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Morre publisher do espanhol "El País"
Polanco presidia o principal jornal da Espanha e comandava rede de mídia presente em mais de 22 países
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Foi sepultado ontem em Madri o corpo de Jesús de Polanco,
o mais importante empresário
da comunicação em espanhol,
presidente do jornal "El País", o
de maior difusão na Espanha.
"El País" era a jóia da coroa
do grupo Prisa, comandado por
Polanco, hoje presente em 22
países, com rádio, mídia impressa, TV, internet e conteúdos culturais.
Não parece exagero dizer que
se trata do grupo mais influente
não só na Espanha mas também em todo o mundo de fala
espanhola, em especial na
América Latina.
Toda essa potência não fazia
Jesús de Polanco intitular-se
mais do que "um vendedor de
livros". Certamente porque começou como empreendedor na
Editora Santillana, criada em
1958.
Em 1975, no ocaso da ditadura de Francisco Franco na Espanha, teve a ousadia de pôr dinheiro do próprio bolso até para comprar as rotativas do jornal que, com extraordinária rapidez, se transformaria em referência de jornalismo de qualidade. Todos os jornalistas que
cobrimos a transição da Espanha para a democracia usávamos "El País" como ponto de
partida das pautas e seus jornalistas como fontes de consulta
inescapáveis.
Por isso mesmo o jornal e a
empresa que o edita acabaram
associados à transição da Espanha para a democracia e à modernização do país, que se tornou fulgurante a partir da entrada na Comunidade Européia, em 1986.
Não é, portanto, elogio em
boca própria o que escreveu
ontem Juan Luis Cebrián, o
conselheiro-delegado da presidência e o mais freqüente interlocutor de Jesús de Polanco:
"Polanco costumava insistir na
peculiaridade da Prisa como
grupo de empresas. Seu objetivo, como o de qualquer outra
atividade produtiva, é ganhar
dinheiro, mas suas motivações
são mais amplas e essenciais.
"El País" nasceu para contribuir
com a construção da democracia e com a modernização social da Espanha. É algo que ele
sempre teve muito claro e não
deixou de recordar em intervenções públicas e privadas".
Sua visão do papel e do poder
da imprensa é lembrada pelo
atual diretor do jornal, Javier
Moreno: "A imprensa é mais
um limite social à arbitrariedade e ao abuso de poder do que
um poder em si mesma".
Polanco morreu no sábado,
aos 77 anos de idade, de complicações de um antiga doença das
articulações, que geraram uma
pneumonia da qual não se recuperou.
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