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ÁSIA
Potência asiática aprende a usar armas da diplomacia, da economia e da cultura para aumentar sua influência no mundo
China avança com base no "soft power"
CLAUDIA ANTUNES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE CAMBRIDGE
Enquanto o governo de George
W. Bush aprofunda o fosso que
separa a conduta internacional
dos Estados Unidos da atração
pelas idéias e o modelo americano, a China aprende a usar as armas da diplomacia, da economia
e do intercâmbio cultural e educativo para ampliar sua influência
no mundo, segundo especialistas
reunidos na Universidade de Harvard para debater "o crescimento
do soft power chinês".
Joseph Nye, professor de relações internacionais que cunhou a
expressão "soft power" -a conquista pela persuasão, diferente
da coerção do "hard power" militar-, listou uma série de iniciativas que contribuem para a projeção de uma imagem atraente do
país asiático. Entre elas, a ênfase
da diplomacia chinesa na "ascensão pacífica", a difusão da língua e
do cinema chineses, o aumento
do número de estudantes estrangeiros em universidades na China
e a expansão da Rádio China Internacional, segundo Nye mais
escutada no leste da Ásia do que a
Voz da América.
Ele ressaltou, entretanto, as diferentes percepções em relação ao
que chamou de "consenso de Pequim" -crescimento acelerado
sob um regime autoritário-, que
pode parecer atrativo para países
em desenvolvimento com a economia estancada, mas mina o
"soft power" chinês em boa parte
da opinião pública ocidental. Para
Nye, a longo prazo a China também pode sofrer revezes de imagem por causa das relações econômicas que mantém hoje com
países que têm governos ditatoriais e foram enquadrados pelos
EUA na categoria de párias, como
o Sudão e o Zimbábue.
Em contraste com a idéia da
propagação de um paradigma
chinês, o professor emérito de
Harvard Ezra Vogel sugeriu que o
maior trunfo diplomático de Pequim é o seu pragmatismo, que
apregoa velhos princípios de não-ingerência e respeito à soberania e
não tem a pretensão de convencer
parceiros a copiar seu modelo.
"Nós americanos viemos de
uma tradição de missionários,
amamos nossos ideais e queremos vendê-los, mas as pessoas estão cansadas disso. A China não
quer vender uma ideologia", afirmou Vogel, que foi o responsável
pela estratégia para o Leste Asiático no Conselho Nacional de Inteligência americano nos dois primeiros anos do governo de Bill
Clinton (1993-2000).
A sugestão de que a China possa
liderar um bloco de nações em
desenvolvimento é outra que não
faz muito sentido, disse o professor Anthony Saich, ex-representante da Fundação Ford em Pequim. Para ele, o fato de os chineses terem interesses econômicos
nos cinco continentes impede que
o país assuma tal liderança.
Os debatedores destacaram, porém, que há uma diferença entre
as orientações explícitas da política externa chinesa e as expectativas no exterior e na própria China
em relação ao seu papel. Para Vogel, o sistema político fechado, em
que uma elite atua mais ou menos
isolada de grupos de pressão, seduz outros países da Ásia. Ao
mesmo tempo, disse Saich, a liderança chinesa é suscetível a críticas externas e acha difícil conciliar
isso com o regime autoritário.
"Os líderes chineses buscam
respeito internacional e notam
que, para obtê-lo, precisam de um
pouco de democracia."
No debate, realizado na véspera
da chegada a Washington do presidente chinês Hu Jintao, todos
concordaram que a política dos
EUA em relação à China passa
por uma fase confusa. Depois de
definir a China como uma "competidora estratégica", em vez de
"parceria estratégica" como defendida por Clinton, o governo de
George W. Bush hesita entre tratar o país asiático como rival ou
colaborador na economia e no
combate ao terrorismo.
"O Pentágono está preocupado
com o aumento dos gastos militares chineses e abriga uma parte da
extrema-direita que vê a China
como inimiga. Bush começou falando em competição e depois se
deu conta de que precisava da colaboração da China", disse Vogel.
"No Congresso, cada um fala
para um público diferente." Para
Vogel o único que tenta montar
uma política coerente é o subsecretário de Estado dos EUA, Robert Zoelick, que tem se referido à
China como um "stakeholder" do
sistema internacional e co-responsável pela sua estabilidade.
Nye, que foi secretário-assistente da Defesa para Assuntos de Segurança Internacional no início
dos anos 90, disse que a melhor
política em relação à China ainda
é a que foi definida no governo
Clinton e tem duas mãos, uma dirigida a contrabalançar o poderio
militar chinês na Ásia e outra a integrar a China às instituições
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