|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VENEZUELA
Para Rangel, acordo é impossível porque a oposição é "pura sucata"
Chávez não aceita coalizão, diz vice
JUAN JESÚS AZNÁREZ
DO EL PAÍS, EM CARACAS
Um novo golpe de Estado na Venezuela seria impossível, na opinião do vice-presidente do país, José Vicente Rangel, 73. Isso porque, segundo ele, a oposição perdeu força após o golpe de abril, uma greve com tempo indeterminado não seria acatada e a maioria dos militares e os EUA rechaçam uma nova aventura.
"A estrutura golpista ficou desmantelada", afirma Rangel. Ele
rejeita também a formação de um
governo de coalizão para tirar o
país da crise. "Isso não está planejado, entre outras coisas, porque
aqui temos uma oposição deplorável, pura sucata", diz.
Ao comentar a decisão do Supremo Tribunal de Justiça que negou o julgamento, na semana passada, de quatro militares acusados pelo golpe que tirou Hugo
Chávez da Presidência por dois
dias, em abril, Rangel afirma: "Algumas pessoas pretendem agora
continuar o golpe através da administração da Justiça, que é a
pior coisa que pode acontecer em
uma nação".
Rangel acompanha Chávez desde a campanha para sua primeira
eleição presidencial, em 1998, e já
ocupou os cargos de ministro das
Relações Exteriores e da Defesa.
Pergunta - Um governo de coalizão é possível na Venezuela?
José Vicente Rangel - Não está
planejado. Entre outras coisas,
porque aqui temos uma oposição
deplorável. Como uma piada,
mas que não é piada, pode-se dizer que, se o governo é ruim, a
oposição é pior. É um saco de gatos, brigando entre si todos os
dias, porque estão pensando em
quem vai ser candidato. Quem
dera tivéssemos uma oposição
com senso de responsabilidade.
Pergunta - Quer dizer que não há
interlocutores?
Rangel - Não temos. É um dos
dramas deste país. Um governo
sem interlocutores. Estão convencidos de que Chávez vai cair no
dia seguinte.
Pergunta - A reconciliação, a julgar pela nova confrontação, parece
impossível.
Rangel - Eu tenho outra visão.
Entendo que, para os meios de comunicação, a notícia é o enfrentamento, não o diálogo. E temos de
assumir essa realidade, mas eu
acho que estamos avançando bastante no diálogo com os diferentes setores sociais e econômicos
através da Comissão Presidencial
para o Diálogo.
Pergunta - Os líderes dos sindicatos de empresários e de trabalhadores não vão às reuniões.
Rangel - Os líderes não vão, mas
a base vai.
Pergunta - Há divisões entre as
organizações sindicais?
Rangel - Sim, verticais e horizontais. O que isso indica? Por
que eles não fazem uma nova greve? Não têm força. Se tivessem, já
teriam feito. Perderam força. Isso
se nota nas manifestações. Cansaram as pessoas. Não têm saída,
não têm alternativas.
Pergunta - Dizem que a solução
passa pela saída de Chávez.
Rangel - A única proposta é a
saída de Chávez, e isso não é um
programa.
Pergunta - Boa parte da oposição
pede intervenção militar.
Rangel - Isso indica desespero.
Eles acreditam que os militares
irão resolver o problema. Os militares já se expuseram com o golpe
de 11 de abril. Falei com muitos
militares que estiveram comprometidos com o golpe. Não esqueça de que eu era ministro da Defesa. Disseram-me que não voltarão
a embarcar numa aventura desse
tipo, na qual jogam suas carreiras,
para que os civis, depois, fujam
para o exterior.
Pergunta - Não pode vir outro
golpe?
Rangel - Pode escrever: não haverá mais golpes.
Pergunta - Que garantias o sr.
tem?
Rangel - Primeiro, eles não têm
apoio militar. A estrutura golpista
ficou desmantelada. Segundo,
não eles não têm força popular.
Terceiro, eles não têm um elemento-chave para um golpe, que
é o apoio dos EUA. Os EUA já fizeram reiteradas declarações de
apoio à democracia venezuelana e
alertaram contra qualquer golpe.
Pergunta - Antes de 11 de abril os
EUA também fizeram esse alerta.
Rangel - Mas agora eles fizeram
de maneira mais concreta.
Pergunta - De acordo com sua
análise, a oposição perdeu quase
tudo.
Rangel - À oposição resta uma
projeção midiática, que é a que incide neste momento, porque algumas TVs e alguns jornais mantêm uma postura praticamente irracional.
Pergunta - O governo não atuou
contra as empresas jornalísticas?
Rangel - Absolutamente não.
Atuou contra negócios particulares de donos dessas empresas.
Não acho que haja na Terra um
país com mais liberdade de expressão que este.
Texto Anterior: Guerrilheiros são acusados de usar armas químicas Próximo Texto: Frases Índice
|