São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Islâmicos esboçam acordo para a Somália

Em documento assinado no Sudão, milicianos se comprometem a não agredir o governo provisório

DA REDAÇÃO

O governo interino da Somália e as cortes islâmicas, que tomaram a capital Mogadício no último dia 5, anunciaram ontem um acordo pelo qual se reconhecem mutuamente, evitam hostilidades e iniciam negociações a partir do dia 15.
Os Estados Unidos, enquanto isso, pediram aos grupos muçulmanos que extraditem três estrangeiros supostamente vinculados à Al Qaeda e envolvidos nos atentados contra as embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia, em 1998.
O compromisso entre o enfraquecido governo provisório e os grupos muçulmanos foi firmado em Cartum, capitão do Sudão, durante encontro patrocinado pela Liga Árabe.
O governo somali é reconhecido por uma pequena parcela do país. Ele nunca funcionou ou teve o controle de Mogadício. Funciona em Baidoa, uma cidade provincial do sul.
A capital estava em mãos dos chamados "senhores da guerra", apoiados nos últimos meses pelo governo americano por serem, com suas milícias, as únicas forças capazes de enfrentar os grupos islâmicas, que Washington suspeita de vínculos com o terrorismo.
O governo provisório achava que as forças islâmicas queriam tomar de assalto Baidoa, intenção que elas negavam. Com a abertura de negociações, os "senhores da guerra" -chefes tribais que dividiram o poder desde o colapso do Estado, no início dos anos 90- ficaram agora mais enfraquecidos.
O acordo de ontem foi assinado pelo presidente sudanês, Omar Hassan al Bashir, pelo presidente interino da Somália, Agdullahi Yusuf, e pelo secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa. O líder das cortes islâmicas, xeque Sharif Ahmed, não estava presente. Mas enviou uma delegação de dez pessoas para as negociações.
O grupo islâmico é chamado de "corte" porque, há pouco menos de 15 anos, as mesquitas passaram a julgar litígios e a substituir os cartórios, em razão do colapso do Judiciário.
Funcionando também como substitutas da Previdência Social -arrecadavam impostos e sustentavam viúvas e enfermos-, elas se enquadraram num modelo também adotado, por exemplo, pelo Hamas nos territórios palestinos.
Sharif Ahmed nega querer instituir uma república islâmica. Mas o governo americano desconfia ser essa a intenção dele e de seus seguidores, o que faria da Somália uma base de extremistas bastante assemelhada ao Afeganistão.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Presidente de Timor ameaça renunciar
Próximo Texto: Opinião: Esquecido pelo Ocidente, país virou lodaçal
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.