São Paulo, domingo, 23 de abril de 2006

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ÁSIA

Após concessão, segue protesto de nepaleses

DA REDAÇÃO

Forças de segurança nepalesas abriram fogo e atiraram bombas de gás lacrimogêneo contra dezenas de milhares de manifestantes que marchavam ontem em direção ao palácio real, no centro de Katmandu, exigindo o fim da monarquia. Não foram registradas mortes, mas estimativas distintas divulgadas pelas agências internacionais colocavam o saldo de feridos na casa das centenas.
Os confrontos ocorreram um dia depois que o rei Gyanendra, cedendo a mais de duas semanas de pressões, disse que devolveria a soberania ao povo e pediu que os partidos políticos indicassem um premiê. A decisão, porém, não aplacou o ânimo da oposição.
"Não aceitaremos. Vamos continuar os protestos", disse Madhav Kumar Nepal, secretário-geral do Partido Comunista do Nepal, um dos sete partidos que compõem a frente de oposição.
Em nota conjunta, a coalizão qualificou a iniciativa de Gyanendra de "insignificante e inapropriada", instando a população a intensificar as pressões em favor da democracia e pedindo que as forças de segurança se juntem aos protestos.
No bairro de Thapathali, em Katmandu, soldados e policiais dispararam tiros contra a multidão que desafiava o toque de recolher que vigora entre as 9h e a 0h. Veículos blindados bloquearam as principais vias de acesso ao palácio e ao centro da cidade, dispersando a multidão com bombas de gás lacrimogêneo.
Os protestos também reuniram cerca de 50 mil pessoas na cidade de Pokhara. À tarde, as manifestações arrefeceram.
Partidos políticos afirmaram que cerca de 150 pessoas foram feridas. De acordo com a Cruz Vermelha nepalesa, o número de feridos chegou a 243. Para um dos hospitais da capital foram levadas cerca de cem pessoas, segundo fontes médicas. "A maioria foi ferida pelo gás lacrimogêneo ou pisoteada durante a fuga. Mas alguns têm ferimentos de bala", disse um médico.
O monarca assumiu poderes absolutos em fevereiro de 2005, quando fechou o Parlamento e centralizou todas as decisões políticas e administrativas, sob o argumento de neutralizar a guerrilha maoísta, que em uma década já provocou 13 mil mortes.
Em reação, a frente de oposição comandou uma greve geral e promoveu manifestações em favor da democracia que paralisaram o país desde o último dia 6. Ao menos 14 pessoas morreram em confronto com a polícia.
Os manifestantes querem o retorno do Parlamento e a eleição de uma Assembléia Constituinte para reduzir os poderes do monarca a um plano simbólico.
"O mar de pessoas nas ruas prova que o povo nepalês quer se livrar desse regime feudal para sempre", disse Prachanda, líder da guerrilha maoísta.
Embaixadores europeus exortaram a oposição a considerar a oferta de Gyanendra. Em Washington, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, disse que seu país considera bem-vinda a proposta do monarca nepalês.


Com agências internacionais

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