|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Guantánamo deterá 50 sem julgamento
Decisão dos EUA alonga indefinidamente fechamento da prisão em Cuba, inicialmente prometida para ontem por Obama
Após revisão da situação de
quase 200 presos, a Casa
Branca afirmou ainda que
transferirá 110 e processará
35 em território americano
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
Em ação que elimina qualquer horizonte temporal para o
fechamento da prisão de Guantánamo, o governo do presidente Barack Obama decidiu
que manterá na base militar em
Cuba sem julgamento e por
tempo indeterminado ao menos 50 de seus atuais detentos.
O anúncio foi feito no dia do
fim do prazo original de um ano
dado por Obama dois dias após
sua posse, em janeiro passado,
para o fechamento da prisão.
A força-tarefa do Departamento da Justiça responsável
pela recomendação revisou a
situação de cada um dos cerca
de 200 presos que restam em
Guantánamo. Além dos 50 que
permanecerão detidos sem julgamento, 110 deverão ser transferidos ou liberados, e 80 serão
julgados nos EUA, em tribunais
militares ou federais.
Os planos de eventualmente
retirar todos os presos da ilha
cubana continuam válidos, porém, adiados. O governo anunciou em dezembro intenção de
adquirir a prisão de segurança
máxima de Thomson (Estado
de Illinois) para abrigar detentos de Guantánamo, mas enfrenta grandes desafios para
cumprir a meta devido à oposição do Congresso -é preciso
uma mudança na legislação para permitir o movimento.
A decisão marca o aprofundamento de uma mudança de
curso do governo Obama quanto ao terrorismo, que o tem levado a se aproximar de posições de seu antecessor, George
W. Bush (2001-2009). O democrata também foi inicialmente
contra julgamentos em comissões militares -criadas por
Bush assim como a prisão em
Guantánamo- mas acabou cedendo, ainda que com revisões.
Os 50 presos que serão mantidos sem julgamento são considerados perigosos demais para soltura devido a laços com
redes extremistas. Mas o governo acha impossível julgá-los,
em geral porque a cadeia de
provas foi corrompida -por
exemplo com confissões obtidas mediante tortura.
Grupos de defesa dos diretos
humanos afirmam, porém, que
não existe estatuto legal que
permita manter presos sem julgamento indefinidamente
-em Guantánamo ou fora.
"O governo não deve criar
uma "Guantánamo do Norte"
trazendo presos para os EUA e
os detendo ilegalmente", disse
Anthony Romero, diretor da
União Americana pelas Liberdades Civis. "Se isso for feito, o
fechamento da prisão será reduzido a um gesto simbólico."
Um funcionário da Casa
Branca se justificou ao "Washington Post" dizendo que "toda política acaba encontrando a
realidade, e é doloroso". "Mas
essa [opção] parece ser melhor
que as outras", afirmou.
Iemenitas
Outras recomendações da
força-tarefa também são problemáticas. Uma questão primordial é a existência de iemenitas no grupo de 110 presos
que poderiam ser repatriados.
Depois que o nigeriano Umar
Farouk Abdulmutallab, treinado no Iêmen, tentou se explodir em um voo americano no
Natal, a Casa Branca havia suspendido a transferência de iemenitas de Guantánamo.
Cerca de 30 deles ficarão
com a transferência pendente
até que o governo considere
que a situação no Iêmen, que
empreende uma ofensiva contra a Al Qaeda, se estabilizou
-avaliação que pode demorar.
Um estudo do Pentágono divulgado no começo do mês afirma que 20% dos suspeitos de
terrorismo liberados de Guantánamo atuam hoje em grupos
radicais. Obama repatriou ou
enviou para outros países 44
detentos de Guantánamo.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Quase 50% das doações brasileiras ao país não têm utilidade imediata Próximo Texto: China rebate EUA, e conflito sobre Google vira ameaça à relação Índice
|