São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2007

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Morre publisher do espanhol "El País"

Polanco presidia o principal jornal da Espanha e comandava rede de mídia presente em mais de 22 países

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Foi sepultado ontem em Madri o corpo de Jesús de Polanco, o mais importante empresário da comunicação em espanhol, presidente do jornal "El País", o de maior difusão na Espanha.
"El País" era a jóia da coroa do grupo Prisa, comandado por Polanco, hoje presente em 22 países, com rádio, mídia impressa, TV, internet e conteúdos culturais.
Não parece exagero dizer que se trata do grupo mais influente não só na Espanha mas também em todo o mundo de fala espanhola, em especial na América Latina.
Toda essa potência não fazia Jesús de Polanco intitular-se mais do que "um vendedor de livros". Certamente porque começou como empreendedor na Editora Santillana, criada em 1958.
Em 1975, no ocaso da ditadura de Francisco Franco na Espanha, teve a ousadia de pôr dinheiro do próprio bolso até para comprar as rotativas do jornal que, com extraordinária rapidez, se transformaria em referência de jornalismo de qualidade. Todos os jornalistas que cobrimos a transição da Espanha para a democracia usávamos "El País" como ponto de partida das pautas e seus jornalistas como fontes de consulta inescapáveis.
Por isso mesmo o jornal e a empresa que o edita acabaram associados à transição da Espanha para a democracia e à modernização do país, que se tornou fulgurante a partir da entrada na Comunidade Européia, em 1986.
Não é, portanto, elogio em boca própria o que escreveu ontem Juan Luis Cebrián, o conselheiro-delegado da presidência e o mais freqüente interlocutor de Jesús de Polanco: "Polanco costumava insistir na peculiaridade da Prisa como grupo de empresas. Seu objetivo, como o de qualquer outra atividade produtiva, é ganhar dinheiro, mas suas motivações são mais amplas e essenciais. "El País" nasceu para contribuir com a construção da democracia e com a modernização social da Espanha. É algo que ele sempre teve muito claro e não deixou de recordar em intervenções públicas e privadas".
Sua visão do papel e do poder da imprensa é lembrada pelo atual diretor do jornal, Javier Moreno: "A imprensa é mais um limite social à arbitrariedade e ao abuso de poder do que um poder em si mesma".
Polanco morreu no sábado, aos 77 anos de idade, de complicações de um antiga doença das articulações, que geraram uma pneumonia da qual não se recuperou.


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