São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 2010

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China rebate EUA, e conflito sobre Google vira ameaça à relação

Pequim nega ferir liberdade na internet; controvérsia sobre site se soma a outras divergências bilaterais

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China atacou ontem o discurso da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que criticava a censura na internet chinesa e seu pedido que a espionagem contra o Google seja apurada.
"Os EUA insinuaram que a China restringe a liberdade na internet. Isso não condiz com os fatos e prejudica as relações entre China e EUA", publicou ontem o site da Chancelaria chinesa. "Solicitamos aos EUA respeitar a verdade e que parem de usar a chamada liberdade na internet para fazer acusações sem fundamento contra a China", afirmou o texto.
Com a desculpa de uma campanha antipornografia, a China bloqueou sites como Youtube, Facebook, Twitter, Google.docs e Blogspot. Na terça-feira da semana passada, o Google acusou a China de invadir e-mails de ativistas de direitos humanos e de fazer ciberespionagem no Gmail.
Não é a primeira vez que a China é acusada de tentar se infiltrar em redes informáticos nos EUA - outras 36 empresas americanas sofreram ataques do gênero, mas o Google foi além, dizendo que iria deixar de censurar seu mecanismo na China, o que pode obrigar a empresa a deixar o país.
A resposta chinesa demorou para acontecer, mais por razões domésticas que externas. Apesar de contar com apenas 32% do mercado de buscas chinês, 80% dos usuários do Google.cn são das classes altas e mais escolarizadas que o preferem em detrimento do local Baidu.com.
Em todas as campanhas nacionalistas lançadas pelo regime comunista, os jovens internautas costumam ser os mais estridentes defensores do governo. Desta vez, porém, vários usuários estão defendendo o Google, então o governo chinês tem sido cauteloso na reação.
Não faltam contenciosos entre EUA e China atualmente. Os americanos acusam o país de manter o câmbio de sua moeda artificialmente congelado, o que deixa os produtos chineses mais baratos para invadir o mercado americano.
A China rejeita sanções pedidas pelos EUA contra o programa nuclear do Irã. Pequim e Washington se culpam mutuamente pelo fracasso da cúpula de Copenhague sobre o clima.
Na internet, além da censura, a batalha é comercial. Os principais sites chineses são cópias dos grandes sites americanos, que enfrentam barreiras para se instalar no país.
O Baidu.com, que é líder com 60% das buscas na internet chinesa, copia aplicativos do Google e do Wikipedia. Firmou-se nos últimos anos ao permitir que usuários baixem arquivos de músicas e de filmes e seriados americanos pirateados.
O governo chinês apoia os sites locais pelo bom relacionamento de seus donos com o Partido Comunista, mas também pela lealdade e autocensura que impõem ao conteúdo.
A operação chinesa do Google responde por apenas US$ 300 milhões dos US$ 22 bilhões do faturamento da empresa, o que permite que o gigante da internet ouse criticar o governo chinês em público.
Desde 2006, o Google.cn se submeteu às leis chinesas e censurava qualquer busca sobre o dalai-lama, o massacre na Praça da Paz Celestial, a independência de Taiwan ou a seita Falun Gong. Há 380 milhões de usuários na internet chinesa, a maior do mundo.


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