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Chávez criará polícia ligada a militantes
Presidente venezuelano usará poderes excepcionais para formar polícia comunitária, subordinada a conselhos simpáticos a ele
Medida deverá armar associações de bairro e visa, segundo Chávez, conter violência, característica de "sociedades contaminadas"
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, anunciou ontem
a criação de uma polícia comunitária formada por militantes
e com o objetivo de combater a
crescente onda de insegurança
que preocupa a Venezuela.
O projeto foi divulgado durante um discurso no qual Chávez comentava uma manifestação contra a insegurança realizada na véspera por moradores
de um bairro pobre.
"Eu mandei [aos manifestantes] uma mensagem: organizem ali uma equipe de segurança comunitária", disse Chávez,
na posse da direção da empresa
de telecomunicações Cantv, recém-nacionalizada.
"Precisamente ontem [anteontem], estávamos vendo um
projeto para que, dentro da Polícia Nacional que vamos criar
por Lei Habilitante, criemos
uma polícia comunitária; um
corpo policial que nasça de cada bairro. Polícia, mas de bairro. E obviamente com capacitação e equipamento", disse.
Aprovada pelo Congresso em
janeiro, a Lei Habilitante dá poder a Chávez para legislar por
decreto durante 18 meses em 11
áreas estratégicas.
O presidente venezuelano
disse ainda que esse novo corpo
policial deve integrar os chamados Conselhos Comunitários, organizações locais formadas principalmente por chavistas para planejar políticas públicas localizadas. Segundo o
governo, há cerca de 18 conselhos desse tipo no país.
"Em cada bairro, e formando
parte do Conselho Comunitário, deve haver um corpo policial. E eu dizia ao ministro [da
Justiça, Pedro Carreño]: tem
de comprar uniforme, equipamento mínimo para organizar
a ordem pública, para a luta
contra os bandidos nas ruas,
produto dessas sociedades, como a nossa, que foram contaminadas."
Chávez citou ainda Cuba como um exemplo positivo de política de segurança pública.
"México, América do Sul, Brasil, Colômbia, qualquer país... É
um problema de todo mundo.
Agora, se você vai para Havana,
é muito raro que se registre algum homicídio; porque têm
outro modo de vida, que não é
esse modo consumista, essa
ambição por riqueza material."
Insegurança
Apesar de a falta de segurança ser apontada como o principal problema do país pelas pesquisas de opinião, Chávez raramente menciona o tema em
seus discursos. Porta-vozes do
governo, por sua vez, usam estatísticas oficiais para negar o
aumento da violência e culpam
a imprensa venezuelana por o
que consideram alarmismo.
Ontem o ministro Carreño
afirmou que a criminalidade
caiu 24% nas primeiras 20 semanas deste ano em comparação com o ano passado.
Uma pesquisa divulgada
também ontem pelo jornal "El
Nacional", por outro lado, mostra que a sensação de insegurança tem aumentado desde
2004. O levantamento, realizado pelo Observatório Venezuelano de Violência e pelo Laboratório de Ciências Sociais, estima que 86,9% da população
se sente vulnerável ao utilizar o
transporte público e 75,9% têm
medo nas ruas.
No fim de semana, foram assassinadas 54 pessoas em Caracas, cidade com cerca de 4,5 milhões de habitantes.
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