São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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COLÔMBIA

Civis receberão treinamento militar para atuar contra grupos armados; Farc rejeitam mediação das Nações Unidas

Governo Uribe recruta 20 mil camponeses


DA REDAÇÃO

O governo colombiano anunciou ontem um plano para incorporar 20 mil camponeses às Forças Armadas para ajudar no combate aos grupos armados ilegais.
O anúncio ocorreu ao mesmo tempo em que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal guerrilha do país, rechaçaram em carta aberta uma proposta do presidente Álvaro Uribe de mediação de um eventual diálogo pela Organização das Nações Unidas.
Segundo a ministra da Defesa, Marta Lucía Ramírez, os camponeses receberão treinamento militar, armamentos e um pequeno salário financiado por um imposto de 1,2% sobre grandes patrimônios, instituído há duas semanas. O recrutamento deve ser concluído até o fim do ano. Ramírez anunciou ainda a incorporação de mais 40 mil soldados regulares. A força pública colombiana conta hoje com 280 mil homens.
Durante sua campanha à Presidência, Uribe propôs a criação de um grupo de 1 milhão de civis informantes das Forças Armadas para o combate às guerrilhas de esquerda e aos paramilitares de direita, mas negou que pretendesse armá-los. A proposta é criticada por opositores e grupos de defesa dos direitos humanos, que argumentam que o plano ameaça transformar civis neutros em novos alvos dos grupos armados.
"Em termos legais, isso significa transformar essas pessoas em combatentes", afirmou o especialista em direitos humanos Arturo Carrillo, da Universidade Columbia, de Nova York. "As Farc podem ganhar argumentos para ir atrás dessas pessoas."
Uribe tomou posse no último dia 7, em meio a um ataque com morteiros atribuído às Farc que deixou ao menos 21 mortos e mais de 60 feridos em Bogotá. Apesar do ataque durante a posse, Uribe reiterou sua proposta para que as Nações Unidas atuassem como intermediárias num eventual novo processo de paz.
As Farc, que já haviam rejeitado essa mediação num comunicado há duas semanas, voltaram ontem a rechaçar a proposta em uma carta a Uribe, na qual também reiteram suas condições para um futuro diálogo. A guerrilha marxista afirma na mensagem que mantém boas relações com a ONU, mas que seu interlocutor deve ser somente o governo.
"[A mediação da ONU seria] como se o conflito social e armado que sofre a Colômbia por cerca de quatro décadas fosse entre a ONU e a insurgência colombiana, não entre a insurgência e o Estado colombiano", diz a mensagem.
Os guerrilheiros criticam ainda o discurso do presidente. "Seu discurso sempre tem sido o mesmo: guerra total, na qual só se oferece à insurgência a força bélica do Estado para submetê-la por meio das armas."
As Farc repetiram na carta o texto de um comunicado divulgado em 15 de maio, alguns dias antes da eleição presidencial, no qual impunha três condições para um eventual diálogo: que deixem de ser chamadas de "terroristas" ou "narcoterroristas", que o Estado combata os paramilitares de direita e o estabelecimento de uma zona desmilitarizada ao sul do país compreendendo os Departamentos (Estados) de Putumayo e Caquetá.
Durante o processo de paz realizado no governo de Andrés Pastrana (1998-2002), o governo concedeu às Farc o controle de uma zona de 42 mil km2 ao sul do país, condição para o início do diálogo. A desmilitarização foi um dos pontos mais criticados do processo, rompido em fevereiro. A região exigida agora pelas Farc é quase três vezes maior, além de incluir parte das fronteiras do país com Equador e Peru.
Para os analistas colombianos, o cumprimento dessa exigência seria impossível hoje, pelo rechaço da opinião pública. O governo exige um cessar-fogo como condição para iniciar o diálogo.


Com agências internacionais

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