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Repressão cala oposicionistas em Teerã
Capital iraniana vive sob tensão às vésperas do primeiro aniversário da reeleição de Mahmoud Ahmadinejad
Cerco do governo jogou "movimento verde" na clandestinidade, mas insatisfação ameaça ressurgir com força
Ahmed Jadallah - 9.jun.09/Reuters
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Simpatizante do candidato oposicionista Mir Hossein
Mousavi em comício anterior à eleição presidencial; verde depois virou símbolo de protestos
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
O verde sumiu das ruas de
Teerã.
Sim, a capital iraniana
continua arborizada, e os
parques ainda servem de refúgio a casais que buscam
um namoro discreto em meio
à repressão religiosa -ou
simplesmente aos que querem ares menos poluídos do
que no resto da megalópole
de 14 milhões de pessoas.
Mas o verde das bandeiras
e faixas de protesto, que simboliza o movimento de oposição ao governo e inundou a
capital em 2009, este está ausente das ruas e avenidas.
Sob repressão e vigilância
constantes e sem uma liderança autenticamente popular, a oposição perdeu a voz.
Mas, mesmo recolhido aos
apartamentos da classe média, às salas de aula das universidades e à internet, o movimento verde mantém-se vivo na semiclandestinidade e
agora trama em voz baixa o
seu próximo passo.
A menos de um mês de
completar-se um ano da reeleição do presidente conservador Mahmoud Ahmadinejad, marcada por suspeitas
de fraude e violência, paira
uma tensa expectativa sobre
o que virá no aniversário.
A maioria aposta que o
medo prevalecerá, mantendo o "movimento verde" confinado entre quatro paredes.
Alguns torcem para que se
repita a explosão popular detonada em junho de 2009.
Na semana passada, ao
longo da visita do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva a
Teerã, a Folha percebeu entre ativistas, intelectuais e cidadãos comuns o temor de
que uma onda de repressão
com o objetivo de impedir
protestos pelo aniversário
das eleições esteja prestes a
ganhar intensidade.
A execução por enforcamento de cinco dissidentes
curdos e a condenação à revelia de um jornalista iraniano-canadense a 74 chibatadas e 13 anos de prisão reforçou o receio.
Um líder estudantil que já
foi preso duas vezes contou à
Folha que desde a execução
de sua mãe não consegue
dormir, com medo de que o
mesmo aconteça com ele.
Por medo de retaliações,
ele prefere que sua identidade seja mantida em sigilo -o
mesmo pedido foi feito por
todos os entrevistados ouvidos pela reportagem.
CENSURA
Após a eleição de 2009, o
regime iraniano apertou o
cerco aos dissidentes, controlando conversas e mensagens telefônicas e e-mails.
Ferramentas de comunicação usadas intensamente pela oposição na época dos protestos, como Facebook e
Skype, estão bloqueadas.
O mesmo ocorre com muitos sites de notícias ocidentais, como BBC e CNN.
A censura, contudo, é driblada sem grandes problemas, por programas que podem ser baixados facilmente.
"Sabemos o que acontece
no mundo graças ao serviço
em farsi da BBC", diz outro
estudante, que também já foi
interrogado pela polícia.
Quem chega a Teerã esperando barricadas de oposicionistas diante de tropas de
choque da polícia se surpreende com a aparente normalidade.
No bazar, multidões entopem as vielas estreitas em
busca de suprimentos, na
véspera do feriado que marca
a morte de Fátima, filha do
profeta Maomé.
Na rua Valiasr, principal
artéria da cidade e que no
ano passado foi cenário de
gigantescos protestos contidos com munição de verdade, a turbulência agora se
restringe ao trânsito caótico.
Nos quase 20 km da rua
que corta Teerã, do empobrecido sul ao burguês norte, há
dezenas de painéis com imagens dos aiatolás Ruhollah
Khomeini, líder da Revolução Islâmica, e Ali Khamenei, atual líder supremo.
Mas nem um único vestígio da contrarrevolução verde surgida no ano passado.
Entretanto, não é preciso
muito esforço para captar os
sinais de insatisfação. Num
restaurante na parte rica da
cidade, a reportagem da Folha foi abordada por dois homens de meia-idade, que em
poucos minutos estavam criticando Ahmadinejad.
Apesar do medo, a necessidade de expressão é evidente. "Vivemos tempos
obscuros", diz um deles, treinador de luta greco-romana.
"A religião é só um pretexto para tirar as liberdades políticas", acrescenta.
O ex-premiê Mir Hossein
Mousavi, apontado por seus
partidários como verdadeiro
vencedor da eleição de 2009,
usa a internet para convocar
uma demonstração pacífica
para o dia 12 de junho, primeiro aniversário do pleito.
Se será atendido ou não,
permanece uma grande interrogação.
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