São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2010

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Hillary reitera críticas em evento pró-Israel

Secretária de Estado dos EUA diz que construções em Jerusalém "minam a confiança" e que status quo não pode ser mantido

Comentários foram feitos em discurso a principal grupo de lobby judaico americano, horas antes de encontro com Netanyahu


ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Horas antes de se encontrar em Washington com o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, para discutir a recente tensão entre os dois países, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou em discurso ao mais importante grupo lobista judaico dos EUA que o status quo no Oriente Médio é insustentável e que ações do governo israelense minam a credibilidade da Casa Branca e sua capacidade de auxiliar nas negociações de paz.
Ao falar ontem a cerca de 7.500 pessoas na conferência anual de políticas do grupo Aipac (Comitê de Assuntos Públicos EUA-Israel), Hillary reiterou várias vezes o "elo sólido" entre os dois países e o compromisso americano com a segurança de Israel. Mas deixou claro que os EUA não se moveram da posição de condenação à forma e à substância do anúncio do governo israelense, há duas semanas, sobre a construção de 1.600 casas em Jerusalém Oriental (reivindicada por palestinos como futura capital).
O anúncio, que a chanceler classificou de "insultante", foi feito durante visita do vice-presidente americano, Joe Biden, a Israel e foi o estopim do que já foi chamado até de crise entre os dois governos.
"Não é uma questão de orgulho ferido. Novas construções em Jerusalém Oriental ou na Cisjordânia minam a confiança mútua [com os palestinos] (...), expõem diferenças entre Israel e os EUA que outros na região podem tentar explorar e prejudicam a habilidade única dos EUA de ter um papel no processo de paz", afirmou.
Segundo a secretária, o crescimento populacional nos territórios palestinos, as implicações políticas do conflito árabe-israelense e a tecnologia militar a que inimigos do país têm acesso tornam a situação atual no Oriente Médio insustentável. "Ter esperança num futuro para Israel baseado no status quo é impossível hoje."
Apesar dos recados, Hillary não sinalizou nenhum endurecimento da reação americana com Israel pela polêmica das construções, baseada até agora em pressão e numa oratória dura mas sem consequências práticas imediatas. Pelo contrário: afirmou crer que a questão se aproxima de uma resolução com as "ações específicas" que Netanyahu ofereceu aos EUA após o início do atrito.
Tais ações não devem incluir congelamento. Anteontem, antes de partir para Washington, Netanyahu afirmou que, "para nós, construir em Jerusalém é o mesmo que fazê-lo em Tel Aviv". O encontro entre o premiê e Hillary foi discreto e fechado à imprensa, como deverá ser também o de Netanyahu e Obama hoje. Antes disso, o premiê israelense deveria discursar em um jantar no Aipac.

Aplausos só a Bush
A plateia na Aipac ouviu as críticas sem reagir -o grupo vem fazendo lobby forte contra a reação americana. Logo antes da fala de Hillary, Howard Kohr, diretor-executivo do grupo, disse que "Jerusalém não é um assentamento, é a capital de Israel" e que é "errado e perigoso" deixar a relação bilateral "refém das negociações de paz". Foi aplaudido de pé.
Um participante da conferência que pediu anonimato disse à Folha que acabara de voltar de Israel e tinha visto muita preocupação no país quanto à mudança no relacionamento que ocorreu com o governo Obama. No início da manhã, foram ouvidos aplausos quando apareceu a imagem do ex-presidente George W. Bush (2001-2009) em um vídeo da Aipac.
Para o comentarista Robert Dreyfuss, o discurso de Hillary foi até apaziguador. "Essa discordância não é nova, começou logo que Obama chegou ao poder", disse ele. "Foi vergonhoso ver que o governo americano não tinha política planejada para depois que Netanyahu o desafiou quanto aos assentamentos. Creio que o governo já viu que só poderá negociar de verdade depois que o grupo atual sair do poder em Israel."


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