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Presidente de Timor ameaça renunciar
Divisão no poder se acirra, e Xanana Gusmão diz que apresentará demissão hoje caso o premiê Mari Alkatiri não o faça
Com o apoio do partido majoritário no Parlamento, chefe do governo se recusa a deixar cargo; manifestantes preparam novos protestos
DA REDAÇÃO
O presidente de Timor Leste,
Xanana Gusmão, ameaçou renunciar na manhã de hoje caso
o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, não o faça, aprofundando a crise política do país.
"Amanhã [hoje] escreverei
uma carta ao Parlamento informando que estou renunciando
como presidente da República
porque estou embaraçado com
todas as coisas ruins que o Estado tem feito com o povo", disse Gusmão em um pronunciamento de 90 minutos à nação
na noite de ontem.
Com o acirramento da crise,
milhares de manifestantes de
oposição se deslocaram em
comboios de mais de cem caminhões durante a noite para as
imediações da sede de governo,
no centro da capital timorense,
Dili, onde eles fizeram acampamento.
"Temo que possa se tornar
mais violento, com mais tiroteios e casas incendiadas", disse Augusto Júnior Trindade,
organizador do protesto. "Com
Gusmão renunciando, a situação fica muito difícil."
Xanana havia pedido a renúncia de Alkatiri por carta na
última quarta-feira.
A decisão do premiê de demitir 600 dos 1.400 soldados do
Exército, que estavam em greve, é apontado como o estopim
para a onda de violência que tomou Dili em maio.
Alkatiri é acusado ainda de
ter colaborado com um dos
grupos que participaram da
violência. O ministro do Interior, Rogério Lobato, está preso
desde terça-feira, acusado de
ter ordenado a um grupo exterminar adversários políticos do
premiê. Alkatiri nega.
Tropas rebeldes e milhares
de manifestantes vêm pedindo
a saída do premiê, responsabilizando-o pelos confrontos, que
deixaram ao menos 30 pessoas
mortas.
Foi o período mais violento
desde que o país obteve independência da Indonésia há sete
anos, quando milícias mataram
quase 1.500 pessoas. Mas a situação se acalmou após a chegada de 2.500 homens de uma
força de paz liderada pela Austrália.
Apoio
Anteontem, um porta-voz do
premiê chegou a dizer que ele
renunciaria. Mas ontem Alkatiri recebeu o apoio do partido
Fretilin (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente), que detém 55 das 88 cadeiras no Parlamento.
"A Fretilin reafirma Mari Alkatiri como premiê", disse o
porta-voz do partido, José Reis.
"Não renunciarei coisa nenhuma", afirmou Alkatiri à
agência de notícias portuguesa
Lusa. "A situação é tão complicada que uma decisão apressada poderia complicar as coisas
ainda mais."
"A decisão que se tomou é
que toda solução para essa crise
deve ocorrer dentro dos limites
constitucionais", acrescentou.
Xanana acusou a Fretilin de
criar instabilidade. "Os líderes
da Fretilin querem matar a democracia em Timor Leste."
Já o partido disse que a declaração do presidente foi uma jogada política e que duvida que
ele renuncie.
"Ele está apelando à população para que peça que ele permaneça na Presidência", disse
um porta-voz da Fretilin, que
pediu anonimato.
Pouco antes do pronunciamento de Xanana Gusmão, o
vice-secretário-geral do partido, Manuel Fernandes, havia
dito que o presidente da República, o premiê e o presidente
do Parlamento se reuniriam
hoje para discutir a situação.
Protestos
Segundo Trindade, já são
6.700 os manifestantes acampados e outros 10 mil devem
chegar até hoje. "Se Alkatiri
ainda estiver no poder, algo vai
acontecer", disse.
"Estamos prontos para eles",
disse o brigadeiro Mick Slater,
comandante das forças de paz
lideradas pela Austrália em Timor. "Todo veículo que chegar
à cidade do leste e do oeste será
revistado por armas, assim como as pessoas a bordo."
Com agências internacionais
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