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ESPANHA
Premiê mantém cautela; se cumprida, trégua que entra em vigor amanhã porá fim a campanha terrorista de quase 40 anos
ETA anuncia cessar-fogo permanente
ANTÓNIO TORRES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI
O grupo separatista basco ETA
anunciou a adoção de "um cessar-fogo permanente", a partir de
0h de amanhã, que, se efetivamente cumprido, porá fim a quase 40 anos de atentados terroristas
que mataram cerca de 800 pessoas na Espanha.
O anúncio foi feito ontem, ao
meio-dia, por três pessoas com os
rostos cobertos por capuzes, em
vídeo transmitido pela televisão
pública do País Basco. O mesmo
comunicado, lido diante das câmeras por uma voz feminina, foi
em seguida publicado pela edição
on-line do jornal basco "Gara".
"Nosso objetivo é impulsionar o
processo democrático no País
Basco", dizia o texto. O grupo,
considerado terrorista pela União
Européia e pelos EUA, lançou um
apelo por um referendo que defina o grau de autonomia daquela
região. A locutora também pediu
que a França e a Espanha -os
bascos estão dos dois lados da
fronteira, ao norte dos Pirineus-
"respondam positivamente, sem
fazer uso da repressão".
ETA é a sigla de Euskadi Ta Askatasuna, que significa "Pátria
Basca e Liberdade". Ele foi fundado em 1959 com objetivo de reunificar os bascos espanhóis e franceses num Estado independente e
socialista. A causa perdeu muito
de seu fôlego no final dos anos 70,
quando a redemocratização da
Espanha deu autonomia às Províncias com idioma próprio.
O premiê espanhol, José Luis
Rodríguez Zapatero, reagiu com
prudência, declarando que a pacificação definitiva do País Basco
"será um processo difícil, que, para ser cumprido, precisará de todas as forças políticas da Espanha,
sobretudo do Partido Popular",
principal grupo de oposição.
Mas o líder do PP, Mariano Rajoy, disse ter dúvidas sobre as intenções do grupo, questionando
se o anúncio não se trata apenas
"de uma nova pausa nas atividades criminosas" do ETA.
Diálogo político
O PSOE, partido de Zapatero, e
o PP têm se enfrentado em razão
do conflito basco. O PP acredita
que os socialistas não deveriam
dialogar com o ETA até que o grupo se autodissolvesse.
Mas o partido do premiê aceitava a possibilidade de diálogo, contanto que precedido pelo fim incondicional dos atentados. O
PNV (Partido Nacionalista Basco), o mais importante na região,
qualificou a decisão do ETA de
"magnífica" e disse crer que o cessar-fogo é uma intenção séria.
Familiares dos mortos em atentados executados pelo grupo pediram "muita cautela" ao governo, em comunicado da Associação das Vítimas do Terrorismo.
O caminho que levaria a uma
paz definitiva ainda é incerto. A
Justiça espanhola está à procura
de Arnaldo Otegi, líder da Batasuna (o braço político do ETA, colocado na ilegalidade em 2002), por
incitação ao terrorismo. Se for localizado e preso, é possível que
ocorra um recuo no processo, já
que ontem o ETA exigiu o fim da
repressão a seus dirigentes.
A associação dos bispos espanhóis "alegrou-se" com a decisão
do grupo basco, apesar de não
considerar o anúncio de ontem
como "suficiente" -para a Igreja, o ETA deveria se dissolver.
Já os sindicalistas da UGT
(União Geral dos Trabalhadores)
afirmaram que continuarão empenhados na obtenção da paz. A
entidade dos empresários bascos
disse esperar "que também terminem as extorsões" praticadas pelo
ETA.
A França não se pronunciou sobre uma questão "de soberania
espanhola". Mas o presidente Jacques Chirac disse ver "com grande esperança" a oportunidade de
pôr fim "à praga do terrorismo"
no país vizinho.
Em Londres, o primeiro-ministro Tony Blair disse "aplaudir" a
decisão do grupo basco, enquanto o espanhol Javier Solana, responsável pela política externa da
União Européia, manifestou sua
"satisfação" pela "boa notícia".
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