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Hillary reitera críticas em evento pró-Israel
Secretária de Estado dos EUA diz que construções em Jerusalém "minam a confiança" e que status quo não pode ser mantido
Comentários foram feitos em discurso a principal grupo de lobby judaico americano, horas antes de encontro com Netanyahu
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Horas antes de se encontrar
em Washington com o premiê
de Israel, Binyamin Netanyahu, para discutir a recente tensão entre os dois países, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou em discurso ao mais importante grupo lobista judaico dos EUA que
o status quo no Oriente Médio
é insustentável e que ações do
governo israelense minam a
credibilidade da Casa Branca e
sua capacidade de auxiliar nas
negociações de paz.
Ao falar ontem a cerca de
7.500 pessoas na conferência
anual de políticas do grupo Aipac (Comitê de Assuntos Públicos EUA-Israel), Hillary reiterou várias vezes o "elo sólido"
entre os dois países e o compromisso americano com a segurança de Israel. Mas deixou claro que os EUA não se moveram
da posição de condenação à forma e à substância do anúncio
do governo israelense, há duas
semanas, sobre a construção de
1.600 casas em Jerusalém
Oriental (reivindicada por palestinos como futura capital).
O anúncio, que a chanceler
classificou de "insultante", foi
feito durante visita do vice-presidente americano, Joe Biden,
a Israel e foi o estopim do que já
foi chamado até de crise entre
os dois governos.
"Não é uma questão de orgulho ferido. Novas construções
em Jerusalém Oriental ou na
Cisjordânia minam a confiança
mútua [com os palestinos] (...),
expõem diferenças entre Israel
e os EUA que outros na região
podem tentar explorar e prejudicam a habilidade única dos
EUA de ter um papel no processo de paz", afirmou.
Segundo a secretária, o crescimento populacional nos territórios palestinos, as implicações políticas do conflito árabe-israelense e a tecnologia militar
a que inimigos do país têm
acesso tornam a situação atual
no Oriente Médio insustentável. "Ter esperança num futuro
para Israel baseado no status
quo é impossível hoje."
Apesar dos recados, Hillary
não sinalizou nenhum endurecimento da reação americana
com Israel pela polêmica das
construções, baseada até agora
em pressão e numa oratória dura mas sem consequências práticas imediatas. Pelo contrário:
afirmou crer que a questão se
aproxima de uma resolução
com as "ações específicas" que
Netanyahu ofereceu aos EUA
após o início do atrito.
Tais ações não devem incluir
congelamento. Anteontem, antes de partir para Washington,
Netanyahu afirmou que, "para
nós, construir em Jerusalém é
o mesmo que fazê-lo em Tel
Aviv". O encontro entre o premiê e Hillary foi discreto e fechado à imprensa, como deverá
ser também o de Netanyahu e
Obama hoje. Antes disso, o premiê israelense deveria discursar em um jantar no Aipac.
Aplausos só a Bush
A plateia na Aipac ouviu as
críticas sem reagir -o grupo
vem fazendo lobby forte contra
a reação americana. Logo antes
da fala de Hillary, Howard
Kohr, diretor-executivo do grupo, disse que "Jerusalém não é
um assentamento, é a capital de
Israel" e que é "errado e perigoso" deixar a relação bilateral
"refém das negociações de
paz". Foi aplaudido de pé.
Um participante da conferência que pediu anonimato
disse à Folha que acabara de
voltar de Israel e tinha visto
muita preocupação no país
quanto à mudança no relacionamento que ocorreu com o
governo Obama. No início da
manhã, foram ouvidos aplausos quando apareceu a imagem
do ex-presidente George W.
Bush (2001-2009) em um vídeo da Aipac.
Para o comentarista Robert
Dreyfuss, o discurso de Hillary
foi até apaziguador. "Essa discordância não é nova, começou
logo que Obama chegou ao poder", disse ele. "Foi vergonhoso
ver que o governo americano
não tinha política planejada
para depois que Netanyahu o
desafiou quanto aos assentamentos. Creio que o governo já
viu que só poderá negociar de
verdade depois que o grupo
atual sair do poder em Israel."
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