São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2010

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ANÁLISE

Estagnação no Afeganistão é pano de fundo de desacordo

EDWARD LUCE
DANIEL DOMBEY
DO "FINANCIAL TIMES"

Para o general Stanley McChrystal, o momento dificilmente poderia ter sido pior. Apenas 24 horas antes da reunião mensal do Conselho de Segurança Nacional sobre o Afeganistão, a insensata entrevista de McChrystal à revista "Rolling Stone" agravou a preocupação crescente quanto às operações dos EUA no país asiático.
Foi McChrystal que, em maio, descreveu como "úlcera inflamada" o distrito de Marjah, que deveria servir como demonstração inicial dos efeitos de sua estratégia de combate à insurgência.
A falta de progresso numa área minúscula e com 80 mil habitantes ajudou a persuadir as autoridades americanas a adiar para setembro o grande esforço planejado para Candahar, sede espiritual do Taleban no Afeganistão.
A deterioração das condições no Afeganistão chamou a atenção para a discórdia no seio da equipe do governo Obama para o país.
Outra causa de preocupação é a percepção de que o presidente afegão, Hamid Karzai, continua agindo de maneira muito independente. Neste mês, Karzai demitiu os dois membros mais bem avaliados de seu governo, consternando Washington.
Amrullah Saleh, que chefiava os serviços de inteligência, e Hanif Atmar, titular da pasta do Interior, eram vistos como elos importantes nos esforços americanos para reforçar as capacidades policiais e de inteligência afegãs -fator mais importante na campanha de McChrystal para combater a insurgência.
Dados esses reveses, muita gente em Washington começou a se preocupar mais e mais com a divisão percebida entre os comandantes militares americanos e a equipe política da Casa Branca.
Os militares prefeririam que o compromisso americano com o Afeganistão não tivesse validade definida. Já a equipe política de Obama está aterrorizada com a perspectiva de chegar à eleição presidencial de 2012 com o conflito estagnado.
Questionado em audiência no Senado, em maio, se os EUA seriam capazes de realizar seus objetivos até julho de 2011, o general David Petraeus, chefe das forças americanas no Iraque e no Afeganistão, alertou contra cronogramas inflexíveis.
Quanto a McChrystal, militares de alta patente dizem que suas declarações devem ser entendidas como parte da cultura das forças de operações especiais americanas.
Apontam também para o fato de que, diferentemente das falas do general Douglas McArthur, que contestou a estratégia do presidente Harry Truman (1945-1953) para a Guerra da Coreia e foi demitido, as declarações de McChrystal eram mais pessoais que políticas.
Outros observadores, porém, apontam para sua reputação de arrogância e para a impaciência que mal podia ocultar diante da divulgação do resultado da revisão de Obama sobre o Afeganistão e Paquistão, no ano passado.


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