São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / ESCÂNDALO

McCain une direita e divide imprensa

Após denúncia do "New York Times" sobre suposto caso com lobista, Casa Branca defende candidato

Jornalistas questionam a qualidade da reportagem; vem à tona a presença de ex-lobistas numa campanha baseada em combatê-los

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (TEXAS)

A denúncia de que John McCain pode ter tido uma relação inapropriada com uma lobista e que teria agido para defender os interesses dela, publicada anteontem pelo "New York Times", serviu para unir a direita em torno do senador republicano e dividir a imprensa norte-americana quanto à qualidade da reportagem.
De quebra, teve como efeito colateral trazer à tona uma realidade que o pré-candidato, que baseia sua plataforma na luta contra lobistas e grupos de pressão sobre políticos, tentava esconder: que o comando de sua campanha é composto por vários deles, alguns ainda hoje trabalhando para grupos que ele diz combater.
Na manhã de ontem, o porta-voz interino da Casa Branca disse que as pessoas já estavam "acostumadas" ao "New York Times" tentar soltar "bombas" sobre o candidato republicano nos meses que antecedem a eleição, às vezes com "manobras incríveis".
Também ontem, o presidente nacional do Partido Republicano, Mike Duncan, distribuiu e-mails em que pede doações para que o candidato possa combater a "desavergonhada mídia liberal". Até há pouco tempo, McCain lutava para ser aceito pela ala mais conservadora do partido.
Até seu arquiinimigo Rush Limbaugh, radialista da ultradireita, saiu em sua defesa. "Você é um republicano, conservador ou não. Eles [a mídia esquerdista] são serpentes."

Defesa
Com menos intensidade, o mais influente diário norte-americano sofreu críticas também da imprensa. O editor-executivo da revista "Time", Rick Stengel, disse que não teria publicado o texto; a "New Republic" diz que a reportagem estava "recheada de ações jornalisticamente estranhas", como basear seu argumento central num fato de 1999.
Em conversa on-line com leitores -dos quais mais de 2.500 haviam mandado e-mails contrários à reportagem-, Bill Keller, o editor-executivo do "New York Times", defendeu a reportagem. "O princípio [do texto] foi que (...) esse homem que preza a honra sobre todas as coisas e que entende a importância das aparências também tem uma história de ser às vezes descuidado sobre sua reputação", escreveu.
Não é o primeiro imbróglio com o nome de McCain. No final dos anos 80, ele quase encerrou a carreira política ao se envolver no escândalo batizado Keating Five, em que cinco senadores tentaram influenciar órgãos federais a beneficiar o milionário Charles Keating, mais tarde condenado. Os outros quatro saíram da política.
McCain se defendeu mais uma vez. "Essas pessoas [lobistas] têm passado honrado e eu tenho orgulho de tê-los em meu time", disse ele. "O direito de representar os interesses de grupos de americanos é constitucional."


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