São Paulo, quarta-feira, 23 de maio de 2007

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Chávez criará polícia ligada a militantes

Presidente venezuelano usará poderes excepcionais para formar polícia comunitária, subordinada a conselhos simpáticos a ele

Medida deverá armar associações de bairro e visa, segundo Chávez, conter violência, característica de "sociedades contaminadas"

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou ontem a criação de uma polícia comunitária formada por militantes e com o objetivo de combater a crescente onda de insegurança que preocupa a Venezuela.
O projeto foi divulgado durante um discurso no qual Chávez comentava uma manifestação contra a insegurança realizada na véspera por moradores de um bairro pobre.
"Eu mandei [aos manifestantes] uma mensagem: organizem ali uma equipe de segurança comunitária", disse Chávez, na posse da direção da empresa de telecomunicações Cantv, recém-nacionalizada.
"Precisamente ontem [anteontem], estávamos vendo um projeto para que, dentro da Polícia Nacional que vamos criar por Lei Habilitante, criemos uma polícia comunitária; um corpo policial que nasça de cada bairro. Polícia, mas de bairro. E obviamente com capacitação e equipamento", disse.
Aprovada pelo Congresso em janeiro, a Lei Habilitante dá poder a Chávez para legislar por decreto durante 18 meses em 11 áreas estratégicas.
O presidente venezuelano disse ainda que esse novo corpo policial deve integrar os chamados Conselhos Comunitários, organizações locais formadas principalmente por chavistas para planejar políticas públicas localizadas. Segundo o governo, há cerca de 18 conselhos desse tipo no país.
"Em cada bairro, e formando parte do Conselho Comunitário, deve haver um corpo policial. E eu dizia ao ministro [da Justiça, Pedro Carreño]: tem de comprar uniforme, equipamento mínimo para organizar a ordem pública, para a luta contra os bandidos nas ruas, produto dessas sociedades, como a nossa, que foram contaminadas."
Chávez citou ainda Cuba como um exemplo positivo de política de segurança pública. "México, América do Sul, Brasil, Colômbia, qualquer país... É um problema de todo mundo. Agora, se você vai para Havana, é muito raro que se registre algum homicídio; porque têm outro modo de vida, que não é esse modo consumista, essa ambição por riqueza material."

Insegurança
Apesar de a falta de segurança ser apontada como o principal problema do país pelas pesquisas de opinião, Chávez raramente menciona o tema em seus discursos. Porta-vozes do governo, por sua vez, usam estatísticas oficiais para negar o aumento da violência e culpam a imprensa venezuelana por o que consideram alarmismo.
Ontem o ministro Carreño afirmou que a criminalidade caiu 24% nas primeiras 20 semanas deste ano em comparação com o ano passado.
Uma pesquisa divulgada também ontem pelo jornal "El Nacional", por outro lado, mostra que a sensação de insegurança tem aumentado desde 2004. O levantamento, realizado pelo Observatório Venezuelano de Violência e pelo Laboratório de Ciências Sociais, estima que 86,9% da população se sente vulnerável ao utilizar o transporte público e 75,9% têm medo nas ruas.
No fim de semana, foram assassinadas 54 pessoas em Caracas, cidade com cerca de 4,5 milhões de habitantes.


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