|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aliado de Rumsfeld ataca Powell
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Veio à público ontem como
uma bomba o teor da disputa que
se arrasta há semanas no coração
do governo de George W. Bush,
entre o Departamento da Defesa,
comandado por Donald Rumsfeld, e o de Estado, chefiado por
Colin Powell.
Em discurso intitulado "Transformar o Departamento de Estado, o próximo desafio da administração Bush", o ex-congressista republicano conservador Newt
Gingrich fez uma crítica feroz ao
trabalho de Powell, a quem qualificou publicamente de "ineficiente", "incoerente" e "patético".
Gingrich pediu também uma
"mudança dramática" na política
externa americana.
"Nos últimos sete meses, tivemos seis meses de fracassos diplomáticos e um mês de sucesso militar", disse Gingrich, referindo-se aos "malogros" de Powell pelo
mundo e às "conquistas" de
Rumsfeld no Iraque.
O discurso de Gingrich, que é
membro do Comitê de Política de
Defesa do Pentágono, foi realizado no AEI (sigla em inglês para
Instituto Empresarial Americano), um ninho dos republicanos
em Washington que tem entre
seus sócios boa parte da elite do
partido de Bush.
Embora a Casa Branca e o Pentágono tenham procurado minimizar as declarações de Gingrich, o discurso foi interpretado como
mais uma tentativa de Rumsfeld
de minar o poder de Powell.
Desde antes do início da guerra
no Iraque, Rumsfeld e Powell têm
divergido em quase tudo. E o Pentágono conquista cada vez mais o
apoio de Bush. Rumsfeld, por
exemplo, teve o apoio do presidente ao pedir cerca de US$ 2,5 bilhões para a reconstrução do Iraque, tarefa que deveria ser do time
de Powell. O Pentágono também
chegou a vetar seis nomes indicados pelo Departamento de Estado
para ajudar no pós-guerra.
A preponderância hoje no Iraque do grupo do iraquiano Ahmed Chalabi também foi um vitória de Rumsfeld sobre Powell que
teve o total respaldo de Bush. Powell vê Chalabi com desconfiança.
Em seu discurso, Gingrich responsabilizou o trabalho de Powell
pelo fato de os EUA terem perdido o apoio da França, da Rússia e
da Turquia na guerra contra o Iraque. "Se o Departamento da Defesa tivesse sido tão ineficiente
quanto o de Estado, teríamos perdido também o apoio do Kuait e
da Arábia Saudita para usar seus
territórios como bases militares",
disse Gingrich.
O republicano disse ainda que o
Departamento de Estado passa
por um ""colapso" e qualificou de
"hilariante" as propostas de Powell em relação à Síria. "Foram os
militares que criaram agora uma
nova oportunidade para realizar
pressões econômicas, políticas e
diplomáticas em relação a Damasco", disse.
Na Casa Branca, o porta-voz de
Bush, Ari Fleischer, disse que tanto Rumsfeld quanto Powell "cumprem profissionalmente as determinações" de Bush. "O presidente e o país têm a sorte de ter um secretário de Estado tão forte quanto Powell", disse.
O episódio de ontem foi interpretado em Washington como
mais uma demonstração de força
de Rumsfeld, o principal vitorioso
e arquiteto da campanha militar
dirigida contra o regime de Saddam Hussein.
É pouco provável, no entanto,
que haja uma troca no comando
do Departamento de Estado. O
general da reserva Powell, primeiro chanceler negro dos EUA, que
se projetou ao comandar a Guerra
do Golfo (1991), é visto como peça
importante para os planos eleitorais de Bush, que pode conservá-lo em um posto esvaziado de poderes até a eleição de 2004.
Texto Anterior: EUA usaram provas falsificadas, diz Blix Próximo Texto: Xiitas fazem peregrinação e atacam EUA Índice
|