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SUCESSÃO NOS EUA / ESCÂNDALO
McCain une direita e divide imprensa
Após denúncia do "New York Times" sobre suposto caso com lobista, Casa Branca defende candidato
Jornalistas questionam a
qualidade da reportagem; vem à tona a presença de ex-lobistas numa campanha baseada em combatê-los
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (TEXAS)
A denúncia de que John
McCain pode ter tido uma relação inapropriada com uma lobista e que teria agido para defender os interesses dela, publicada anteontem pelo "New
York Times", serviu para unir a
direita em torno do senador republicano e dividir a imprensa
norte-americana quanto à qualidade da reportagem.
De quebra, teve como efeito
colateral trazer à tona uma realidade que o pré-candidato, que
baseia sua plataforma na luta
contra lobistas e grupos de
pressão sobre políticos, tentava
esconder: que o comando de
sua campanha é composto por
vários deles, alguns ainda hoje
trabalhando para grupos que
ele diz combater.
Na manhã de ontem, o porta-voz interino da Casa Branca
disse que as pessoas já estavam
"acostumadas" ao "New York
Times" tentar soltar "bombas"
sobre o candidato republicano
nos meses que antecedem a
eleição, às vezes com "manobras incríveis".
Também ontem, o presidente nacional do Partido Republicano, Mike Duncan, distribuiu
e-mails em que pede doações
para que o candidato possa
combater a "desavergonhada
mídia liberal". Até há pouco
tempo, McCain lutava para ser
aceito pela ala mais conservadora do partido.
Até seu arquiinimigo Rush
Limbaugh, radialista da ultradireita, saiu em sua defesa. "Você é um republicano, conservador ou não. Eles [a mídia esquerdista] são serpentes."
Defesa
Com menos intensidade, o
mais influente diário norte-americano sofreu críticas também da imprensa. O editor-executivo da revista "Time",
Rick Stengel, disse que não teria publicado o texto; a "New
Republic" diz que a reportagem
estava "recheada de ações jornalisticamente estranhas", como basear seu argumento central num fato de 1999.
Em conversa on-line com leitores -dos quais mais de 2.500
haviam mandado e-mails contrários à reportagem-, Bill Keller, o editor-executivo do
"New York Times", defendeu a
reportagem. "O princípio [do
texto] foi que (...) esse homem
que preza a honra sobre todas
as coisas e que entende a importância das aparências também tem uma história de ser às
vezes descuidado sobre sua reputação", escreveu.
Não é o primeiro imbróglio
com o nome de McCain. No final dos anos 80, ele quase encerrou a carreira política ao se
envolver no escândalo batizado
Keating Five, em que cinco senadores tentaram influenciar
órgãos federais a beneficiar o
milionário Charles Keating,
mais tarde condenado. Os outros quatro saíram da política.
McCain se defendeu mais
uma vez. "Essas pessoas [lobistas] têm passado honrado e eu
tenho orgulho de tê-los em
meu time", disse ele. "O direito
de representar os interesses de
grupos de americanos é constitucional."
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