São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

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Presidente de Timor ameaça renunciar

Divisão no poder se acirra, e Xanana Gusmão diz que apresentará demissão hoje caso o premiê Mari Alkatiri não o faça

Com o apoio do partido majoritário no Parlamento, chefe do governo se recusa a deixar cargo; manifestantes preparam novos protestos


DA REDAÇÃO

O presidente de Timor Leste, Xanana Gusmão, ameaçou renunciar na manhã de hoje caso o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, não o faça, aprofundando a crise política do país.
"Amanhã [hoje] escreverei uma carta ao Parlamento informando que estou renunciando como presidente da República porque estou embaraçado com todas as coisas ruins que o Estado tem feito com o povo", disse Gusmão em um pronunciamento de 90 minutos à nação na noite de ontem.
Com o acirramento da crise, milhares de manifestantes de oposição se deslocaram em comboios de mais de cem caminhões durante a noite para as imediações da sede de governo, no centro da capital timorense, Dili, onde eles fizeram acampamento.
"Temo que possa se tornar mais violento, com mais tiroteios e casas incendiadas", disse Augusto Júnior Trindade, organizador do protesto. "Com Gusmão renunciando, a situação fica muito difícil."
Xanana havia pedido a renúncia de Alkatiri por carta na última quarta-feira.
A decisão do premiê de demitir 600 dos 1.400 soldados do Exército, que estavam em greve, é apontado como o estopim para a onda de violência que tomou Dili em maio.
Alkatiri é acusado ainda de ter colaborado com um dos grupos que participaram da violência. O ministro do Interior, Rogério Lobato, está preso desde terça-feira, acusado de ter ordenado a um grupo exterminar adversários políticos do premiê. Alkatiri nega.
Tropas rebeldes e milhares de manifestantes vêm pedindo a saída do premiê, responsabilizando-o pelos confrontos, que deixaram ao menos 30 pessoas mortas.
Foi o período mais violento desde que o país obteve independência da Indonésia há sete anos, quando milícias mataram quase 1.500 pessoas. Mas a situação se acalmou após a chegada de 2.500 homens de uma força de paz liderada pela Austrália.

Apoio
Anteontem, um porta-voz do premiê chegou a dizer que ele renunciaria. Mas ontem Alkatiri recebeu o apoio do partido Fretilin (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente), que detém 55 das 88 cadeiras no Parlamento.
"A Fretilin reafirma Mari Alkatiri como premiê", disse o porta-voz do partido, José Reis.
"Não renunciarei coisa nenhuma", afirmou Alkatiri à agência de notícias portuguesa Lusa. "A situação é tão complicada que uma decisão apressada poderia complicar as coisas ainda mais."
"A decisão que se tomou é que toda solução para essa crise deve ocorrer dentro dos limites constitucionais", acrescentou.
Xanana acusou a Fretilin de criar instabilidade. "Os líderes da Fretilin querem matar a democracia em Timor Leste."
Já o partido disse que a declaração do presidente foi uma jogada política e que duvida que ele renuncie.
"Ele está apelando à população para que peça que ele permaneça na Presidência", disse um porta-voz da Fretilin, que pediu anonimato.
Pouco antes do pronunciamento de Xanana Gusmão, o vice-secretário-geral do partido, Manuel Fernandes, havia dito que o presidente da República, o premiê e o presidente do Parlamento se reuniriam hoje para discutir a situação.

Protestos
Segundo Trindade, já são 6.700 os manifestantes acampados e outros 10 mil devem chegar até hoje. "Se Alkatiri ainda estiver no poder, algo vai acontecer", disse.
"Estamos prontos para eles", disse o brigadeiro Mick Slater, comandante das forças de paz lideradas pela Austrália em Timor. "Todo veículo que chegar à cidade do leste e do oeste será revistado por armas, assim como as pessoas a bordo."


Com agências internacionais

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