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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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Aliado de Rumsfeld ataca Powell

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Veio à público ontem como uma bomba o teor da disputa que se arrasta há semanas no coração do governo de George W. Bush, entre o Departamento da Defesa, comandado por Donald Rumsfeld, e o de Estado, chefiado por Colin Powell.
Em discurso intitulado "Transformar o Departamento de Estado, o próximo desafio da administração Bush", o ex-congressista republicano conservador Newt Gingrich fez uma crítica feroz ao trabalho de Powell, a quem qualificou publicamente de "ineficiente", "incoerente" e "patético".
Gingrich pediu também uma "mudança dramática" na política externa americana.
"Nos últimos sete meses, tivemos seis meses de fracassos diplomáticos e um mês de sucesso militar", disse Gingrich, referindo-se aos "malogros" de Powell pelo mundo e às "conquistas" de Rumsfeld no Iraque.
O discurso de Gingrich, que é membro do Comitê de Política de Defesa do Pentágono, foi realizado no AEI (sigla em inglês para Instituto Empresarial Americano), um ninho dos republicanos em Washington que tem entre seus sócios boa parte da elite do partido de Bush.
Embora a Casa Branca e o Pentágono tenham procurado minimizar as declarações de Gingrich, o discurso foi interpretado como mais uma tentativa de Rumsfeld de minar o poder de Powell.
Desde antes do início da guerra no Iraque, Rumsfeld e Powell têm divergido em quase tudo. E o Pentágono conquista cada vez mais o apoio de Bush. Rumsfeld, por exemplo, teve o apoio do presidente ao pedir cerca de US$ 2,5 bilhões para a reconstrução do Iraque, tarefa que deveria ser do time de Powell. O Pentágono também chegou a vetar seis nomes indicados pelo Departamento de Estado para ajudar no pós-guerra.
A preponderância hoje no Iraque do grupo do iraquiano Ahmed Chalabi também foi um vitória de Rumsfeld sobre Powell que teve o total respaldo de Bush. Powell vê Chalabi com desconfiança.
Em seu discurso, Gingrich responsabilizou o trabalho de Powell pelo fato de os EUA terem perdido o apoio da França, da Rússia e da Turquia na guerra contra o Iraque. "Se o Departamento da Defesa tivesse sido tão ineficiente quanto o de Estado, teríamos perdido também o apoio do Kuait e da Arábia Saudita para usar seus territórios como bases militares", disse Gingrich.
O republicano disse ainda que o Departamento de Estado passa por um ""colapso" e qualificou de "hilariante" as propostas de Powell em relação à Síria. "Foram os militares que criaram agora uma nova oportunidade para realizar pressões econômicas, políticas e diplomáticas em relação a Damasco", disse.
Na Casa Branca, o porta-voz de Bush, Ari Fleischer, disse que tanto Rumsfeld quanto Powell "cumprem profissionalmente as determinações" de Bush. "O presidente e o país têm a sorte de ter um secretário de Estado tão forte quanto Powell", disse.
O episódio de ontem foi interpretado em Washington como mais uma demonstração de força de Rumsfeld, o principal vitorioso e arquiteto da campanha militar dirigida contra o regime de Saddam Hussein.
É pouco provável, no entanto, que haja uma troca no comando do Departamento de Estado. O general da reserva Powell, primeiro chanceler negro dos EUA, que se projetou ao comandar a Guerra do Golfo (1991), é visto como peça importante para os planos eleitorais de Bush, que pode conservá-lo em um posto esvaziado de poderes até a eleição de 2004.


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