos EUA - outras 36 empresas
americanas sofreram ataques
do gênero, mas o Google foi
além, dizendo que iria deixar de
censurar seu mecanismo na
China, o que pode obrigar a empresa a deixar o país.
A resposta chinesa demorou
para acontecer, mais por razões
domésticas que externas. Apesar de contar com apenas 32%
do mercado de buscas chinês,
80% dos usuários do Google.cn
são das classes altas e mais escolarizadas que o preferem em
detrimento do local Baidu.com.
Em todas as campanhas nacionalistas lançadas pelo regime comunista, os jovens internautas costumam ser os mais
estridentes defensores do governo. Desta vez, porém, vários
usuários estão defendendo o
Google, então o governo chinês
tem sido cauteloso na reação.
Não faltam contenciosos entre EUA e China atualmente.
Os americanos acusam o país
de manter o câmbio de sua
moeda artificialmente congelado, o que deixa os produtos chineses mais baratos para invadir
o mercado americano.
A China rejeita sanções pedidas pelos EUA contra o programa nuclear do Irã. Pequim e
Washington se culpam mutuamente pelo fracasso da cúpula
de Copenhague sobre o clima.
Na internet, além da censura,
a batalha é comercial. Os principais sites chineses são cópias
dos grandes sites americanos,
que enfrentam barreiras para
se instalar no país.
O Baidu.com, que é líder com
60% das buscas na internet chinesa, copia aplicativos do Google e do Wikipedia. Firmou-se
nos últimos anos ao permitir
que usuários baixem arquivos
de músicas e de filmes e seriados americanos pirateados.
O governo chinês apoia os sites locais pelo bom relacionamento de seus donos com o
Partido Comunista, mas também pela lealdade e autocensura que impõem ao conteúdo.
A operação chinesa do Google responde por apenas US$
300 milhões dos US$ 22 bilhões do faturamento da empresa, o que permite que o gigante da internet ouse criticar
o governo chinês em público.
Desde 2006, o Google.cn se
submeteu às leis chinesas e
censurava qualquer busca sobre o dalai-lama, o massacre na
Praça da Paz Celestial, a independência de Taiwan ou a seita
Falun Gong. Há 380 milhões de
usuários na internet chinesa, a
maior do mundo.
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