São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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opinião

O arsenal de Israel e seus vizinhos

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Considerado o pai do arsenal atômico de Israel, Shimon Peres assumiu a Presidência do país, na semana passada, com sua obra ainda inconfessada. Mas o próprio secretário de Defesa dos Estados Unidos admitiu que Israel tem a bomba e, o que é mais grave, não hesitou em relacioná-la com as ambições nucleares do Irã.
Questionado sobre as razões que levariam o Irã a perseguir a bomba, Robert Gates respondeu textualmente: "Ele está cercado de potências com engenhos atômicos, o Paquistão a leste, a Rússia no norte, nós no golfo Pérsico e Israel a oeste." Gates de certo modo, além de tirar a bomba de Israel da clandestinidade, legitimou as ambições do Irã, a partir das regras do "equilíbrio pelo terror" herdadas da Guerra Fria.
Se o outro tem, eu também posso ter, argumento que colocou Índia e Paquistão em paridade nuclear e atestou a impotência do Tratado de Não-Proliferação em conter o que a ONU considera a maior ameaça à humanidade.

Ambigüidade
Não se trata somente do advento de novos membros a um clube antes seleto. O acordo manda que as potências reduzam seus arsenais e isso não acontece. A Inglaterra atualizará seus submarinos Tridents e os americanos testam novas armas.
Israel se tornou caso à parte. Os Estados Unidos adotaram uma política de "não perguntar e não falar a respeito" das armas de destruição maciça de seu aliado estratégico. O "Bulletin of the Atomic Scientists", cujo relógio do Apocalipse tem ponteiros que se aproximam ou se afastam da meia-noite, à medida que o mundo se torne mais ou menos perigoso, disse que Nixou soube que Israel desenvolvia armas nucleares. Optou, segundo documentos oficiais, por não pressioná-lo a aceitar regulamentos internacionais. Já Israel ficou fora do Tratado de Não-Proliferação com uma "estratégia de ambigüidade".
Com as declarações de Gates, os Estados Unidos rompem o silêncio a respeito da bomba de Israel e em circunstâncias cada dia mais complicadas. Quando a Líbia aceitou desmontar seus laboratórios, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohammed Baradei, pediu a Israel que fizesse o mesmo. Em entrevista ao jornal israelense "Haaretz", El Baradei afirmou que a paz e a segurança do Oriente Médio dependem em boa parte da aceitação de Israel em enquadrar-se na não-proliferação. Com isso os cultores da "bomba islâmica", o que incluiria o Irã, deixariam de ter argumentos.
Também se reduziriam os riscos de acidentes. Matéria publicada na "New Yorker" garante que Israel esteve em alerta nuclear pelo menos uma vez. Em 1991, na primeira guerra do Golfo, quando o Iraque disparou foguetes Scud contra ele. Documento do Carnegie Endowment for International Peace, dos Estados Unidos, intitulado "Arsenais Mortíferos", diz que "Israel tem capacidade nuclear avançada, com materiais e infra-estrutura suficientes para produzir de 98 a 172 bombas".


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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