São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

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Partido islâmico vence eleição parlamentar turca

Legenda do premiê Recep Erdogan obtém 46%, votação superior à de 2002

Agremiação governista perde porém cadeiras na Casa devido a união da oposição; curdos também ganham representação

Ismail Sahin/Associated Press
O premiê Erdogan vê sua mulher, Emine, votar em Istambul


DA REDAÇÃO

O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AK) obteve uma convincente vitória nas eleições de ontem na Turquia, dando ao governo a chance de continuar com seu programa de reformas econômicas pró-mercado, mas também preparando o terreno para novas tensões com a elite secular.
O resultado é um triunfo moral para o premiê Recep Tayyip Erdogan, que teve de convocar eleições antecipadas depois de uma queda-de-braço com os militares e o establishment em geral que não queriam que ele indicasse um aliado islâmico para ocupar a Presidência.
Com quase todos os votos contados, o AK obteve 46% (bem mais do que os 34% de 2002), mas deverá ficar com menos cadeiras, porque dois partidos de oposição, ambos seculares, conseguiram os mais de 10% necessários para transpor a cláusula de barreira, fazendo jus a outros assentos. São o Partido Republicano do Povo (centro-esquerda), que ficou com 21%, e o Partido do Movimento Nacionalista (direita), que obteve 14%.
Vários representantes da minoria curda, que concorreram como independentes, conseguiram cadeiras também. É a primeira vez desde 1990 que curdos terão representação.
"A democracia triunfou num teste muito importante", disse Erdogan a partidários num comício para celebrar a vitória em Ancara. "Não importa em quem você tenha votado, respeitamos sua escolha. Vemos as diferenças como parte de nossa democracia plural", acrescentou o premiê.
Erdogan também afirmou que vai continuar com as reformas econômicas e com os esforços para a entrada da Turquia na União Européia.

Teocracia
Os eleitores aparentemente não se deixaram influenciar pela campanha da oposição que acusava o AK de planejar secretamente a introdução de uma teocracia nos moldes da iraniana. "A controvérsia que testemunhamos entre islã e secularismo não se materializou", disse Sami Kohen, colunista do jornal "Milliyet".
Economistas celebram a vitória do AK. "Este é o melhor cenário possível para os mercados (...) A questão agora é como o establishment vai reagir e isso é algo que pode preocupar", disse Simon Quijano-Evans.
O Exército turco vê a si mesmo como garantidor final do Estado laico e derrubou quatro governos nos últimos 50 anos. "Não acho que estejam satisfeitos [os generais], mas não vão mandar tanques. Vão procurar influir por outros meios", disse o jornalista Semih Idiz.
O próximo governo de Erdogan terá vários desafios. Deve, em primeiro lugar, encontrar um candidato à Presidência que contente ao seu partido e seja palatável para os militares. Precisa também dar continuidade ao programa de reformas liberais, em especial na área fiscal. Estima-se que 50% da economia esteja na informalidade.


Com agências internacionais


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