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Filme levou prêmio de "noite cultural" em dormitório
EM BLOEMFONTEIN (ÁFRICA DO SUL)
É numa vila de casinhas pintadas de amarelo e telhado vermelho, a dez minutos do campus da Universidade de Free
State, que o vídeo foi feito. A residência Reitz completa 60
anos em 2008 e abrigou os pais
e avós de muitos dos atuais 120
moradores.
Por décadas, a língua falada
sempre foi o africâner. O esporte, o rúgbi. O som, rock sul-africano pesado. Mas, desde o ano
passado, pela primeira vez, a
residência se viu forçada pela
reitoria a abrigar oito negros
-que falam inglês, preferem
futebol e ouvem reggae, r&b e
músicas tradicionais.
"Nós somos uma minoria e
nos sentimos ameaçados. Estão lentamente tirando tudo de
nós", diz Pieter Odendaal, 23, o
"presidente" da república, estudante de engenharia.
Reitz tem má fama em
Bloemfontein, mesmo entre os
brancos. A reportagem da Folha ouviu recomendações reiteradas para não visitar o lugar,
mas foi bem tratada. Os oito
moradores negros não foram
encontrados, no entanto. O vídeo seria parte de uma "noite
cultural" da residência, em que
cada chalé inventa uma atividade. Seus criadores levaram o
prêmio da noite.
Em Reitz, são famosas as histórias de moradores brancos,
bêbados, jogando gelo em mulheres negras que passam em
frente à residência. Odendaal
diz que não é racismo, mas
"brincadeiras de mau gosto que
ocorrem em qualquer residência estudantil". Entre os estudantes brancos, o discurso predominante é de que não haverá
retorno ao apartheid.
Mas há insegurança explícita
com a estratégia do governo de
dar aos negros maior controle
sobre a economia. Em vigor
desde o fim do apartheid, a política de "fortalecimento econômico dos negros" obriga empresas a colocar negros em postos de comando e dá a eles vantagens na hora de conseguir
empregos. Uma classe de negros milionários surgiu em decorrência, muitos com conexões com o governo.
"Eu, quando me formar, não
sei se conseguirei um emprego,
porque está tudo reservado para os negros. Milhares de brancos sul-africanos estão deixando o país", diz Odendaal.
A Universidade de Free State
tem 23 residências estudantis,
sendo 13 brancas e dez negras.
A segregação acontece em praticamente todas.
A cem metros de Reitz, Villa
Bravado é um prédio de cinco
andares que abriga 150 estudantes negros e três "coloured", como são classificados os
raros mestiços. Enquanto Reitz
tem chalés aconchegantes, Villa Bravado tem o formato tradicional de quartos apertados.
O "presidente" da residência
negra, Renaldo Dupreez, 21,
afirma que está aberto a receber brancos, mas não pode forçá-los a se mudar. "Reitz tem
mais dinheiro. Os pais dos estudantes que estudaram lá no
passado dão a eles TVs de plasma e internet de alta velocidade. Claro que eles preferem ir
para lá", afirma.
Dupreez conta que, no ano
passado, dois estudantes brancos chegaram a se registrar na
residência negra. Mudaram de
idéia após uma semana.
A reitoria da universidade, a
partir de agora, promete ser
mais incisiva na hora de misturar as residências. "Em algum
momento, vamos ter de forçar a
integração. Não se pode deixar
a integração racial ao acaso",
diz o vice-reitor da universidade para assuntos estudantis,
Ezekiel Moraka. "Estamos
num processo de construção
dessa nação. É na universidade
que isso precisa começar."
(FZ)
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