São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Relatório final, apresentado em tom dramático, aponta "profundas falhas" e o risco de novos atentados

"Não estamos seguros", diz comissão do 11/9

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

"Não estamos seguros", concluiu a comissão do Congresso dos EUA que investigou as circunstâncias do 11 de Setembro. Apresentado ontem em tom dramático, o relatório final disse que houve "profundas falhas" das agências de segurança americanas e recomendou uma série de modificações para evitar atentados como os que mataram cerca de 3.000 pessoas no país em 2001.
"Os terroristas penetraram as defesas do país mais poderoso do mundo, infligiram um grande trauma em nossa população e colocaram a ordem internacional existente de cabeça para baixo", disse o republicano Tom Kean, presidente da comissão
"Todos os especialistas consultados nos disseram que um novo ataque de proporções ainda maiores é possível e mesmo provável. Não podemos contar com o luxo de ter mais tempo disponível. Devemos nos preparar e agir", afirmou Kean.
O relatório, que deverá ter peso na campanha para a eleição presidencial de novembro, responsabilizou o governo de George W. Bush e o de seu antecessor, Bill Clinton (1993-2001), por "falhas de políticas, gerenciamento, capacidade e, acima de tudo, de imaginação" para tentar evitar o maior atentado terrorista da história.
Apesar disso, o relatório enfatizou que as principais oportunidades de identificar e atrapalhar os planos da rede terrorista Al Qaeda foram perdidas durante o governo Bush, especialmente nas semanas que antecederam o 11 de Setembro.
Antes do anúncio formal das conclusões, Bush recebeu uma cópia do relatório nos jardins da Casa Branca. "Quero assegurar que onde o governo tiver de agir, vai agir", disse o presidente, sem se comprometer com as mudanças sugeridas pela comissão.
"A comissão reconhece o que eu reconheço e o que a América sabe: que ainda existe uma ameaça e que temos a obrigação de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para proteger o povo norte-americano", afirmou.
O senador democrata John Kerry, virtual adversário de Bush em novembro, foi mais longe e prometeu, caso seja eleito, criar uma "cúpula emergencial de segurança" para "tomar as medidas administrativas necessárias para proteger o país".
A três dias da convenção que apontará formalmente Kerry como adversário de Bush, líderes democratas atacaram o presidente por não ter, segundo eles, priorizado a guerra contra a Al Qaeda, preferindo invadir o Iraque.
A comissão não apontou vínculos sólidos entre a Al Qaeda e o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Mas afirmou existirem "fortes evidências" de que o Irã foi mais "leniente" do que o Iraque com a presença e trânsito de membros da Al Qaeda em seu território e recomendou o "aprofundamento" das investigações dessas relações.
Sobre o Paquistão, que tem 150 milhões de muçulmanos, a comissão sugeriu uma série de medidas pontuais, como programas educacionais e contra a pobreza, financiados pelos EUA.
Para a Arábia Saudita, de onde saíram 15 dos 19 terroristas que participaram diretamente do 11 de Setembro, o relatório recomendou que os EUA procurem uma relação que tenha "um significado maior do que o petróleo". O relatório apontou o "terrorismo islâmico" como o principal inimigo dos EUA.
O Senado aprovou ontem por unanimidade projeto de lei que regulamenta o emprego de US$ 416, 2 bilhões na defesa militar do país. A medida, que deveria ser examinada pela Câmara dos Deputados ainda ontem, inclui US$ 25 bilhões para operações no Iraque e no Afeganistão.


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