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opinião
O arsenal de Israel e seus vizinhos
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Considerado o pai do arsenal atômico de Israel,
Shimon Peres assumiu a
Presidência do país, na semana passada, com sua
obra ainda inconfessada.
Mas o próprio secretário
de Defesa dos Estados
Unidos admitiu que Israel
tem a bomba e, o que é
mais grave, não hesitou
em relacioná-la com as
ambições nucleares do Irã.
Questionado sobre as razões que levariam o Irã a
perseguir a bomba, Robert
Gates respondeu textualmente: "Ele está cercado
de potências com engenhos atômicos, o Paquistão a leste, a Rússia no norte, nós no golfo Pérsico e
Israel a oeste."
Gates de certo modo,
além de tirar a bomba de
Israel da clandestinidade,
legitimou as ambições do
Irã, a partir das regras do
"equilíbrio pelo terror"
herdadas da Guerra Fria.
Se o outro tem, eu também
posso ter, argumento que
colocou Índia e Paquistão
em paridade nuclear e
atestou a impotência do
Tratado de Não-Proliferação em conter o que a
ONU considera a maior
ameaça à humanidade.
Ambigüidade
Não se trata somente do
advento de novos membros a um clube antes seleto. O acordo manda que as
potências reduzam seus
arsenais e isso não acontece. A Inglaterra atualizará
seus submarinos Tridents
e os americanos testam
novas armas.
Israel se tornou caso à
parte. Os Estados Unidos
adotaram uma política de
"não perguntar e não falar
a respeito" das armas de
destruição maciça de seu
aliado estratégico. O "Bulletin of the Atomic Scientists", cujo relógio do Apocalipse tem ponteiros que
se aproximam ou se afastam da meia-noite, à medida que o mundo se torne
mais ou menos perigoso,
disse que Nixou soube que
Israel desenvolvia armas
nucleares. Optou, segundo
documentos oficiais, por
não pressioná-lo a aceitar
regulamentos internacionais. Já Israel ficou fora do
Tratado de Não-Proliferação com uma "estratégia
de ambigüidade".
Com as declarações de
Gates, os Estados Unidos
rompem o silêncio a respeito da bomba de Israel e
em circunstâncias cada
dia mais complicadas.
Quando a Líbia aceitou
desmontar seus laboratórios, o diretor da Agência
Internacional de Energia
Atômica, Mohammed Baradei, pediu a Israel que fizesse o mesmo. Em entrevista ao jornal israelense
"Haaretz", El Baradei afirmou que a paz e a segurança do Oriente Médio dependem em boa parte da
aceitação de Israel em enquadrar-se na não-proliferação. Com isso os cultores da "bomba islâmica", o
que incluiria o Irã, deixariam de ter argumentos.
Também se reduziriam
os riscos de acidentes. Matéria publicada na "New
Yorker" garante que Israel
esteve em alerta nuclear
pelo menos uma vez. Em
1991, na primeira guerra
do Golfo, quando o Iraque
disparou foguetes Scud
contra ele. Documento do
Carnegie Endowment for
International Peace, dos
Estados Unidos, intitulado "Arsenais Mortíferos",
diz que "Israel tem capacidade nuclear avançada,
com materiais e infra-estrutura suficientes para
produzir de 98 a 172 bombas".
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais
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