São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2011

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Murmúrios não afetam relação, afirma ex-embaixador chinês

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Em 1974, quando integrou a missão que restabeleceu as relações diplomáticas entre Brasil e China, o diplomata Chen Duqing lembra que o comércio bilateral movimentava US$ 17 milhões/ano.
"Hoje, em um único dia, o comércio chega aos US$ 100 milhões", compara Chen, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Academia de Ciências Sociais, em Pequim, inaugurado em 2009 com a presença do presidente Lula.
Nesses 37 anos, o conhecimento de Chen sobre o Brasil também se multiplicou. Até deixar o cargo de embaixador, em 2009, foram 13 anos no país, entre São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Com a experiência de períodos tão diferentes como a ditadura militar e o governo Lula, Chen não prevê mudanças radicais nas relações sob Dilma Rousseff.
"Não vejo nada que nos possa trazer uma surpresa ruim", afirmou à Folha Chen, 63, num português quase perfeito.
"Há certos murmúrios, sobretudo no setor comercial, de que a China continua vendendo muito no Brasil, mas isso faz parte do jogo e não vai afetar as relações de forma radical."
Em tom de conselho, Chen compara uma boa relação comercial a andar de bicicleta. "O importante é pedalar e andar pra frente. Se parar para tentar o equilíbrio, cai."
O ex-embaixador acredita que um pouco do descontentamento brasileiro com a China será dissipado com a consolidação de investimentos, como a montadora de veículos Chery e a fabricante de equipamentos para construção Sany.
"Isso já facilitará porque a China deixará de vender apenas e passará a ajudar no problema do desemprego."

FALHA NOSSA
Sobre a resistência brasileira a investimentos chineses na produção de minério de ferro, Chen cutuca a Vale: "Há uma empresa que monopoliza quase totalmente a produção e a exportação, e isso não faz bem à economia brasileira".
Chen diz que não há ameaça de os investimentos chineses no Brasil afetarem o preço do minério de ferro, prejudicando o país.
"O preço vai ser decidido pelo mercado internacional, e não somente por uma mina a mais produzindo. Há vários países fornecedores."
O diplomata lembra que, no passado, o Brasil buscou investimentos chineses para a mineração, sem sucesso.
"Nas décadas de 1980 e 1990, o Brasil tentou a parceria chinesa para investir [em minério de ferro]. Só que o lado chinês talvez não estivesse ciente dessa importância e não aderiu a essa iniciativa. Foi até uma falha do nosso lado", diz.


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