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[+]análise
Também na Turquia vota-se com o bolso
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
Especialmente para a mídia ocidental, as eleições turcas representariam um embate entre religião e secularismo, com o AK, o partido
do governo, conclamando os
fiéis a louvarem Alá. Essa é,
sem dúvida, uma questão importante e que divide os turcos, mas não é a única e talvez nem a principal.
Como qualquer outro povo, os turcos votam principalmente com o bolso. E aí o
AK tem excelentes resultados a apresentar. Conseguiu
derrubar a hiperinflação e fazer a Turquia crescer a taxas
próximas a 7% ao ano. Para
os pobres, oferece programas sociais.
Outro fator que influiu
bastante no pleito de ontem
foi a questão curda. Enquanto os militares e a oposição
querem invadir o norte do
Iraque e sufocar desde a origem o que seria um Estado
curdo independente, o premiê Erdogan vem tentando
manter os tanques longe da
fronteira e está conversando
com o presidente dos EUA,
George W. Bush -o que não
o ajuda muito em termos
eleitorais. Embora mantenha uma retórica dura, vem
ampliando os direitos dos
curdos na tentativa de reduzir os ataques dos separatistas, que já mataram mais de
35 mil pessoas desde 1984.
No mais, é preciso relativizar um pouco a "ameaça islâmica". É verdade que o AK
tem suas origens no islamismo político, mas não é tão religioso -ou suicida, dado o
histórico de golpes dos generais laicos- a ponto de tentar reverter as instituições
seculares turcas. No poder
desde 2002, o AK não ousou
banir as bebidas alcoólicas
ou reverter a proibição do
uso de véu nas instituições
públicas, que vigora desde as
reformas ocidentalizantes
de Musatafá Ataturk (1881-1938), nos anos 20 e 30.
Haveria um duplo risco caso o AK tivesse obtido mais
de dois terços do Parlamento. De um lado, o partido poderia emendar a Constituição, afrouxando a firme separação entre religião e Estado. De outro, a elite secular
-generais e juízes- poderia
antecipar-se à "ameaça" e
pôr o governo para correr.
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