UOL


São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PELA PAZ

Para organizadores, número foi 250 mil; grupos pró-guerra também foram às ruas nos EUA

Ato reúne ao menos 100 mil em NY

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Milhares de americanos saíram às ruas ontem pelo país para protestar contra o ataque ao Iraque.
A maior manifestação aconteceu em Nova York, cidade que mais sofreu com os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e onde o apoio à guerra é substancialmente menor do que na média do restante do país.
Os organizadores afirmaram que mais de 250 mil pessoas participaram do protesto, mas estimativas divulgadas pela agência de notícias "Associated Press", citando fontes policiais, e também pelas TVs CNN e NY1, colocam o número de manifestantes mais perto de 100 mil. A polícia se recusou a fazer uma estimativa oficial.
As pessoas marcharam pela Broadway, fechando o trânsito na região central de Manhattan. A United for Peace and Justice, coalizão pacifista que organizou o ato, não teve permissão para promover discursos ou usar alto-falantes -a polícia só autorizou uma marcha começando às 12h e terminando às 16h. Ao todo, 84 pessoas foram detidas, segundo a rede de televisão CNN.
Para a entidade, o trâmite do pedido para organizar o evento foi "lento e difícil" e "reflete uma tentativa de coagir os dissidentes".
Na hora final do protesto, a polícia passou a pedir aos manifestantes que fossem embora, porque a licença oficial da manifestação estava próxima de expirar. Isso irritou os organizadores, para quem a atitude contribuiria para diminuir o peso da manifestação, evitando grande concentração de pessoas na Washington Square, ponto final da marcha. O protesto continuou no início da noite.
O bom tempo em Nova York contribuiu para que o protesto de ontem tivesse muito mais peso que o primeiro após o início dos bombardeios, na quinta-feira, feito sob chuva. Mesmo assim, a manifestação ficou aquém da realizada na cidade em 15 de fevereiro -quando os organizadores estimaram que 400 mil pessoas haviam ido às ruas.
Houve forte presença policial na marcha de ontem: um efetivo de cerca de 2.000 homens vigiou a marcha, contando inclusive com a presença de agentes infiltrados em meio aos manifestantes com detectores de radiação.
De maneira geral, a marcha transcorreu de forma pacífica. Houve um confronto entre policiais e manifestantes que tentaram sair da rota estabelecida, sem maiores consequências.
Uma das preocupações dos manifestantes pacifistas durante o dia foi rebater o rótulo de "antipatriotas" que o bloco favorável à guerra tem tentado lhes atribuir.
Ontem, as organizações que se opõem ao ataque procuraram se posicionar da seguinte forma: apóiam os soltados no Oriente Médio, mas são contra a decisão de Bush de fazer a guerra -ou seja, tentam fazer uma distinção entre os americanos no front e as decisões políticas da Casa Branca.
Em meio a canções e cartazes pedindo paz, houve também manifestações pelo impeachment do presidente George W. Bush e menções à conturbada eleição de 2000, que o levou à Casa Branca.

A favor da guerra
Mesmo tendo levado milhares de pessoas às ruas ontem, a parcela contrária à guerra não é majoritária nos EUA. Pesquisas mostram que 7 em 10 americanos apóiam a ação militar.
O bloco pró-guerra mostrou ontem que também pode fazer barulho. Em Chicago, um grupo de cerca de 700 pessoas organizou uma manifestação em uma praça para apoiar as tropas americanas que combatem no Oriente Médio. Estabeleceu-se uma situação inusitada, já que, na mesma praça, havia um grupo protestando pela paz. Os dois grupos foram mantidos a seis metros de distância um do outro pela polícia. De um lado, os pacifistas gritavam: "Assassinos! Assassinos!" Do outro, os pró-guerra devolviam: "Idiotas! Idiotas!" A saída às ruas de manifestações opostas ocorreu também em San Francisco.
Houve ainda atos de apoio às tropas em Millington, no Tennessee, onde há uma base militar, e em Lansing, Michigan, onde centenas de pessoas saíram às ruas com bandeiras americanas à mão.
Os pacifistas, por sua vez, também foram à rua em Atlanta. Um grupo marchou até a sede da rede de TV CNN para protestar contra o que considera "glorificação da guerra" -a transmissão contínua de imagens da batalha.
Em Washington, os manifestantes foram à Casa Branca para protestar. Mas Bush não estava lá. Ela havia deixado a cidade rumo à residência oficial de Camp David, onde se reuniu com o alto escalão do governo.


Texto Anterior: Árabes fazem mais manifestações
Próximo Texto: Pacifistas de hoje se afastam da geração dos anos 60
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.