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GUERRA SEM LIMITES
Relatório final, apresentado em tom dramático, aponta "profundas falhas" e o risco de novos atentados
"Não estamos seguros", diz comissão do 11/9
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
"Não estamos seguros", concluiu a comissão do Congresso
dos EUA que investigou as circunstâncias do 11 de Setembro.
Apresentado ontem em tom dramático, o relatório final disse que
houve "profundas falhas" das
agências de segurança americanas e recomendou uma série de
modificações para evitar atentados como os que mataram cerca
de 3.000 pessoas no país em 2001.
"Os terroristas penetraram as
defesas do país mais poderoso do
mundo, infligiram um grande
trauma em nossa população e colocaram a ordem internacional
existente de cabeça para baixo",
disse o republicano Tom Kean,
presidente da comissão
"Todos os especialistas consultados nos disseram que um novo
ataque de proporções ainda
maiores é possível e mesmo provável. Não podemos contar com o
luxo de ter mais tempo disponível. Devemos nos preparar e
agir", afirmou Kean.
O relatório, que deverá ter peso
na campanha para a eleição presidencial de novembro, responsabilizou o governo de George W.
Bush e o de seu antecessor, Bill
Clinton (1993-2001), por "falhas
de políticas, gerenciamento, capacidade e, acima de tudo, de imaginação" para tentar evitar o maior
atentado terrorista da história.
Apesar disso, o relatório enfatizou que as principais oportunidades de identificar e atrapalhar os
planos da rede terrorista Al Qaeda
foram perdidas durante o governo Bush, especialmente nas semanas que antecederam o 11 de Setembro.
Antes do anúncio formal das
conclusões, Bush recebeu uma
cópia do relatório nos jardins da
Casa Branca. "Quero assegurar
que onde o governo tiver de agir,
vai agir", disse o presidente, sem
se comprometer com as mudanças sugeridas pela comissão.
"A comissão reconhece o que eu
reconheço e o que a América sabe:
que ainda existe uma ameaça e
que temos a obrigação de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance
para proteger o povo norte-americano", afirmou.
O senador democrata John
Kerry, virtual adversário de Bush
em novembro, foi mais longe e
prometeu, caso seja eleito, criar
uma "cúpula emergencial de segurança" para "tomar as medidas
administrativas necessárias para
proteger o país".
A três dias da convenção que
apontará formalmente Kerry como adversário de Bush, líderes
democratas atacaram o presidente por não ter, segundo eles, priorizado a guerra contra a Al Qaeda,
preferindo invadir o Iraque.
A comissão não apontou vínculos sólidos entre a Al Qaeda e o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Mas afirmou existirem "fortes evidências" de que o Irã foi
mais "leniente" do que o Iraque
com a presença e trânsito de
membros da Al Qaeda em seu território e recomendou o "aprofundamento" das investigações dessas relações.
Sobre o Paquistão, que tem 150
milhões de muçulmanos, a comissão sugeriu uma série de medidas pontuais, como programas
educacionais e contra a pobreza,
financiados pelos EUA.
Para a Arábia Saudita, de onde
saíram 15 dos 19 terroristas que
participaram diretamente do 11
de Setembro, o relatório recomendou que os EUA procurem
uma relação que tenha "um significado maior do que o petróleo".
O relatório apontou o "terrorismo islâmico" como o principal
inimigo dos EUA.
O Senado aprovou ontem por
unanimidade projeto de lei que
regulamenta o emprego de US$
416, 2 bilhões na defesa militar do
país. A medida, que deveria ser
examinada pela Câmara dos Deputados ainda ontem, inclui US$
25 bilhões para operações no Iraque e no Afeganistão.
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