|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Kosovo leva a confronto de EUA e Rússia
Diplomata russo ameaça com uso da força; Departamento de Estado qualifica a afirmação de "altamente irresponsável"
Putin diz que independência
de Kosovo é "precedente
terrível"; americanos tiram
famílias de diplomatas
após queima de Embaixada
Marko Djurica/Reuters
|
Soldado americano da Otan faz barreira em Kosovo contra protesto sérvio do outro lado da fronteira |
DA REDAÇÃO
As tensões geradas pela declaração unilateral de independência de Kosovo, no domingo,
colocaram ontem em confronto direto os Estados Unidos,
partidários dos kosovares, e a
Rússia, que apóia a Sérvia e não
aceita a secessão do território.
Em Moscou, Dmitri Rogozin,
representante russo na Otan, a
aliança militar ocidental liderada pelos americanos, afirmou
que seu país poderá "utilizar a
força" caso o bloco militar e a
União Européia extrapolem
suas atribuições e contrariem
decisões da ONU sobre Kosovo.
Rogozin não é do primeiro
escalão do Kremlin. A ameaça
teria um peso maior se partisse
de um ministro. É pouco provável que forças russas invadam o
Kosovo, cuja segurança é assegurada por 16 mil militares da
Otan (americanos, britânicos,
franceses ou alemães).
O próprio diplomata, em teleconferência com jornalistas
em Bruxelas, descartou depois
a hipótese de conflito direto.
Mas os Estados Unidos ficaram perplexos. O número três
do Departamento de Estado,
Nicholas Burns, qualificou em
Washington a afirmação de Rogozin de "altamente irresponsável", expressão bastante forte
no jargão diplomático. Ele
exortou o governo russo a repudiar as declarações de seu diplomata, que considerou "cínicas e anacrônicas".
Horas depois o presidente
Vladimir Putin deu declarações. Ignorou Rogozin e afirmou que a independência de
Kosovo é um "precedente terrível" que golpearia "no rosto" as
potências ocidentais. O episódio, disse, "acabará destruindo
todo o sistema de relações internacionais, desenvolvido durante décadas".
Ao mesmo tempo, e sem citar
os Estados Unidos, o porta-voz
da diplomacia russa, Mikhail
Kamynin, responsabilizou os
ocidentais pelos "lamentáveis"
atos de violência ocorridos na
véspera em Belgrado, quando a
embaixada americana foi invadida e incendiada por manifestantes exaltados.
"As forças que apoiaram o reconhecimento unilateral de
Kosovo deveriam estar conscientes das conseqüências dessa decisão", afirmou.
A secretária de Estado Condoleezza resposabilizou o governo sérvio pelo ataque à embaixada. "Eles tinham a obrigação de proteger missões diplomáticas", disse Rice ontem.
"Esperamos que isso não aconteça novamente."
O primeiro-ministro sérvio,
Vojislav Kostunica, lançou um
apelo à calma e condenou duramente a invasão e o início de incêndio, na quinta, da embaixada americana. O ministro da
Defesa, Dragan Sutanovac, afirmou que a quinta-feira "foi um
dos dias mais tristes" da história recente de seu país e acusou
os grupos ultranacionalistas de
insuflarem a violência.
O chanceler sérvio, Vuk Jeremic, disse que os atos de vandalismo "provocaram um grande
prejuízo diplomático" ao país.
A União Européia pediu que
a Sérvia seja mais eficiente na
proteção às missões estrangeiras e advertiu que negociações
sobre a adesão do país ao bloco
seriam suspensas em caso de
novos atos de violência. Em
Washington, o Departamento
de Estado determinou que diplomatas não-essenciais e familiares de todo o pessoal da
embaixada deixem Belgrado.
Novos protestos
Cerca de 5.000 sérvios de
Kosovo -onde são 7% da população- agrediram ontem policiais da ONU com pedras e garrafadas em Kosovska Mitrovica, cidade mineira de 100 mil
habitantes, também habitada
por kosovares de origem albanesa (88% da população).
"Kosovo é da Sérvia e nunca
nos renderemos, apesar da
chantagem da União Européia", gritavam os manifestantes, ao serem dispersados.
Soldados franceses da Otan
não permitiram que moradores
da Sérvia vizinha engrossassem
o grupo. Desde domingo, quando Kosovo declarou unilateralmente sua independência, imóveis ocupados pela Otan e pela
ONU foram vandalizados.
A Província está sob controle
da ONU e da Otan desde 1999,
quando a aliança militar interveio contra a repressão sérvia
aos separatistas kosovares. A
resolução do Conselho de Segurança que pôs fim ao conflito
reconheceu, na época, a soberania sérvia sobre o território.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Para Obama, Hillary admitiu derrota na TV Próximo Texto: Entrevista: Calendário dos EUA ditou independência Índice
|