São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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ÁLCOOL

Concorrência de outros países e bebidas e boicote nos EUA derrubam exportação e vendas internas; governo quer que francês beba mais e é criticado por estimular alcoolismo

França muda regras para ajudar vinícolas em crise

DA REDAÇÃO

A França lançou um plano para ajudar sua deficitária indústria vinícola a reconquistar o destaque nos mercados internacionais, onde vem perdendo terreno para produtores de países com produção mais recente.
Pressionado pelos vinicultores, o governo prometeu duplicar as verbas de promoção do vinho francês no exterior, permitir que exportadores de menor qualidade comercializem seus produtos de acordo com a variedade da uva (não mais pela região de proveniência) e liberar o emprego de novas formas de tecnologia vinícola. "As medidas esclarecerão e simplificarão a forma pela qual os vinhos franceses são comercializados nos mercados internacionais", disse anteontem o ministro da Agricultura, Hervé Gaymard, após reunião com representantes do setor.
Gaymard disse que permitir que vinhos de mesa hoje comercializados como "vins de pays" ou "vins de table" sejam "comercializados pela variedade da uva ou sob uma marca responderia às demandas de consumidores nos mercados internacionais, onde a concorrência é mais acirrada".
Os vinhos de melhor qualidade devem continuar usando o sistema de rotulação AOC (Appelation D'Origine Contrôlée), uma garantia de que o vinho provém de uma localidade geográfica específica. "É a pedra fundamental de uma nova estrutura para o vinho francês", disse Gaymard.
Ele anunciou também que certas técnicas usadas na produção de vinho em outros países mas proibidas na França -como o uso de raspas de madeira para acrescentar sabor- seriam agora admitidas.
O setor vinícola francês, pilar da vida nacional e fonte de 75 mil empregos, foi fortemente prejudicado pela concorrência de rivais do "Novo Mundo", como a Austrália, o Chile e a África do Sul, bem como pela conscientização do público doméstico quanto à saúde. As exportações francesas de vinho caíram 3,4% no ano passado, prejudicadas por fatores como a disputa francesa com os EUA em função da Guerra no Iraque (que gerou uma campanha de boicote à França naquele país) e a alta do euro diante do dólar, o que encareceu os produtos franceses no exterior.
Em uma mudança de cultura mais ampla, o vinho deixou de ser a escolha automática de bebida para muitos franceses. Os produtores estimam o consumo do país em 58 litros anuais por pessoa em 2002, ante 100 litros no começo dos anos 1960.
E a situação pode se agravar. O Ministério da Agricultura estima que a safra deste ano será 19% maior que a do ano passado e superará em 2% a média dos últimos cinco anos.
Os senadores franceses apoiaram o relaxamento das medidas, como parte de uma campanha de estímulo ao consumo. Se aprovada na Câmara, a proposta pode abrir caminho a mais publicidade, com o objetivo de convencer os franceses a acabar com a crise do setor bebendo.
Mas os grupos de combate ao alcoolismo dizem que as doenças relacionadas à bebida aumentarão se o governo relaxar as restrições à publicidade, que limita as vinícolas a oferecer informações factuais, em lugar de associar seus produtos a pessoas ou situações.


Com agências internacionais


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