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DIPLOMACIA
Em entrevista, o presidente americano diz que a aliança militar deve mudar para enfrentar o novo desafio
Otan agora deve visar o terror, diz Bush
PATRICK JARREAU
DO "LE MONDE", EM WASHINGTON
O presidente dos EUA, George
W. Bush, chegou ontem à Alemanha, no início de uma viagem de
seis dias pela Europa. Anteontem,
na Casa Branca, ele concedeu
uma entrevista aos jornais
"Frankfurter Allgemeine Zeitung" (Alemanha), "La Repubblica" (Itália) e "Le Monde" (França) e ao semanário russo "Argumenti i Fakti". Leia a seguir os
principais trechos da entrevista.
Pergunta - Há alguma coisa que
não anda bem nas relações entre os
EUA e a Europa? Estaria se formando uma divisão psicológica, militar
e tecnológica entre as partes?
George W. Bush - Para começar,
há mais fatores que nos unem do
que fatores que nos separam. O
amor à liberdade é um vínculo
potente. Os alemães, os franceses,
os russos e os italianos amam a liberdade, como os americanos. Eu
também, e muito. Somos unidos
por valores comuns: o direito, os
Poderes constitucionais, o mercado. Além disso, temos problemas
comuns a resolver que são mais
importantes do qualquer disputa.
O combate ao terrorismo é uma
causa comum que forma um vínculo forte entre nós.
Assim, penso que temos uma
relação forte e sadia. É claro que
surgem desavenças, de vez em
quando. Temos desentendimentos na área do comércio, mas é
porque o comércio, entre nós, é
considerável. É o andamento normal dos negócios, e com certeza
não é algo que afete a visão que tenho de nossa aliança.
Pergunta - A Otan está condenada a desaparecer? Se não, qual seria sua finalidade agora?
Bush - A Otan é mais necessária
do que nunca. A natureza da
ameaça que enfrentamos coletivamente mudou. Descobrimos
que, para vencer a guerra contra
os assassinos, precisamos trocar
informações, cortar os circuitos
financeiros deles, recusar-lhes refúgio e colocá-los para correr. Dar
cabo de uma rede terrorista é um
esforço coletivo.
A Otan, a aliança que une países
que amam a liberdade, precisa
mudar de eixo e promover a evolução de suas capacidades, para
poder combater as ameaças às
quais teremos de responder.
Assim, a Otan é muito necessária hoje, sim. Precisamos trabalhar com ela para garantir que ela
faça o melhor uso possível dos
meios de que dispõe e que ela defina suas estratégias, de modo que
uma aliança ampliada não tenha
problemas e possa formar uma
frente unida contra a nova ameaça. Considero a Otan como tendo
lugar pleno no futuro.
Pergunta - O sr. acha preocupante o desnível entre a capacidade
militar dos EUA e a dos europeus?
Bush - É um problema, mas pode ser superado com o tempo.
Nós transformamos nossa defesa,
ou, melhor dizendo, tentamos
transformá-la. A Otan também
precisa mudar, para melhor
adaptar-se às verdadeiras ameaças. A Otan deve ajustar seus
meios e seu orçamento à nova
ameaça.
Isso tomará tempo, mas sou otimista. Os desníveis podem ser reduzidos, especialmente entre
amigos. Repito: vou à Europa como amigo, interessado em trabalhar com ela para alcançar nossos
objetivos comuns. E a guerra contra o terrorismo exige uma cooperação significativa. Estamos combatendo um grupo de assassinos
internacionais que se escondem
em cavernas, se disfarçam no
meio das sociedades livres, são
pacientes e estão decididos a destruir. É por isso que devemos cooperar, compartilhar as informações, seguir as pistas, impedir os
assassinos de agir, prendê-los. A
Otan permite que isso seja feito.
Pergunta - A Rússia terá direito
de opinar nas decisões da Otan?
Bush - A Rússia não ganhou direito de veto sobre as ações militares. O conselho reconheceu que a
Rússia pode ser um parceiro importante para uma Europa pacífica e permite que se trabalhe com
ela sobre as medidas de combate à
proliferação nuclear e ao terrorismo. A Rússia enfrenta as mesmas
ameaças que a Itália, a França, a
Alemanha ou os EUA.
Os leitores dos jornais que vocês
representam devem saber que
seus países enfrentam as mesmas
ameaças que os EUA. Pode parecer que isso não acontece, mas
posso lhes assegurar que a ameaça é real.
Pergunta - O sr. diria que o Iraque
está impedido de agir ou é urgente
tomar medidas contra Saddam?
Bush - Sou um homem paciente.
Também sou determinado. "Impedido de agir", ou contido, é um
termo que não convém quando se
fala de alguém que possui a capacidade de atacar com uma arma
de destruição em massa. Isso me
preocupa profundamente.
Quando falo nesse assunto, eu
me revolto porque conheço a natureza desse regime e a ameaça
potencial que surgiria se a organização terrorista que combatemos
[a Al Qaeda] chegasse a se aliar a
ele. Sei que minhas declarações
referentes a esse país provocaram
angústia, mas cabe a mim falar
com a maior clareza possível, e
vou continuar a fazê-lo.
Pergunta - Foi essa ameaça que
levou o vice-presidente Richard
Cheney a dizer que a retomada das
inspeções de armas pela ONU não
seria o bastante?
Bush - Esperamos que o governo
iraquiano permita inspeções
completas e irrestritas. Queremos
saber o que há. Temos um homem que se nega a permitir as
inspeções, há anos. Eu me pergunto a razão. Acho que o mundo
inteiro deveria lhe fazer essa pergunta.
A cada vez que se fala em inspeções, ele estipula condições e impõe limites. O vice-presidente expressou um certo ceticismo com
relação ao próprio regime iraquiano.
Pergunta - As declarações feitas
nos últimos dias com relação a
ameaças terroristas, especialmente por Cheney, representam um
alerta geral ou são fruto de informações precisas sobre um risco
iminente?
Bush - O diretor do FBI especulou com base em informações que
indicam que a rede Al Qaeda continua ativa, conspirando, elaborando planos e procurando nos
golpear. Ele teceu especulações,
dizendo que não ficaria surpreso
se fôssemos atacados novamente.
O vice-presidente disse a mesma
coisa. Se tivéssemos conhecimento de uma ameaça precisa, em
momento e local determinado,
protegeríamos esse local e usaríamos nossos meios para impedir
que a ameaça se concretizasse.
Acho que não daríamos muita
publicidade a tal ameaça. É claro
que as pessoas cujas vidas seriam
afetadas seriam informadas diretamente.
Todas as manhãs eu leio anotações e relatórios sobre ameaças.
Algumas delas não são dirigidas
contra os EUA, mas contra nossos
amigos. Estou certo de já ter lido
sobre ameaças visando os quatro
países de vocês. Antes mesmo de
eu tomar conhecimento delas, essas informações são enviadas aos
serviços competentes de seus países.
Não quero ser alarmista, mas
essas pessoas são implacáveis.
Quando digo que a melhor defesa
é o ataque, é porque acredito realmente nisso. A única maneira de
proteger nossas populações é perseguir essas pessoas até o fim.
Tradução de Clara Allain
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