|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Estagnação no Afeganistão é pano de fundo de desacordo
EDWARD LUCE
DANIEL DOMBEY
DO "FINANCIAL TIMES"
Para o general Stanley
McChrystal, o momento dificilmente poderia ter sido
pior. Apenas 24 horas antes
da reunião mensal do Conselho de Segurança Nacional
sobre o Afeganistão, a insensata entrevista de McChrystal
à revista "Rolling Stone"
agravou a preocupação crescente quanto às operações
dos EUA no país asiático.
Foi McChrystal que, em
maio, descreveu como "úlcera inflamada" o distrito de
Marjah, que deveria servir
como demonstração inicial
dos efeitos de sua estratégia
de combate à insurgência.
A falta de progresso numa
área minúscula e com 80 mil
habitantes ajudou a persuadir as autoridades americanas a adiar para setembro o
grande esforço planejado para Candahar, sede espiritual
do Taleban no Afeganistão.
A deterioração das condições no Afeganistão chamou
a atenção para a discórdia no
seio da equipe do governo
Obama para o país.
Outra causa de preocupação é a percepção de que o
presidente afegão, Hamid
Karzai, continua agindo de
maneira muito independente. Neste mês, Karzai demitiu
os dois membros mais bem
avaliados de seu governo,
consternando Washington.
Amrullah Saleh, que chefiava os serviços de inteligência, e Hanif Atmar, titular da
pasta do Interior, eram vistos
como elos importantes nos
esforços americanos para reforçar as capacidades policiais e de inteligência afegãs
-fator mais importante na
campanha de McChrystal para combater a insurgência.
Dados esses reveses, muita gente em Washington começou a se preocupar mais e
mais com a divisão percebida
entre os comandantes militares americanos e a equipe política da Casa Branca.
Os militares prefeririam
que o compromisso americano com o Afeganistão não tivesse validade definida. Já a
equipe política de Obama está aterrorizada com a perspectiva de chegar à eleição
presidencial de 2012 com o
conflito estagnado.
Questionado em audiência no Senado, em maio, se
os EUA seriam capazes de
realizar seus objetivos até julho de 2011, o general David
Petraeus, chefe das forças
americanas no Iraque e no
Afeganistão, alertou contra
cronogramas inflexíveis.
Quanto a McChrystal, militares de alta patente dizem
que suas declarações devem
ser entendidas como parte da
cultura das forças de operações especiais americanas.
Apontam também para o
fato de que, diferentemente
das falas do general Douglas
McArthur, que contestou a
estratégia do presidente
Harry Truman (1945-1953)
para a Guerra da Coreia e foi
demitido, as declarações de
McChrystal eram mais pessoais que políticas.
Outros observadores, porém, apontam para sua reputação de arrogância e para a
impaciência que mal podia
ocultar diante da divulgação
do resultado da revisão de
Obama sobre o Afeganistão e
Paquistão, no ano passado.
Texto Anterior: Bastidores: Artigo só foi possível por vulcão Próximo Texto: Juiz contraria Obama e libera perfuração Índice
|